O adiamento da Fenaostra (Feira Nacional da Ostra) para 23 de novembro, fora do calendário das tradicionais festas de outubro em Santa Catarina, atrasou o pico do consumo em Florianópolis e aumentou a apreensão de pequenos e médios maricultores de Florianópolis. A previsão é que a dificuldade para comercialização da safra 2012/2013 reflita em queda no preço e na introdução de produtos clandestinos no mercado nacional. Segundo projeção da Epagri (Empresa de Pesquisa Agropecuária), a produção deve ficar entre 2.300 e 2.500 toneladas até o final do verão, mantendo a média histórica de crescimento de 5% ao ano.
Um dos pioneiros na atividade em Florianópolis, o engenheiro agrônomo Fábio Farias Brognoli, sócio-gerente da Fazenda Marinha Atlântico Sul, na Costeira do Ribeirão da Ilha, está preocupado com a comercialização clandestina de produtos sem inspeção no mercado nacional. “Para fugir do prejuízo total, quem não conseguir vender aqui mesmo, vai tentar dar um jeito. Isso resultará em produto de baixa qualidade, sem controle sanitário, o que respingará nas empresas que atendem a clientela em São Paulo e no Rio de Janeiro, nossos principais centros consumidores”, avalia.
Alexandre Alves dos Santos, engenheiro agrônomo da Epagri, também lamenta o adiamento da Fenaostra. “Ninguém entendeu esta indefinição, a Fenaostra faz muita falta”, diz.
Ele também acredita em queda nas vendas e no preço e em produtos clandestinos no mercado nacional. “Não houve estímulo para o consumo, e isso certamente vai afetar o pequeno produtor, que precisa manter a atividade para sustentar a família”, explica Alves.
Segundo Brognoli, a Fenaostra estimula o consumo não só no CentroSul, mas em todos os restaurantes da cidade. “Reflete, inclusive, nas vendas na porta do produtor e no mercado público”, observa.
Somente no final de outubro a prefeitura lançou edital para contratar a empresa que realizará a 14ª Fenaostra, prevista para o período entre 23 de novembro e 2 de dezembro. A abertura de envelopes será no mesmo dia. Segundo o edital, o valor pago pela prefeitura à empresa vencedora será de, no máximo, R$ 1.579.969,07.
Falta de controle sanitário pressiona pequenos
Enquanto as grandes produtoras investem em mecanização e no beneficiamento da ostra para expandir o mercado fora de Santa Catarina, pequenos e médios maricultores da Ilha ainda não sabem como se adequarem à instrução normativa 7/2012. Publicada em maio pelos ministérios da Pesca e da Agricultura, ela exige controle sanitário para comercialização do produto.
Em Florianópolis, são apenas três empresas “sifadas”, ou seja, com SIF (Serviço de Inspeção Federal), e cadastradas para atender o mercado nacional. Os demais produtores, mesmo depois da regulamentação das áreas cultivadas, continuam sem controle sanitário. “A legislação exige inspeção sanitária, seja municipal, estadual ou federal. E isso é caro se for feito isoladamente”, explica o engenheiro agrônomo Alex Alves dos Santos, da Epagri. No Ribeirão da Ilha, uma das alternativas encontradas foi a tentativa de reorganização dos produtores em cooperativa, processo ainda embrionário.
Mutação genética garante produtividade no verão
Introduzida no início do ano na baía Sul, a variedade triploide é uma das apostas da Atlântico Sul para o verão, quando a elevação da temperatura do mar aumenta a mortandade do molusco. Trata-se da mesma ostra com mutação genética na fecundação, que a torna mais resistente e estéril. As sementes são produzidas no laboratório Morro das Pedras, empresa que usa sêmen de ostras chilenas para produzir a variedade mais resistente. Com a importação do sêmen autorizada pelo Ministério da Pesca, a fecundação em laboratório gera ostras com três conjuntos de cromossomos.
As sementes ficam quatro vezes mais caras que as comuns, produzidas no laboratório da UFSC, na Barra da Lagoa. “Mas vale a pena, temos um produto mais resistente e com maior qualidade”, diz Fábio Brognoli.
A maior resistência a águas quentes e a menor taxa de desova são as principais características da triploide. “A mortalidade, que é de uma média de 50% em Santa Catarina, cai para o máximo de 5%. Produz muito mais carne e, como é estéril e não se reproduz, não se torna uma espécie invasora”, explica Vinícius Volpato, engenheiro de aquicultura.
“É uma aposta do setor. Agente pode comparar com a agricultura, com as variedades de milho mais resistentes, adaptadas às regiões. A ostra triploide é essa adaptação para nossas condições de produção no Brasil. Agente quer conciliar taxa de sobrevivência, qualidade de carne e taxa de crescimento diferenciada que temos em relação ao mundo inteiro”, completa Brognoli.
(ND, 08/11/2012)
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