“Interesse escuso – Boa parte, não a maioria, dos líderes de movimentos sociais que se opõem à pretensão do prefeito Dário Berger de mandar, em 90 dias, para a Câmara de Vereadores, o Plano Diretor Participativo, não revela publicamente o real motivo. A verdade é que alguns querem mesmo é a politização político-partidária, ou seja, empurrar o processo para mais adiante, visando a faturar sobre ele nas próximas eleições municipais, nem que isso custe muito caro à cidade.
Do começo de 2007 até agora, quando a atualização do PD foi aberta, envolveram-se mais de 200 entidades e foram feitas mais de 1,2 mil reuniões técnicas e comunitárias e 33 audiências públicas. Foi discutidíssimo.”
Com a nota acima, publicada na coluna de 15 de março, Cacau Menezes perpetrou um violento e merecido chute no rim dos autodenominados “movimentos sociais” que, passadas as férias de verão, voltam à sua militância raivosa contra a definição de um novo Plano Diretor para a cidade. O mesmo oposicionismo inconsequente que trancou o PD em administrações anteriores.
Ao longo de todo o período dedicado ao que convencionou-se chamar de “leituras comunitárias” do Plano Diretor, o Jornal Ilha Capital publicou textos contundentes sobre o que acontecia dentro do Núcleo Gestor: os desmandos e fraudes nas tentativas de comandar as atividades, por parte do grupo que é o braço militante dos partidos esquerdistas da cidade, camuflados sob codinomes de “movimentos sociais” e “sociedade civil organizada”. Os mesmos de sempre, que laboram aberta e impunemente em uma revolução socialista para a implantação do comunismo no Brasil e para a cubanização da Ilha de Santa Catarina (não mais pela luta armada, mas pela via da dominação cultural politicamente correta, do pobrismo e do coitadismo jogado para as massas). Um monumental estelionato político-ideológico, em que a lábia gramscista de uma minoria conclama a maioria tão distraída para a busca incansável de “um outro mundo possível” mas, por debaixo dos panos, vai conduzindo a manada para o inferno do totalitarismo.
Nesse sentido, faça-se justiça ao ex-coordenador Ildo Rosa e à equipe dos funcionários de carreira do Ipuf. Em 2006 os valentes sentaram em cima do rojão, nunca entregaram a rapadura – embora em muitos momentos aparentassem estar fazendo isso, no que foram intensamente criticados – e dois anos depois repassaram a Dário Berger a leitura comunitária possível, que o terrorismo dos xiitas aparelhados no Núcleo Gestor permitiu que fosse feita. Em razoável parte dos Distritos – é bom que se diga – essa “leitura” foi totalmente comandada por eles, na base de um agressivo stalinismo de resultados. E ainda não está bom?
O “participativismo” foi cumprido e está encerrado porque – simples assim – “participação popular” é uma coisa e “governo popular” é outra coisa bem diferente. Daqui para a frente, o trabalho é técnico (no Executivo) e político (no Legislativo): a nossa democracia é representativa, doa a quem doer.
Por outro lado, se os “movimentos sociais” e a “sociedade civil organizada” realmente soubessem mais do que os outros o que é melhor para Floripa, a cidade não estaria como está. Porque há décadas o povo vai ocupando os espaços na base da “participação popular”, à revelia do Plano Diretor que já existe e ninguém respeita (e também não vai respeitar o próximo, sejamos realistas).
Cacau foi perfeito em sua colocação: boa parte dos membros do Núcleo Gestor não está querendo resolver nada. Isso é histórico. São os mesmos que interditaram as tentativas de realizar um novo PD durante a gestão de Ângela Amin (que foi frouxa, com eles, espera-se que Berger não seja). O que essa gente quer é só engordar a poupancinha de factóides eleiçoeiros para capitalizar durante a próxima campanha. É pregação moral trajando cuecas: faça-se uma lista dos grandes líderes desse movimento e uma verificação sobre as suas condições de residência na cidade e conheceremos a verdadeira natureza de quem está querendo comandar os destinos urbanísticos de Florianópolis. E não vamos culpar a fiscalização, porque não há governo em condições de bancar um fiscal para cada quarteirão. A única função que tem restado ao Poder Público é andar correndo atrás, tentando atender demandas e suprir as carências decorrentes da ocupação desordenada. Aproveitando-se, é óbvio, para o populismo e a demagogia eleiçoeiras de sempre, que os governantes também não são de ferro…
O exemplo de Salvador – BA
Em Salvador (BA), tudo começa pelo nome. Nada de meleca ideológica de “participativismo das massas”. O Plano é: Diretor de Desenvolvimento Urbano (PDDU). Promessa de campanha do prefeito João Henrique Carneiro (PMDB). O trabalho foi encerrado em meados de 2007 e levado à votação na Câmara – onde recebeu 153 emendas – antes do recesso parlamentar. Conforme o esperado, a sessão de aprovação transcorreu entre tapas e sopapos, abraços e beijos. Normal.
Em 19 de fevereiro de 2008 João Henrique sancionou o PPDU com festa, realizada na sede da Associação Comercial da Bahia, no histórico bairro do Comércio. Vereadores da oposição, sindicalistas e a sua claque profissional arrebanhada entre integrantes de “movimentos sociais” e “sociedade civil organizada”, com fanfarras, batuques, faixas e cartazes desaforados, abacaxis, bananas e mingau, preferiram ficar do lado de fora do evento. E dias depois começou o tiroteio judicial contra o Plano.
No dia 16 de julho Ramiro Rockenbach, procurador da República na Bahia, ofereceu seu apoio em ação civil pública questionando o Plano. Os autores da ACP são a ONG Gambá – Grupo Ambientalista da Bahia (a Aliança Nativa deles), Federação dos Bairros de Salvador (a Ufeco de lá), União por Moradia Popular (que em Floripa é representada por Modesto Azevedo), mais a Associação Baiana de Imprensa (ABI), o Crea e o IAB – BA. Para esses, o Plano Diretor de Salvador “não assegura uso da propriedade urbana em prol do coletivo, nem da segurança, nem do bem-estar dos cidadãos”.
Lá como aqui, também a mídia amiga da militância esquerdista usa o método do “outroladismo” para transformar em notícia qualquer contrariedade choramingada pelo “outro lado” – o do oposicionismo irresponsável – amplificando tudo com o destaque do velho chavão em letras garrafais: “POLÊMICA NA CIDADE!”
O prefeito respondeu que o plano prioriza o incentivo à construção civil e ao comércio para gerar empregos e oportunidades em Salvador, capital nacional do desemprego: mais de 20% da mão-de-obra disponível está no “desvio”. E mandou o barco andar.
Quatro meses depois João Henrique Carneiro foi reeleito vencendo uma coligação esquerdista liderada pelo PT com 58,46% dos votos válidos.
Pois é. Como essa gente não suporta o sucesso do adversário tanto quanto a prosperidade alheia, a caravana tem que aprender a ser firme e ir passando, do jeito que der, em meio ao latido dos cães raivosos.
É o que a população de Florianópolis espera daqueles a quem elegeu para representá-la.
(Maria Aparecida Nery, Jornal Ilha Capital, 30/03/2009)
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