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A boa colheita: o saldo positivo da maricultura

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Em três décadas Santa Catarina desenvolveu uma nova atividade econômica, com uma contribuição fundamental, em seu início, de pesquisadores da UFSC, apoiados pela FAPEU. Hoje o estado é responsável pela quase totalidade da produção dos moluscos comercializados no país.

Quem visita Florianópolis tem a oportunidade de conhecer três bairros de raro encanto na parte insular da cidade. Sambaqui e Santo Antônio de Lisboa, debruçados sobre o mar da Baía Norte, e Ribeirão da Ilha, na Baía Sul, preservam casarios coloniais que remetem à cultura açoriana desembarcada na segunda metade do século 18. A beleza cênica e o pôr-do-sol de cinema harmonizam com um atrativo gastronômico à parte: os restaurantes de frutos do mar, que são abastecidos pela produção local das fazendas marinhas.

Santa Catarina é responsável por 95% da produção brasileira de moluscos. Em 2017, os 552 maricultores de dez municípios litorâneos entre Palhoça e São Francisco do Sul venderam 13,6 mil toneladas de mexilhões, ostras e vieiras, movimentando um valor estimado em R$ 66,2 milhões, segundo a Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural do Estado (Epagri). Quase 2 mil trabalhadores têm participação direta na cadeia produtiva. O mais surpreendente desses números é que a atividade econômica inexistia no estado há três décadas.

Uma inusitada conjunção de fatores resultou na invenção da maricultura como negócio, a começar pela geografia e pela história. Com 531 km de extensão, o litoral catarinense tem inúmeras baías e enseadas que oferecem abrigo e nutrição aos moluscos. O hábito de consumir mexilhões faz parte do cotidiano das comunidades costeiras. E a decadência da pesca artesanal fez com que muitos pescadores buscassem outras formas de diversificar a renda. Essa demanda social motivou um longo e profícuo trabalho de fomento à maricultura envolvendo instituições públicas e privadas comprometidas com a atividade (veja a linha do tempo).

As políticas de apoio abrangem da transferência de tecnologia ao fornecimento de insumos; da capacitação aos intercâmbios; da promoção de eventos à formalização. Entre os atores relevantes, destacam-se a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), a Empresa de Pesquisa Agropecuária do Estado (Epagri), a Companhia Integrada de Desenvolvimento Agrícola (Cidasc), a Prefeitura de Florianópolis e o Serviço de Apoio à Micro e Pequena Empresa (Sebrae). A FAPEU também tem contribuído com essa história por meio de sua expertise em suporte administrativo e financeiro aos projetos de ensino, pesquisa e extensão.

Os passos iniciais foram dados no início dos anos 1980, com os experimentos da equipe do professor da UFSC Carlos Rogério Poli em parceria com alguns pescadores de Santo Antônio de Lisboa e Sambaqui. Em 1987, os pesquisadores fizeram a introdução bem sucedida da ostra-japonesa, ou ostra-do-pacífico (Crassostrea gigas) ao habitat da Ilha de Santa Catarina. Originária do leste asiático, ela ocorre em regiões de alta salinidade e tem rápida maturação sexual, o que a torna uma das espécies mais cultivadas de moluscos no mundo.

“Nos primeiros cinco anos nós testamos a viabilidade do cultivo”, conta um dos pesquisadores pioneiros, Nelson Silveira Júnior. “Depois um grupo de pescadores artesanais formou um condomínio e a antiga casa da colônia de pesca virou um laboratório para produzir as primeiras sementes”. Pouco mais de uma década depois, o agrônomo sairia da UFSC para montar, com sócios, a fazenda marinha Atlântico Sul. Além além de fornecer ostras para o mercado de outros estados, a empresa presta serviço de inspeção sanitária aos demais produtores.

Outro marco para atividade foi o ano de 1993, quando a UFSC firmou o Shellfish Technology Transfer Program (STTP), programa de transferência de tecnologia com a Agência Canadense de Desenvolvimento Internacional (Cida, na sigla em inglês). Na avaliação do oceanógrafo Jack Littlepage, professor da Universidade de Victoria e responsável pela iniciativa, o apoio à UFSC e à Epagri ao longo de três programas por quase vinte anos foi um sucesso. Nesse período, diversos pesquisadores brasileiros estudaram no Canadá. “Em 2002 o STTP ganhou um prêmio de excelência da Cida”, recorda. Posteriormente os canadenses tentaram replicar a experiência em outros estados costeiros por meio do Brazilian Mariculture Linkage Program (BMLP), mas os resultados foram menos expressivos do que os obtidos pelo programa em Santa Catarina.

Nos anos seguintes, a maricultura catarinense experimentou uma rápida evolução no volume comercializado (veja gráfico) e também na aceitação do público. Vários produtores aperfeiçoaram a gestão do negócio e conquistaram clientes em outros estados. O Laboratório de Moluscos Marinhos (LMM), inaugurado em 1995 pela UFSC na Barra da Lagoa, em Florianópolis, tornou-se elo fundamental da cadeia ao desenvolver a tecnologia de cultivo de sementes de ostras, mexilhões e vieiras. Sua equipe é formada por 45 pessoas, entre técnicos e alunos.

Clique aqui para ler a matéria completa sobre a maricultura catarinense publicada originalmente na Revista da FAPEU — Fundação de Amparo à Pesquisa e Extensão Universitária. 2019, Volume 11, Ano XI. № 11. Reportagem de Dauro Veras (texto) e Soninha Vill (fotos).

 

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