A rapidez na liberação de recursos federais e estaduais para manutenção das empresas e empregos e a liberação do transporte turístico intermunicipal foram as principais reivindicações apresentadas na tarde desta segunda-feira (15), durante seminário virtual promovido pela Comissão de Turismo e Meio Ambiente da Assembleia Legislativa, que discutiu as perspectivas de retomada do setor pós-pandemia da Covid-19 em Santa Catarina. A crise já provocou perdas de aproximadamente R$ 2,2 bilhões e 116 mil desempregos diretos e indiretos no Brasil e há uma estimativa de que em Santa Catarina, só no setor de eventos, mais de R$ 23 milhões deixaram de circular no mês passado.
O presidente da comissão, deputado Ivan Naatz (PL), destacou que a meta é fortalecer a união e a parceria entre o setor público e o trade, além da valorização do turismo regional, no sentido de buscar alternativas, gradativas e com segurança sanitária, para superar os desafios que o mercado do turismo estadual tem pela frente após a crise do novo coronavírus. Naatz também criticou atitudes de prefeitos que estariam dificultando o retorno do turismo catarinense quando fecham suas cidades e proíbem o trânsito de turistas. “Prefeitos, de forma individual e sem conhecimento científico, adotam medidas que prejudicam a imagem do estado.”
O primeiro a se manifestar na reunião, o presidente da Fecomércio-SC (Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo de Santa Catarina), Bruno Breithaupt, destacou que a entidade tem como bandeira há dois anos o desenvolvimento do setor e que, apesar do apoio financeiro federal e estadual prometido, há uma burocracia que impede a liberação desses recursos. “Precisamos de uma participação mais efetiva dos governos. Os empresários precisam de recursos para manterem suas atividades.”
O vice-presidente do Turismo da Fecomércio-SC, Hélio Dagnoni, destacou que a entidade destinou R$ 15 milhões para cursos gratuitos para profissionalização do setor turístico no estado. Relatou que está promovendo reuniões regionais, onde estão sendo colhidos dados para auxiliar os governos e entidades a enfrentarem o período pós-pandemia.
“Santa Catarina será o primeiro estado a sair da crise pós-pandemia. Estamos nos preparando e temos que acabar com o achismo no enfrentamento da pandemia. Temos que valorizar o profissionalismo”, defendeu.
Dagnoni também pediu apoio a todos os órgãos ligados ao turismo para abastecerem o Observatório do Turismo, uma ferramenta que está em desenvolvimento como forma de fortalecer o setor. Enfatizou ainda que pesquisa realizada nos últimos dois meses mostra que as pessoas pretendem valorizar o turismo regional no período pós-pandemia.
Oktoberfest 2020
O secretário de Turismo e Lazer de Blumenau, Marcelo Greuel, reforçou as críticas às dificuldades na liberação de recursos para manutenção do setor e o achismo que tem prejudicado na recuperação do período pós-pandemia. Ele afirmou que era mais fácil não fazer nada, mas que é necessário otimismo e esperança. Por isso, foi decidido que a Oktoberfest, um dos principais eventos turísticos do estado, será transferida, pela primeira vez, de outubro para novembro e que está mantido todo calendário de eventos de fim de ano para a Vila Germânica em Blumenau.
Ele informou ainda que nesta semana será lançado um pacote de segurança em Blumenau, com regras para todos os setores de turismo na cidade, além de um evento no sábado (20), denominado “A música não pode parar”, das 9 às 19 horas, uma ação solidária do tipo drive-thru que tem o objetivo de arrecadar donativos para os músicos das bandas típicas de Blumenau, considerando os impactos da pandemia no setor de eventos. A iniciativa acontecerá no pátio do Parque Vila Germânica, com apresentações de bandas. As pessoas poderão entregar as doações sem sair do carro. Uma live também será transmitida para quem quiser contribuir de casa.
Apoios logísticos
O diretor regional do Senac/SC, Rudney Raulino, falou que a entidade vem trabalhando na qualificação, inovação e jurisprudência em apoio ao setor turístico, atuando também em parceria com a Fecomércio em cursos gratuitos. O diretor técnico do Sebrae/SC, Luciano Pinheiro, lembrou que a cadeia de turismo vai além dos hotéis e restaurantes, atingindo também as casas noturnas e microempresários. Também defendeu a valorização do turismo regional e enfatizou que o Sebrae tem estudado um protocolo de segurança pós-pandemia.
O pró-reitor de Extensão, Cultura e Comunidade da Udesc, professor Mayco Morais Nunes, destacou que a entidade já vem trabalhando em um calendário de aulas em janeiro de 2021, período que normalmente era de férias e que vai atingir muitos municípios turísticos. Que a entidade também conta com um protocolo de segurança em desenvolvimento pós-pandemia e que na sua avaliação o retorno será lento e gradativo.
Retorno em 2021
A presidente da Associação Brasileira de Empresas de Eventos (Abeoc/SC), Jane Balbinot, fez uma análise pessimista para o retorno das atividades do setor ainda este ano. Na avaliação dela, é fundamental a liberação de recursos para manutenção da atual estrutura de eventos no estado, que devem retornar suas atividades nos meados do primeiro semestre de 2021.
“Não estou vendo luz no fim do túnel, além a do trem, para este ano. Fizemos o nosso dever de casa, mas estamos trabalhando para manter os empregos e para isso é fundamental a liberação destes recursos”, comentou.
O presidente do Floripa Convention & Visitours Bureau (FC&VB), Marco Aurélio Floriani, avaliou que o setor deve ser o último a retornar as atividades e por isso a necessidade urgente da liberação de recursos. “A crise atinge também os pequenos negociantes, como vendedores de algodão, entre outros, que terão dificuldades para linhas de crédito. Precisamos de menos burocracia na liberação dos recursos.”
Estanislau Emílio Bresolin, presidente do Sindicato de Hotéis, Restaurantes, Bares e Similares de Florianópolis (SHRBS), defendeu a união de todos do setor e criticou a decisão de prefeitos de proibirem o turismo de paulistas no estado, durante o feriado prolongado em São Paulo. “Foi uma decisão desastrosa, que veio só prejudicar a imagem do estado.”
Ele defendeu mais apoio e incentivos à manutenção do setor por parte dos poderes municipais, estadual e federal. Bresolin também cobrou a liberação do transporte coletivo nos municípios como forma de apoiar o setor.
Transporte turístico
A presidente da Abav-SC (Associação Brasileira de Agentes de Viagens), Maria Conceição Junckes, manifestou a preocupação do setor com o desemprego e a crise no transporte turístico intermunicipal e regional. Revelou que já há pessoas viajando, só que de carro ou de avião, faltando a liberação dos ônibus de turismo, como forma de fortalecer os municípios que vivem do turismo de compras e de lazer.
O presidente da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel-SC), Raphael Dabdab, estimou que pelo menos 20% das empresas do setor não vão se recuperar da crise da pandemia do Covid-19. Para ele, é necessário a liberação do transporte público e dos ônibus de turismo regional como forma de apoiar o setor, além da liberação de linhas de crédito às empresas. “Bares e restaurantes já podem funcionar, mas os clientes não estão indo. Precisamos de apoio.”
José Maciel Neis, presidente da Associação das Empresas de Transporte Turístico e Fretamento de Santa Catarina (Aettusc), também demonstrou sua preocupação com a falta de liberação do transporte turístico. Relatou que quem está responsável pela liberação do setor é a Secretaria de Infraestrutura do Estado, mas que estaria ocorrendo falta de isonomia nas liberações.
“Naquele hotel em que o governador ficou hospedado foram liberados três ônibus para transporte de hóspedes, mas não conseguimos a liberação de ônibus para turismo para outras regiões”, disse.
O deputado Ivan Naatz informou que a Comissão de Turismo e Meio Ambiente vai questionar a Secretaria de Infraestrutura sobre essa situação e que apoiará as manifestações em prol da liberação dos ônibus de turismo.
Prefeito de Major Vieira e presidente da Fecam (Federação Catarinense de Municípios), Orildo Severgnini defendeu que o setor turístico deve se reinventar e que a liberação dos transportes coletivos vai acontecer gradativamente no estado. Afirmou que a entidade está à disposição para ir à Brasília conversar com o Ministério do Turismo para liberação de linhas de crédito às empresas.
A assessora de Turismo da Fecam, Fabiane Dickamnn, relatou as dificuldades do turismo rural, onde famílias de agricultores estariam tendo dificuldades de acesso ao Cadastur (Cadastro dos Prestadores de Serviços Turísticos), e consequentemente estariam sem linhas de crédito para sobreviverem neste período de pandemia. Também cobrou apoio dos governos federal e estadual para liberação de recursos para sinalização das regiões turísticas.
Linhas de crédito
O presidente da Santur (Agência do Desenvolvimento do Turismo de Santa Catarina), Leandro ‘Mané’ Ferrari, salientou que a meta da estatal é sair da pandemia da Covid-19 ainda mais unidos e fortalecidos com todos os setores do turismo catarinense. “Por isso colocamos nossa equipe à disposição, queremos ouvir e discutir juntos as melhores soluções para o enfrentamento da crise.”
Em relação ao crédito, uma das principais demandas do setor para superar os impactos da pandemia, informou que a Santur está trabalhando com uma equipe focada para a articulação, junto com a Agência de Fomento do Estado de Santa Catarina (Badesc) e também ao Ministério do Turismo, recursos do Fundo Geral do Turismo (Fungetur) para auxiliar as empresas e profissionais catarinenses. Um valor de R$ 20 milhões já está sinalizado para Santa Catarina para atender pequenos, médios e grandes negócios.
Entre as ações da Santur, ele destacou o programa Viaje Mais SC, que incentiva o catarinense a conhecer melhor o próprio estado. O programa será implementado em seis etapas, gradativamente, começando com o lançamento de um selo para os estabelecimentos que cumprem com as normas sanitárias de combate à Covid-19 e oferecem produtos diferenciados.
Sobre o Cadastur, informou ainda que a Santur montou uma equipe de trabalho que nos últimos dois meses e já promoveram 1.062 cadastros novos e que estes estão aptos a receberem linhas de crédito. Em relação ao turismo rural, disse que o Ministério do Turismo já está trabalhando em parceria com o Ministério da Agricultura em um projeto que incentive o setor.
Também defendeu que no período pós-pandemia que as pessoas vão buscar destinos mais próximos, com preferência para deslocamentos de carro próprio. “Então, também entendemos que é o momento para fortalecer o turismo regional.”
(Agência AL, 15/06/2020)
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