Quem mora no Estreito, na área continental de Florianópolis, já conhece a história do famoso elefante branco da Escola de Educação Básica Irineu Bornhausen. Em 2006, foi construída uma piscina semiolímpica, de 25 metros de comprimento, com o objetivo de ofertar aulas de natação para alunos e comunidade. A ideia que parecia boa no início — apesar de a comunidade local nunca ter pedido uma piscina para a escola — foi morrendo rápido. Há quase dez anos que estrutura não é utilizada. O plano da Secretaria Estadual de Educação agora é aterrar o investimento — que custou, na época, quase meio milhão de reais, segundo a Associação de Moradores Amigos do Estreito.
O assunto já foi tratado pela Hora em anos anteriores, e desde então, nada mudou na Irineu Bornhausen. A única diferença é que a piscina foi esvaziada para cessar os gastos com manutenção e água, e para evitar o surgimento de focos de mosquito da dengue, explica a diretora do colégio, Luciane Neves. Uma vez por semana, conta ela, um apenado que trabalha na escola também limpa o local, e a cada três meses, a piscina é lavada com um lava-jato, para retirar o limo.
— Tivemos que esvaziar a piscina porque não tínhamos como fazer a manutenção. Tínhamos uma conta de aproximadamente R$ 10 mil por mês com água, e gastos com cloro e produtos. Como eu sou bióloga, também notei que a água parada poderia trazer riscos de doenças para as crianças — contou a diretora.
Segundo Luciane, a piscina foi usada logo que ficou pronta, entre 2006 e 2007, mas somente por dois meses: novembro, quando já estava quente, e em fevereiro, quando os alunos retornavam das férias e ainda estava calor. Nos demais meses do ano, por causa do frio, e piscina ficava desativada. A falta de profissionais para atender as crianças também foi uma das razões para que projeto corresse água abaixo.
— Na época, quando assumi a direção, o meu plano era ir atrás de parcerias para fazermos então uma cobertura e transformar a piscina em térmica. Mas em reuniões com pais e comunidade, eles decidiram que não queriam a piscina, por uma questão de preocupação com os riscos — explicou a diretora.
Investimento sem retorno
O presidente da Associação de Moradores Amigos do Estreito, Édio Fernandes, o Jajá, acompanha a novela desde o início e lembra que ninguém queria a piscina na época de sua construção, mas mesmo assim ela foi viabilizada. Segundo ele, somente a piscina recebeu um investimento de R$ 450 mil. Na época que o projeto foi lançado, a então Secretaria de Desenvolvimento Regional de Florianópolis divulgou o valor de R$ 782.548,95 para a piscina, construção de quadras e novos banheiros.
— A piscina foi construída de qualquer jeito. Destruíram, naquela vez, oito salas de aula. Ela precisava ter uma cobertura e ser térmica para o projeto funcionar. Não tem profissionais suficientes para olhar as crianças, não tem banheiro perto e nem sequer uma ducha do lado da piscina para os alunos usarem — lamenta Jajá.
O Sindicato dos Trabalhadores em Educação na Rede Pública de Ensino do Estado de SC (Sinte) também acompanha o caso e lamenta a má administração das verbas públicas.
— A piscina hoje representa um elefante branco do investimento com a educação catarinense — comentou a representante do Sinte regional, Vanessa Fernandes de Souza Cunha.
Em 2013, o Tribunal de Contas do Estado (TCE/SC) também realizou uma auditoria em seis escolas de Florianópolis e apontou que a piscina da Irineu Bornhausen foi uma “obra executada sem necessários estudos técnicos”.
Quadra ou área cultural
Em reuniões entre comunidade, Associação de Pais e Professores (APP) e conselho deliberativo, foi pedida, em um primeiro momento, a viabilização de uma quadra coberta e sintética no lugar da piscina. Na época, a Secretaria de Educação, lembra a diretora, disse não ter dinheiro suficiente para a obra. Foi oferecido então apenas o fechamento da piscina. Mas sem um projeto novo para o local, a comunidade não aceitou a proposta.
Com uma nova direção da APP e novas reuniões neste ano, em maio, revela Luciane, foi também sugerido um plano B: a criação de um espaço para cultura e eventos. A comunidade agora aguarda uma posição da SED.
O que diz a SED
Em resposta à Hora, a SED confirmou que não há mais planos de colocar a piscina para funcionar e disse que atualmente, a escola não possui gastos para manter a estrutura. Os 480 estudantes também não teriam acesso à área, pois “o espaço se encontra cercado e com supervisão dos professores”.
A Secretaria de Estado da Educação ainda afirmou, em nota, que “já está com um processo de licitação em andamento para realizar o aterramento da piscina da EEB Irineu Bornhausen. O edital de licitação deve ser lançado neste segundo semestre, contando também com a revitalização da cobertura da escola e reformas de acessibilidade. O uso e aterramento do espaço já foram acordados por meio de reunião com a comunidade, que concordou em uma utilização futura do local para a prática de esportes. Um segundo projeto de reforma mais ampla da estrutura está em processo de aprovação com os órgãos reguladores contando então com os planos para a quadra de esportes que será implantada no local da piscina”, informou o órgão.
(DC, 28/07/2017)
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