Florianópolis levou para o evento o tempero da chef Carolina Baracuhy, que preparou uma receita com ostras. “Foi um encontro muito interessante e rico. O grande ganho é o contato, o intercâmbio com as cidades. Definimos diversas coisas importantes como a criação da rede latino-americana de cidades criativas da Unesco”, diz a presidente da FloripAmanhã, Anita Pires. “Foi extremamente apreciado pelos chefs brasileiros e latino-americanos. Nossa ostra tem muita qualidade”, conta Anita.
De acordo com Anita Pires uma das coisas mais importantes do encontro foi articulação de um intercâmbio entre Florianópolis com Popayan, na Colômbia, que desenvolve um projeto com as chamadas “cozinheiras ocultas”.
Esse trabalho já está em andamento em Florianópolis, no Morro do Mocotó, desenvolvido pelo IFSC, parceiro do programa Cidade Criativa da Gastronomia. “É a valorização das cozinheiras que moram nas periferias. Na realidade são elas que cozinham para os restaurantes”, explica Anita. De acordo com ela, para o intercâmbio virá o antropólogo Carlos Humberto Illera Montoya, da Universidade de Cauca, para trazer a experiência, fazer a discussão e ajudar a pensar o projeto aqui em Florianópolis.
Participaram do encontro as oito cidades brasileiras que fazem parte da Rede Mundial de Cidades Criativas Unesco: Florianópolis (SC), Belém (PA) e Paraty (RJ), na área da gastronomia; João Pessoa (PB), no artesanato; Curitiba (PR) e Brasília, no design; Salvador (BA), na música e Santos (SP), no cinema. Da América Latina participaram Cidades Criativas da Colômbia, México, Panamá e Peru. O evento teve shows musicais, shows cookings, artesanato na Praça dos Estivadores, mostra de cinema e uma mesa-redonda sobre design com a participação de universidades, “A força do Design Gráfico na Economia Criativa”.
Foi discutido também a realização da Conferência Mundial da Unesco, que em 2020 vai acontecer em Santos, São Paulo. “Se discutiu bastante como todos podem ajudar para termos um grande evento. Queremos fazer algo diferente para 2020, algo bem criativo”, salientou. Além disso aconteceu a reunião da rede brasileira de Cidades Criativas para organizar a realização do próximo terceiro ECriativa, que acontecerá em Salvador e tem como objetivo promover a cooperação internacional entre as cidades que tem a criatividade como uma estratégica e um impulsionador para a recuperação e o desenvolvimento urbano sustentável. A última edição do ECriativa aconteceu em Florianópolis.
Além da chef de Florianópolis, Carolina Baracuhy, os shows cookings contaram ainda com os chefs do Pará Paula Pires, Felipe Gemaque, Daniela Martins, Herlander Andrade, Saulo Jennings, Roberto Hundertmark e Tathiana Martins; de Paraty, Paulo César; do México, Ian García e Carlos Humberto; do Panamá, Isaac Villaverde; do Peru, German Requejo e da Colômbia, Nayibe Angle Lopez.
De acordo com Anita Pires, o intercâmbio com a cidade de Popayan vai trazer a experiência desenvolvida no país de resgate do saber das cozinheiras. “Queremos que eles compartilhem com a gente a forma de fazer, como foi realizada a pesquisa, o trabalho na Colômbia”, afirma Anita.
O IFSC já iniciou no Maciço do Morro da Cruz o projeto “Fortalecimento da cozinha local do maciço do Morro da Cruz”, coordenado pelas professoras de gastronomia do campus Continente, Silvana Müller e Anita Ronchetti. Segundo Silvana, estão na fase de formalização do edital de extensão, que terá como parceiros o Instituto Vilson Groh (que desenvolve projetos sociais nas 15 comunidades da região) e a FloripAmanhã. Nesta sexta (11/10), acontece uma reunião entre as três instituições para definir encaminhamentos e para programar um evento que vai levar os chefs da Confraria da Gastronomia para ir ao morro compartilhar seus conhecimentos.
O primeiro local do Maciço a receber o projeto é o Morro do Mocotó, onde o IFSC está auxiliando há seis meses na estruturação de uma cozinha pedagógica que está sendo construída pela Associação de Amigos da Casa da Criança e do Adolescente do Morro do Mocotó (ACAM). “A cultura local precisa ser fortalecida e conhecida. Vamos dar aulas na comunidade, capacitar nossos alunos para dar aula e capacitar os moradores para continuarem dando aulas no local e transmitir o conhecimento”.
Para Silvana, a importância do projeto se dá pela possibilidade de valorização dos saberes e fazeres locais. “Significa valorizar pessoas, conhecimento, cultura, identidade e história local. Começamos com o morro do Mocotó, porque já tem isso na raiz. Poucos sabem que o nome vem do prato. Subimos o morro para aprender a receita especial de lá com as cozinheiras antigas. Mas esse saber está se perdendo e vamos devolver isso para as novas gerações, ensinando primeiro esse prato. É uma receita importante e pode, por exemplo, ser uma grande possibilidade de renda, auxiliando no resgate daquelas mulheres”, explica.
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