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Retornando dia 24 de novembro de Curitiba pude presenciar os danos e tragédias da presente enchente. Campos, lavouras e cidades alagadas. Pessoas sem casas, animais no meio da água, sem alimento e sem abrigo, alguns já mortos, veículos boiando, soterramentos, pedaços de morro caindo. Uma verdadeira tragédia. Tive muita sorte de conseguir chegar a Florianópolis.

Não pude deixar de pensar na atual proposta, em tramitação na Assembléia Legislativa, da nova “lei ambiental catarinense”. Essa lei, de iniciativa do mesmo governo que está atônito diante da tragédia catarinense, se aprovada irá piorar ainda mais os efeitos de chuvas como essa, que são fenômenos NATURAIS, e que SE REPETIRÃO no futuro.

A “nova” lei reduz a faixa de mata ciliar que deve ter nas margens dos cursos de água, libera o desmatamento, deixa de proteger fontes de água, define campos de altitude como 1.800m, o que só acontece no Morro da Igreja. Também se “aproveita a onda” para reduzir a área do Parque Estadual da Serra do Tabuleiro.

Essa legislação é o resultado da pressão de fazendeiros, fábricas de celulose, e outros interesses, apoiados na justa preocupação de pequenos agricultores que dispõe de pequenas quantidades de terra para plantio. É preciso que a atual enchente sirva de exemplo do que acontece quando agimos irresponsavelmente com a Natureza. E que deixemos interesses menores de lado e pensemos nas trágicas e caras conseqüências que estamos semeando.

Os parlamentares que votarem nessa lei que saibam da irresponsabilidade que vão cometer, que as próximas enchentes serão ainda piores, e que serão co-responsáveis pelas futuras tragédias. Assim como alguns governantes e legisladores do passado são co-responsáveis pela atual tragédia. As atuais conseqüências das chuvas seriam bem menores se a Mata Atlântica não tivesse sido tão destruída no litoral, se os rios não estivessem tão assoriados, se ainda houvesse matas nas margens dos rios e cursos de água, se a mata original das encostas não tivesse sido destruída. Na hora de fazer emprendimentos e ganhar dinheiro, as pessoas costumam esquecer das conseqüências.

Parece uma curiosa coincidência que esta enchente e tragédia venha exatamente no momento em que a Assembléia Legislativa do Estado discute justamente uma lei ambiental.

Por
: Professor Luiz Carlos Pinheiro Machado Filho, Ph.D
LETA – Laboratório de Etologia Aplicada, DZR/CCA/UFSC. Florianópolis, SC
Email: pinheiro@cca.ufsc.br

(Jornal Metropolitano, 28/11/2008)

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