Da Coluna de Estela Benetti (NSC, 10/04/2020)
Ao mesmo tempo em que enfrenta a crise econômica do coronavírus que vem causando desemprego e redução de salários, o consumidor de Santa Catarina está tendo que pagar mais caro parte dos alimentos básicos que consome todo dia. Algumas altas envolveram até ações do Procom e do Ministério Público Estadual para explicar e evitar majorações maiores. O presidente da Associação Catarinense de Supermercados (Acats), Paulo César Lopes, explica que as principais razões dos aumentos são problemas climáticos, entressafra e dólar alto. Há também influência do isolamento social.
Dados apurados pela Acats na primeira semana deste mês apontaram alta média de 5% no preço do arroz, 25% do feijão preto, 7% do trigo, 10% do leite em pó, 5% do óleo de soja e 8% no preço do café. Isto sem falar no preço do leite longa vida, que no último mês ficou, em média, 35% mais caro. Conforme Lopes, o setor supermercadista enfrentou um pico de vendas no início do isolamento social e logo após ocorreu uma retração média de 10% nas vendas, média que tem se mantido.
A alta de preço de parte dos alimentos também está sendo registrada pelos pesquisadores do Índice de Custo de Vida de Florianópolis, calculado pela Esag-Udesc. Os levantamentos feitos até esta quinta-feira (09-03) mostram que na comparação com a última semana de março, diversos produtos tiveram aumentos, adiantou para a coluna o coordenador do índice, Hercílio Fernandes. Segundo ele, o arroz teve alta média de 4,81%, o feijão preto subiu 22%, as farinhas de trigo e de mandioca tiveram preços estáveis, a cebola subiu 40% e a batata inglesa 4%.
Carnes caem, ovos sobem
O levantamento da Udesc apurou também que algumas carnes tiveram queda de preço e outras ficaram estáveis. O contra-filé bovino teve redução de 1,7% e sobrecoxa de frango caiu 3%. Em contrapartida, os ovos subiram 6,74%, em alguns casos com alta de até 13%. Tanto a variação das carnes, quanto de ovos têm ligação com o isolamento social do coronavírus. A carne bovina teve queda de vendas tanto no mercado interno, quanto no mercado externo em função da pandemia, a carne de frango segue, em geral, com preços e vendas estáveis, e a carne suína está com vendas em queda no mercado interno. Os ovos estão ficando mais caros porque muita gente está optando por uma fonte de proteína mais barata e mais prática.
Hercílio Fernandes, da Udesc, apurou que o aumento expressivo do preço do feijão no Brasil ocorre porque as duas principais regiões produtoras, o Sudeste e o Centro-Oeste do Brasil, enfrentaram falta de chuvas na fase do plantio e excesso de chuvas na colheita. E no caso do arroz, o presidente da Acats, Paulo César Lopes, explica que as razões principais do aumento são a seca no Sul, que atinge o Rio Grande do Sul e Santa Catarina – os estados que lideram a produção – e também um maior volume de exportações. O preço do produto no mercado nacional chegou a aumentar até 10%.
Razões da alta do leite
A maior polêmica em SC ocorreu com a alta do leite longa vida, o de caixinha, porque as indústrias chegaram praticar aumento médio de 50%, informou o presidente da Acats. O Procom reclamou, o Ministério Público exigiu explicações e, no fim, o reajuste médio ficou em 35%. Mas essa alta expressiva teve uma série de motivos, conforme explica o presidente do Sindicato da Indústria de Laticícinios e Derivados do Estado de Santa Catarina, Valter Brandalise. A entressafra começou em outubro e desde aquele mês houve queda na produção de 22% na Região Sul. Dessa retração, até 7% é impacto da seca que atinge a região. Além disso, as indústrias passaram a produzir menos o leite longa vida porque o preço vinha muito baixo há mais de um ano, sem oferecer margens adequadas, tanto para o produtor do campo quanto para os laticínios.
Conforme o presidente do Sindileite-SC, os custos de produção também estão elevados, “sofreram uma avalanche”. A alimentação animal ficou mais cara porque o preço do milho acumula em um ano aumento de 44% e o da soja, 21,4% em função da exportação. As embalagens têm o impacto do dólar, que supera R$ 5 e acumula alta de 27% no ano. E o transporte ficou mais caro porque com a queda da atividade econômica em função do coronavírus, a indústria do leite precisa pagar a ida e a volta dos fretes até os centros de consumo em função da falta de outras cargas para retornar. Conforme Brandalise, o preço ao consumidor seguirá mais caro, mas ficará estável com o fim da entressafra.
Chocolates para Páscoa
Os produtos de chocolate para a Páscoa, especialmente ovos, foram adquiridos por supermercados e lojas com preço médio 2% mais caro frente ao mesmo período do ano anterior. Mas esse segmento está sendo um dos mais afetados em função do isolamento social para enfrentar o coronavirus. A expectativa é de que os preços de ovos de chocolate caiam ainda nesta fase de vendas antes da Páscoa e, depois, sejam oferecidos em liquidações, com preços bem menores, a exemplo de anos anteriores. Em SC, alguns estabelecimentos, como shoppings e supermercados, estão oferecendo esses itens em Drive Thru nos estacionamentos.
É bom lembrar sempre ao consumidor que, se for a algum estabelecimento comprar produtos para a Páscoa, saia de casa com máscara, leve álcool gel ou outro produto para higienizar as mãos e mantenha a distância de segurança de um metro e meio ou dois metros de outras pessoas. O isolamento é o melhor remédio para evitar a doença Covid-19.
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