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Rendeira, um símbolo de resistência cultural em Florianópolis

Da Coluna de Carlos Damião (ND, 15/10/2017)

Hoje não tem cantoria

Nem vai ter boi de mamão

Renda em dobro pra Maria

Que é rendeira da Lagoa da Conceição

Lagoa da Conceição, Lagoa da Conceição

“Lagoa da Conceição”, Orlando Carlos da Silveira Mello (Neco)

Lagoa da Conceição, Armação, Ribeirão da Ilha, Rio Tavares, Campeche, Canasvieiras, Jurerê, Sambaqui, são localidades da Ilha de Santa Catarina nas quais a arte da renda de bilro resiste heroicamente à passagem do tempo e às mudanças culturais. À rendeira é dedicado um dia especial, o 21 de outubro, conforme lei municipal. Nesta segunda (16) começa a Semana da Rendeira, realização da Fundação Cultural de Florianópolis Franklin Cascaes, Secretaria Municipal de Cultura, Esporte e Juventude, em parceria com Casa dos Açores de Santa Catarina, Udesc/Ceart – Departamento de Moda e Associação de Contadores de Histórias.

Figura icônica da cidade, imortalizada nos versos de Neco e de Zininho (“Rancho do Amor à Ilha”), a rendeira é um personagem histórico: ela se incorporou ao cenário local a partir da chegada dos açorianos, na segunda metade do século 18. A arte foi passada de geração a geração durante mais de 250 anos.

Nas décadas de 1960 e 1970 ela ilustrava os folhetos turísticos e os filmes promocionais do Estado como atração típica. À época, os produtos do artesanato eram comercializados por preços simbólicos, valores que garantiam a sobrevivência pessoal ou engrossavam o orçamento doméstico. Hoje valorizadas com um espaço no Mercado Público, as populares Rendeiras da Ilha se espalhavam pelas calçadas do Centro para vender seus produtos. Os moradores mais velhos com certeza lembram que um dos pontos favoritos era a área da agência central da Caixa Econômica Federal, antigo Hotel La Porta, na Rua Conselheiro Mafra. E a presença delas na Lagoa, tão antiga e tão marcante, fez com que a avenida principal do bairro ganhasse o nome de Avenida das Rendeiras, porque era lá que grande parte das artesãs se concentrava, à espera dos visitantes.

Alto valor agregado

Historicamente, as mulheres se dedicavam a confeccionar suas rendas enquanto os pais ou maridos se ocupavam da pesca. A cidade mudou muito nos últimos 50 anos e, o que era um meio de sobrevivência ou complementação de renda, vem se transformando numa atividade econômica mais rentável, de alto valor agregado. “Por considerar a atividade um referencial simbólico de grande valor histórico e cultural para o município, a Fundação Cultural de Florianópolis Franklin Cascaes tem atuado desde a década de 1990 para fomentar ações de valorização, proteção e fortalecimento desse artesanato tradicional”, diz a superintendente da entidade, professora Roseli Pereira.

Ele destaca ainda “as oficinas promovidas para o repasse de saberes, reconhecendo as rendeiras como mestras populares e detentoras do conhecimento desse ofício. Também foram criados centros de referência para a produção e comercialização desse artesanato, paralelamente ao incentivo dado à organização de grupos produtores e de convívio social”.

A promoção de exposições artísticas e o apoio à publicação de livros sobre o tema foram outras medidas adotadas pelo poder público, “assim como a realização de parcerias com diversas instituições para fazer um mapeamento detalhado da produção rendeira em Florianópolis. Esse levantamento resultou na identificação de mais de 350 rendeiras ainda em plena atividade no município”, finaliza Roseli Pereira.

Programação criativa

A Semana da Rendeira (de 16 a 21) terá Oficinas de Renda de Bilro (Moda e Economia Criativa e Desenhar Piques), Projeto Mãos que Tecem Histórias, Exposição Entre Rendas e Fantasias, Encontro de Rendeiras e Ratoeiras, Projeto Intergeracional (Mãos que Ensinam Mãos) e Tarde Festiva são os eventos programados em diferentes pontos da cidade, como Lagoa, Armação do Pântano do Sul, Mercado Público, Praça 15 de Novembro e Catedral Metropolitana.

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