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Data para celebrar as baleeiras de Florianópolis

Uma data para festejar, celebrar as baleeiras de Florianópolis. Essa é proposta do vereador Afrânio Boppre (PSOL) que apresentou na Câmara Municipal projeto para criar o Dia Municipal da Baleeira. A data escolhida para marcar a celebração é uma homenagem a um dos últimos construtores de baleeiras em Florianópolis, seu Alécio Heidenreich, nascido em 18 de dezembro de 1928, no Ribeirão da Ilha.

A baleeira é um tipo de pequenas embarcações, com propulsão a remo ou vela, ligeiras e manobráveis, que foram utilizadas na caça à baleia a partir de navios-mãe (como os baleeiros da Nova Inglaterra) ou a partir de estações costeiras, como foi comum nos Açores. A chegada da baleeira ao Brasil se deu por meio dos açorianos, que em meados do século XVIII colonizaram parte do litoral de Santa Catarina. Até o século XX ela foi utilizada nas armações da região para a pesca da baleia franca austral.

A baleeira consagrou-se entre os habitantes do litoral catarinense, especialmente Florianópolis, como uma embarcação leve, ágil e segura. Além de servir para caçar baleias, ela também era usada para pesca e transporte de cargas e pessoas, desde os tempos da navegação a remo e a vela. Ainda hoje é usada para pesca profissional ou amadora, nas baías de Florianópolis ou em mar aberto. Sua boa navegabilidade também faz dela uma bela opção para passeios. Mas seu futuro pode estar em risco. Ela já não é mais construída, pois utiliza madeiras que não podem mais ser extraídas por serem protegidas pela legislação ambiental. Além disso, os métodos de construção da baleeira estão preservados apenas na memória de mestres artesãos que, infelizmente, acabam não sendo transmitidos para as novas gerações.

“Vivemos o epílogo de uma história que marcou profundamente a economia e a cultura da nossa Cidade e, por essa razão, acho fundamental incluir no calendário de festividades de Florianópolis uma data para a presença destas embarcações no nosso litoral”, explica Afrânio.

Mestre Alécio

Ao longo de sua vida, seu Alécio Heidenreich construiu cerca de 80 baleeiras, a última delas quando já tinha mais de 70 anos de idade, sob encomenda do navegador Amyr Klink. A embarcação hoje está em exposição no Museu do Mar, em São Francisco do Sul, no Norte do estado.

Começou na atividade ainda criança, por volta de 10, 12 anos, apontando pregos de cobre e aprendendo com seu pai, Paulo Pedro Heidenreich, os primeiros segredos do ofício. O avô também era um conhecido construtor de baleeiras do Ribeirão da Ilha.

Tendo como parceiro de trabalho o irmão, seu Alécio não largou o ofício nem mesmo quando veio para o Centro de Florianópolis, onde morou por anos atuando como contador para dar oportunidade aos filhos de frequentarem melhores escolas. Nesse período, trabalhava na construção das embarcações nos fins de semana e nas férias, quando finalizava a encomenda. Construiu desde baleeiras robustas, de 11 metros de comprimento, usadas para pescar tainha na praia de Naufragados, até mais modestas, usadas para passeios e atividades de lazer.

Ciente da crescente desvalorização das baleeiras e vendo-as perder espaço para embarcações mais modernas e simples, como as de metal e de fibra, não fez questão de ensinar o ofício aos filhos. Voltou a morar no Ribeirão da Ilha, onde permanece lúcido, contando as histórias do tempo em que foi um dos principais construtores de baleeira da cidade.

Apesar do sobrenome de origem alemã, é um “manezinho raiz”, com participação decisiva na Banda da Lapa, do Ribeirão da Ilha, onde tocou saxofone. Até hoje, é uma liderança importante na comunidade onde nasceu e passou boa parte da vida. Também desfruta do respeito dos habitantes das principais colônias de pescadores da capital, que foram unânimes em considerar a data de 18 de dezembro como a mais adequada para comemorar o Dia Municipal da Baleeira, uma forma de homenagear em vida esse homem que tanto fez pela cultura náutica de Florianópolis.

(CMF, 23/02/2022)

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