Da Coluna de Renato Igor (NSC, 01/02/2022)
As discussões sobre as mudanças no Plano Diretor (PD) de Florianópolis são um reflexo do Brasil de hoje: polarizadas. Pouco se discute o conteúdo. O debate está no entorno do formato de discussão e, quando entra-se superficialmente no texto, resume-se a qual o limite de andares dos prédios. Ou seja, acaba virando um debate infantil cuja ideia é garantir aplausos fáceis ou “likes’.
O arquiteto e urbanista, especialista em planejamento urbano, Ângelo Marcos Arruda, acredita que a Ilha de Santa Catarina pode ter até 957 mil habitantes, o que deve ocorrer em 60 anos, em 2082.
“Temos muito tempo pra planejar tudo isso e manter intocável as áreas ambientais e urbanizar aquelas que tem condições de serem usadas com toda a infraestrutura necessária”, afirma. Arruda defende os ajustes no PD e o adensamento populacional com critérios, em pontos específicos e com a infraestrutura adequada.
Essa deve ser uma semana decisiva. A prefeitura de Florianópolis e o Ministério Público buscam um acordo para definição de um cronograma das audiências públicas, suspensas por decisão judicial.
O executivo municipal afirma que o ajuste no PD é necessário para estimular as construções sociais e buscar a formalização dos empreendimentos menores. Mapas não serão alterados, mas se permite uma maior verticalização em alguns bairros, como forma de estimular as centralidades e fazer com que a cidade não esteja tão espalhada, viabilizando, assim, os serviços públicos.
Leia o artigo do arquiteto Ângelo Arruda:
As redes sociais estão movimentadas nos últimos meses com a discussão de ajustes em artigos do Plano Diretor em vigor e aqui e ali surgem colegas colocando suas posições: adensar ou não? Verticalizar ou não? Quais os limites disso tudo? É bom? Não é? A comunidade quer que tudo fique como está, entretanto, uma cidade é um organismo vivo e dinâmico que opera dia a dia mediante um conjunto enorme de fatores. Sendo assim vou colocar alguns dados para ajudar a pensar Floripa. E a discussão que trago está aqui no título do artigo: a ilha precisa ter limites definidos em lei para que todos saibam o que pode acontecer e planejar desde já.
A palavra chave é adensamento populacional e para tanto vamos colocar alguns dados.
A densidade urbana quando se mistura o uso residencial e o comercial e de serviços provoca um impacto visual gigantesco, com a imagem de inúmeros edifícios, temos de nos precaver com relação aos problemas urbanos dele decorrentes. O reconhecimento do espaço residencial, em que se desenvolve grande parte do cotidiano dos moradores de uma cidade, como tema central na questão da qualidade do espaço construído, é essencial nessa discussão. Na conformação do espaço residencial identificam-se três grandes componentes, ou campos de análise: a moradia propriamente dita; a infraestrutura, serviços e equipamentos urbanos; e o entorno ou paisagem.
Finalmente, para adensar uma cidade como Florianópolis, que tem uma área total de 435 km2 mas que somente 31,9 km2 podem ser usados ou seja a área urbana total, de acordo com o IPUF, se colocarmos 300 hab/ha (essa é uma taxa média aceita pela maioria dos teóricos do tema no mundo, especialmente pelo engenheiro Juan Mascaró) nos dá uma população estimada de densidade bruta de 957.000 habitantes e, portanto, essa é a população meta, ou seja, todas as medidas urbanísticas precisam focar esse número.
Essa densidade é excelente para a vida urbana, os serviços públicos e a infraestrutura e, portanto, a tal capacidade de suporte que tanto se fala por aqui. Ou seja, como temos 500.973 habitantes, temos de planejar para mais 456 mil habitantes e aí atingiremos o grau funcional de excelência urbana, de acordo com todos os teóricos aqui comentados.
Esse é o limite que a ilha suporta e somente será possível acontecer, segundo meus cálculos estimando o crescimento da população, em 2082, ou seja daqui há 60 anos. Temos muito tempo pra planejar tudo isso e manter intocável as áreas ambientais e urbanizar aquelas que tem condições de serem usadas com toda a infraestrutura necessária.
Esse é um ponto para a discussão do nosso futuro. E não se consegue com radicalização mas com inteligência e discussão aberta.
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