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Florianópolis busca reconhecimento como polo de inovação e startups

A rodovia SC 401 é a rota que leva os visitantes de Florianópolis à praia de Canasvieiras, mas nos últimos anos seu trajeto passou a ser conhecido não só por sua função turística. Hoje, a rodovia também liga dois parques tecnológicos (Alfa e Sapiens Parque), além de uma centena de empresas desse segmento, o que lhe rendeu a alcunha de “rota da inovação”.

Eleita a cidade mais empreendedora do País pela Endeavor, Florianópolis não quer mais ser conhecia apenas como opção turística e batalha para se tornar referência nacional em tecnologia, uma indústria limpa que se tornou solução econômica para preservar a ilha de danos ecológicos que poderiam ser causados por indústrias.

O polo começou a se estruturar em 1984, com a criação da Fundação Centros de Referência em Tecnologias Inovadoras (Certi). Dois anos depois nasceu a Associação Catarinense de Empresas de Tecnologia (ACATE), que articula ações entre o setor tecnológico catarinense, centros de ensino e pesquisa e agências de financiamento. Hoje, a cidade já soma 600 empresas do setor que faturam R$ 1 bilhão por ano e crescem a uma média anual de 15%.

Na semana passada, pintores davam os últimos retoques em um galpão de 6 mil m2 nos arredores da SC 401 que servirá como novo endereço da Acate. A ideia é fazer do novo espaço uma espécie de “shopping da tecnologia”, abrigando uma incubadora e dezenas de empresas do ramo em salas alugadas. “Florianópolis tem boas universidades, pessoas criativas e um ambiente agradável para morar, o que cria um cenário propício para a inovação”, diz o presidente da Acate, Guilherme Bernard, um veterano do mercado catarinense de tecnologia.

No ano passado, ele vendeu a Reason, empresa fabricante de equipamentos no setores elétrico e industrial, para a multinacional Alstom. “O mercado de tecnologia daqui cresceu de forma espontânea. No começo, apenas pessoas com conhecimento técnico abriam negócios, mas hoje gente de todos os setores, que não sabem programar uma linha de código, criam startups”, diz.

Essa nova geração de empreendedores cresceu nos últimos cinco anos a partir do sucesso da metodologia Lean, que propõe validação ou descarte de hipóteses para criação de um novo negocio de forma ágil e com pouco investimento. O modelo popular no Vale do Silício atraiu empreendedores como Eric Santos, presidente da empresa de marketing digital Resultados Digitais (RD), hoje um dos maiores casos de sucesso de Florianópolis. Do ano passado para cá, a empresa passou de 35 para 120 funcionários e acumulou 1,6 mil clientes.

“Hoje há todo um movimento pela tecnologia na cidade. As próprias empresas estão formando novos empreendedores que chegam ao mercado como multiplicadores dessa cultura”, explica o cofundador da RD, André Siqueira. “Até porque dizem que se os formandos em engenharia não empreenderem para continuar morando aqui, eles não terão emprego porque a cidade não tem indústrias.”

Interesse

Um exemplo de empresa que nasceu na universidade é a Chaordic, criada em 2009 por dois amigos durante um mestrado sobre inteligência artificial. A companhia cria soluções de recomendação e personalização para o comércio eletrônico que são usadas por grandes varejistas como Saraiva e Ponto Frio. Atualmente a companhia ocupa um amplo escritório na Lagoa da Conceição, que emula benefícios de startups americanas como área de lazer com mesa de bilhar e salas de descanso. Segundo o diretor de operações da Chaordic, João Bosco. os catarinenses não são os únicos interessados no mercado local.

“Atraímos muitas pessoas que estão frustradas com a sua vida em grandes capitais e mudam para cá até para receber um salário menor, porque o custo de vida também é mais baixo e elas podem surfar de manhã.”

Mais recentemente, o programa Startup SC, criado pelo Sebrae, atraiu os olhares de jovens empreendedores para a cidade. Para participar do programa de capacitação que dura 13 semanas, a startup não precisa ser formalizada, mas deve ter um protótipo em funcionamento.

“O programa veio para ajudar a resolver o problemas dos profissionais que antes só tinham conhecimento técnico e não sabiam se tinham clientes. Muitas vezes a pessoa percebe já no começo do programa que precisa mudar o foco do seu produto ou fechar sua empresa e começar tudo de novo”, diz o gestor do projeto Alexandre Souza. Em dois anos, a iniciativa já apoiou 80 startups que geram 328 empregos. Desse total, 81% continuam ativas.

Atração

Um dos que foram seduzidos por Florianópolis é Victor Levy, da empresa Cata Moeda. O paulistano já trabalhou nos EUA, montou e vendeu uma empresa no País e viajou por três anos e meio ao redor do mundo como mochileiro.

Decidido a empreender, escolheu uma casa em uma rua tranquila da Lagoa da Conceição para ser a sede da CataMoeda, startup que fabrica máquinas que trocam moedas por cupons de desconto em estabelecimentos comerciais com o objetivo de estimular a circulação de moedas.

“O ambiente no Brasil é muito desfavorável para empreender, mas Florianópolis tem a vantagem da qualidade de vida, além da mão de obra custar 60% do valor de São Paulo”, diz. Outra vantagem local, segundo ele, é o surgimento de um mercado de investidores-anjo na cidade, formado por empreendedores da geração anterior que começaram a investir em startups após vender os seus negócios para grandes corporações.

É o caso de dois dos investidores iniciais da CataMoeda e do investidor inicial da Axado, uma espécie de “Buscapé dos fretes”. “O investimento inicial possibilitou que eu me dedicasse integralmente ao negócio. Em menos de um ano recebemos um outro aporte de R$ 1,2 milhão”, diz o diretor de operações Leandro Baptista.

Outro que migrou para a cidade é o brasiliense Marcos Buson da Pin My Pet, desenvolvedora de uma medalha de identificação personalizada para animais de estimação que pode ser rastreada pelo celular. “Como eu produzo hardware, morar aqui facilita porque estou perto do Porto de Itajaí”, diz Buson, que participou do programa de aceleração da americana 500 Startups, no Vale do Silício.

(Estadão, 15/03/2015)

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