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Rodrigo de Haro, artista, escritor, filósofo, gênio

Na imagem uma mulher de pele branca com cabelos pretos

Artigo de Lélia Pereira Nunes
Escritora e membro da ACL (Academia Catarinense de Letras)

Inverno. Madrugada de 1° de Julho. Na serra catarinense salpicos de neve cobrem os campos e araucárias. Terra fria de coração quente! Na Ilha de Santa Catarina, no alto do Morro do Assopro, numa casa erguida no século XVIII por calejadas mãos açorianas, os primeiros moradores da “Freguesia Nossa Senhora da Conceição da Alagoa” (1750), Rodrigo de Haro ergueu o seu universo mágico. No recôndito do seu ateliê, se fez ouvir como cidadão da Ilha e do mundo.

Foi ali, no silêncio da madrugada insular, que seu coração transbordante de fervor da Ilha parou. Apenas o vento a sibilar invadiu a geografia das almas anunciando a partida do poeta, do filósofo, do artista, do gênio que iluminou, na alquimia da sua arte e do saber, a terra abençoada por Santa Catarina: morreu Rodrigo de Haro, expressão maior da cultura catarinense em dois séculos.

No deambular por caminhos das artes plásticas e literárias de Rodrigo de Haro, acadêmico da egrégia Casa de Mnemosine, reverencio a monumental obra, a genialidade criativa, o intelectual brilhante, a invejável memória, capacidade de fabulação, a erudição e, sobretudo, o admirável ser humano a flanar por saraus e vernissages com requinte e a elegância no ser e estar.

Partiu Rodrigo de Haro deixando-nos uma obra de grande qualidade genética e de um estilo único fascinante e que fascina. Impossível aquilatar onde começa o Rodrigo escriba, provocativo, sedutor, misterioso, extraordinário e onde termina o Rodrigo o pintor, a pujança cromática em movimento e luz fulgente.

Paisagens enluaradas, embruxadas, alumbradas, impregnadas em cada pedacinho da tela com a magia da ilha, assinadas por Rodrigo, o gênio que adentra nos mistérios mais profundos e deixa seu olhar onírico percorrer os caminhos da Ilha Kiria Catarina dos navegadores e das rendeiras…

Rodrigo, da obra poética e pictural será para todo o sempre um navegante do tempo infinito a vagar ao lado de Atena a deusa da sabedoria e das artes.

O universo “rodrigueano” – Desterro e a Ilha – a sua grande paixão, está perenizado na arte unívoca a desenhar o pulsar da Ilha, do vento sul, da maresia, do cerco do mar, do imaginário, das açucenas e Marias-sem-vergonha, da sensualidade dos corpos, de tudo e de todos. Fica a imensa saudade e o adeus do seu grande mundo-Ilha.

(ND, 03/07/2021)

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