Moradores de Canasvieiras, no Norte da Ilha, pretendem entrar com ação no Ministério Público contra a empresa executora de uma obra que, segundo eles, está causando rachaduras nas paredes de casas por causa da detonação de rochas. Eles reclamam que já comunicaram diversos órgãos sobre o fato, mas ninguém tomou providências. “Só falta chamarmos o papa para vir aqui”, ironiza o bombeiro militar Luiz Antônio Schmidt, cuja casa apresenta diversas fissuras criadas, de acordo com ele, a partir do início dos trabalhos.
A obra que incomoda os moradores começou em janeiro de 2004 na encosta de um morro às margens da rua Tertuliano Brito Xavier, entre Canasvieiras e Jurerê. A geóloga da Fundação Florianopolitana do Meio Ambiente (Floram) Ester Mortari afirma que a empresa está fazendo um trabalho de recuperação ambiental em uma área que foi degradada pela retirada de saibro na época da construção da rodovia SC-401, que liga o Centro de Florianópolis ao Norte da Ilha. “A legislação dizia que quem ocupasse o terreno depois da construção da SC-401 deveria fazer esse trabalho de recuperação”, explica.
Por meio de escavações e detonações de rochas, as obras estão fazendo com que a encosta ganhe patamares gramados, como se fossem degraus. As explosões, dizem os moradores da região, danificam a estrutura das residências ao redor. “A casa treme toda. Isso já vem acontecendo há uns seis meses”, conta a policial militar Marlúcia José da Silva.
Marlúcia registrou cinco boletins de ocorrência na Polícia Ambiental e possui um laudo do Corpo de Bombeiros datado de 16 de abril, que atribui às detonações a causa das rachaduras em sua residência. “Os bombeiros nos disseram para chamar a Defesa Civil. Fizemos isso, mas eles ainda não vieram”, afirma. Ela conta que a Floram também já foi comunicada sobre o fato. “Todos têm fotos comprovando o que estamos dizendo. Está todo mundo de braços cruzados, mas alguém tem que fazer alguma coisa”, protesta a policial militar.
Deslizamento atinge área de lazer infantil
Os moradores da região reclamam que pedras já rolaram morro abaixo depois que as explosões começaram. Uma delas, relata Marlúcia da Silva, teria atingido a casa de sua mãe. Outra, com o tamanho aproximado de um monitor de computador, teria caído sobre um campinho de futebol próximo à obra, onde crianças costumavam brincar. “As crianças não vão lá por medo. E o pessoal da obra ainda diz que fomos nós que colocamos a pedra”, conta o pescador Otacílio Silva.
O responsável técnico pela obra, Paulo Roberto Calliari, diz que todo o trabalho é feito dentro das normas de segurança. “Não tem como rolar pedra. Aquela do campo de futebol está lá desde que chegamos aqui”, afirma. Ester Mortari, da Floram, conta que a empresa apresentou toda a documentação exigida para executar as detonações e que “ambientalmente, está tudo dentro da lei”.
Outra reclamação dos moradores é de que a obra de recupração ambiental está sendo executada no lugar errado. Segundo eles, o local de onde o saibro era retirado fica em outro ponto do morro, conhecido como “barreira do João Coelho” por causa de antigo habitante da região. “Usaram a barreira como desculpa, mas erraram de lugar”, diz o bombeiro Luiz Antônio Schmidt.
A policial militar Marlúcia José da Silva afirma que as detonações e escavações estão ocorrendo em local onde antes havia apenas plantações. O objetivo do dono do terreno, segundo os moradores, é fazer um condomínio residencial na encosta do morro.
(Felipe Silva, A Notícia, 03/05/2007)
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