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Que a Carvoeira existe, existe. Mas não da maneira como a maioria pensa. Moradores, imobiliárias e até vereadores que elaboram leis nomeando ruas referem-se a ela como “bairro”, mas, oficialmente, a Carvoeira não é bairro. É localidade.

A confusão aumenta porque existe até uma linha de ônibus – ou melhor, duas, já que uma dá a volta ao Maciço do Morro da Cruz saindo pela baía Sul, e a outra, pela baía Norte – com o nome da localidade.

“Eu sempre achei que fosse bairro. Quando a minha patroa me deu indicação de onde era a casa dela, disse que era na Carvoeira”, conta a empregada doméstica Ana Mota. Ela trabalha há oito anos na casa de uma professora na Carvoeira, em uma rua cuja placa indica o bairro como Saco dos Limões.

Ana relata que as correspondências chegam até a casa da patroa com o nome da rua e a indicação de duas localidades: Saco dos Limões e Carvoeira. O aposentado João Manuel Geremias, morador da rua Capitão Romualdo de Barros “há mais de cinqüenta anos”, diz que nunca teve problemas por causa das definições oficial e popular sobre o nome da região. “Os carteiros já sabem que a Romualdo de Barros fica no Saco dos Limões.”

A região da Carvoeira é cortada por três vias principais. Cada uma, com suas transversais, é registrada pela Prefeitura como pertencente a um bairro diferente, como indicam as placas de sinalização. A rua Capitão Romualdo de Barros fica com o Saco dos Limões. A avenida César Seara é do Pantanal. E a rua Desembargador Vítor Lima, da Trindade.

Antigamente, porém, a região conhecida como Carvoeira é onde hoje fica a rua Capitão Romualdo de Barros, que liga o Saco dos Limões à Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Era apenas uma via estreita e de barro, como lembra a aposentada Olga Dias, há 42 anos vivendo na região. Quando ela foi morar na localidade, não havia ligação à rede de água. Os habitantes iam até uma bica e um poço na descida da rua para buscar água com baldes. “Banho a gente tomava de bacia”, recorda Olga.

A instalação da rede de água foi paga pelos próprios moradores, segundo João Geremias. “Nós que compramos os equipamentos, e o governo deu a mão-de-obra. No início, tinha só duas torneiras na rua. Era uma briga”, recorda.

Antes do calçamento, o movimento era pequeno. “Passavam uns dois ou três carros por dia”, lembra Geremias. As casas também eram poucas, dando à região uma configuração bem diferente da atual, cheia de prédios.

Foi após a instalação da universidade que a comunidade mudou. “Depois que colocaram a universidade e os prédios aqui, não faltou mais água, mais nada”, conta Olga Dias.

Plano Diretor deve rever nome do lugar

O nome Carvoeira já era associado à região quando Olga e Geremias foram morar ali, mas eles não sabem ao certo o motivo. Segundo o historiador e museólogo Gelci José Coelho, o Peninha, a provável origem vem de uma carvoaria instalada na localidade para abastecer a draga que trabalhou no aterro da baía Sul, no Centro. O carvão era produzido com madeira de diversas áreas da cidade.

Os antigos moradores, segundo Peninha, eram em sua maioria escravos libertos. “Eles recebiam a alforria e, como não podiam ficar na casa dos senhores, ocupavam terras devolutas em lugares altos e afastados”, diz. A região também já serviu, de acordo com ele, como fazenda-modelo. O terreno onde hoje fica o Museu Universitário da UFSC, dirigido pelo historiador e museólogo, recebia uma estrebaria.

A diretora de planejamento do Instituto de Planejamento Urbano de Florianópolis (Ipuf), Jeanine Tavares, explica que a formação e reconhecimento dos bairros precisa seguir critérios históricos, geográficos e de ocupação social. Segundo ela, a Carvoeira teve maior ocupação recentemente e, talvez, até merece o status de bairro.

A delimitação dos bairros é um dos temas que fazem parte das discussões do Plano Diretor Participativo de Florianópolis. No Distrito Sede (Centro e Continente), existe legislação que define os limites de cada um, mas isso não impede a criação de novos. Nos outros 11 distritos não há uma definição oficial. “Às vezes, o conceito de confunde-se com o de localidade e um bairro acaba invadido o outro. Isso vai ser disciplinado agora”, comenta Jeanine.

(Felipe Silva, A Notícia, 03/08/2007)

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