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O que é público no transporte?

Da coluna de Fábio Brüggemann (DC, 15/05/2010)
Na Ilha de Nossa Senhora dos Aterros não existe transporte público, porque o modo como funciona não se dá com o propósito do bem público, mas sim do privado. Portanto, o tal Sistema Desintegrado de Transporte é bem burro, porque as pessoas (e vamos parar de chamá-las de usuários), hoje, levam mais tempo para se locomover de um ponto a outro do que antes da sua criação e o do inchaço urbano.
O que a população – inclusive a que acredita que o automóvel resolve todos os problemas de locomação – e o poder público têm que pensar é que esse grave problema urbano só será resolvido quando se levar a sério a ideia de que transporte para ser público não pode ser privado.
A lógica do privado é uma só: dar lucro. Mas não é lucro para a comunidade, para o público, mas sim para o empresário, para o privado. E se o empresário se lixar para o caso de ter que colocar mais ônibus pra sanar os problemas e ajudar as pessoas a ir com mais tranquilidade de um lugar pra outro? Na lógica do público, a ideia de lucro não passa pela grana, mas por inúmeros outros fatores fundamentais pra vida em comunidade, que é ar menos poluído, menos violência no trânsito, menos tempo de locomoção, menos acidentes, mais sociabilidade, etc.
O lucro do transporte público tem que ser social, não econômico. Sendo assim, ele não pode ser privado, mas público de verdade. E como se daria isso? Simples, todos, mesmo os que andam aparentemente tranquilos nos seus automóveis – achando que não sofrem com o péssimo sistema – deve arcar com o transporte público. Ele não daria lucro, no sentido mais ortodoxo, mas faria um bem enorme para todo mundo, inclusive os que não abrem mão do suposto conforto do automóvel.
O que não dá é para suportar uma das tarifas mais caras do País, ou esse caos cada vez maior no trânsito e ainda chamar isso de transporte público. O subsídio faria um bem enorme, porque se o sistema funcionasse, se ninguém precisasse ficar mais do que cinco minutos aguardando um ônibus, muito mais gente usaria o transporte coletivo, teria menos automóveis nas ruas, menos estresse e menos violência. Quer lucro maior do que esse?

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