Da Coluna de Estela Benetti (NSC, 09/05/2020)
O setor aeroportuário é um dos mais afetados pela crise econômica resultante dos impactos do coronavírus. O Aeroporto Internacional de Florianópolis opera com redução de 93% da capacidade e os voos executivos superaram em 28,57% os comerciais em abril. Foram 207 de jatinhos frente a 161 da aviação comercial. Uma das novidades é a retomada de voo comercial direto para o Rio de Janeiro, com a Gol, dia 24 deste mês.
O diretor geral da concessionária suíça Floripa Airport, Ricardo Gesse, informa que os cuidados para evitar a Covid-19 são rigorosos e o terminal trabalha para aumentar a atividade de carga. No mês passado, foram movimentados produtos no valor de R$ 43 milhões e, na próxima semana, o terminal passa a ter capacidade para receber aviões de carga maiores.
Gesse, que assumiu o cargo em janeiro sucedendo o CEO Tobias Markert, tem profunda experiência no setor de aviação, no qual ocupou posições de liderança em empresas de assistência ao transporte aéreo em terra, companhias aéreas e aeroportos. Em Florianópolis, ele foi responsável não apenas por conduzir, como diretor, as operações do aeroporto, mas também pelo complexo processo de transferência para o novo terminal, que entrou em operação dia 1º de outubro do ano passado. Confira a entrevista:
Como está funcionando o aeroporto de Florianópolis nesta fase de isolamento social com relação aos cuidados sanitários?
A Floripa Airport, em parceria com a prefeitura, tomou algumas ações que são pioneiras no país, como a barreira sanitária no desembarque e o teste rápido de coronavírus para passageiros sintomáticos. Há uma série de outras ações implementadas pelo próprio aeroporto, como avisos sonoros de distanciamento mínimo, marcadores de fila, uso de máscaras e luvas por todos os funcionários, álcool gel espalhado pelo terminal, proteções de acrílico nos balcões de atendimento e uma rigorosa rotina diária de desinfecção do aeroporto, que engloba diferentes tipos de higienização várias vezes ao dia.
E como está o movimento comparando aviação executiva com a aviação comercial?
Com relação aos voos comerciais, o aeroporto está operando a chamada malha aérea essencial, com uma média de 6 voos por dia (chegadas e partidas). O número de passageiros diários está em torno de 600. É uma operação extremamente reduzida, 93% de diminuição em relação a uma operação normal para Abril.
Sobre os jatinhos executivos, considerando aviação particular e táxi aéreo, no mês de abril foram, foram 207 voos, média de quase 7 voos por dia. É um movimento 53% menor do que no mesmo período do ano passado. Porém, ao comparar a aviação executiva e a comercial no período de abril de 2020, o movimento da executiva foi maior do que o da comercial, representando, 207 voos, contra 161 da aviação comercial.
Diante da performance da aviação executiva, a Floripa Airport vê potencial de crescimento deste segmento neste período?
A Floripa Airport está implementando melhorias nos serviços da aviação executiva, como o uso do pátio principal e disponibilização de uma nova sala.
Outros incrementos estão sendo estudados como possibilidade de reservas online, visando um crescimento futuro.
Dos serviços de apoio, quais estão funcionando?
A maioria das operações comerciais do aeroporto está fechada. Considerando Alimentação, Varejo, Serviços e Mobilidade, temos cerca de 30% dos estabelecimentos abertos, como as locadoras, supermercado, farmácia e a Starbucks, localizada no hall do checkin . Nesta semana, a Sala Vip voltou a operar, com todas as recomendações de segurança e alimentos porcionados individualmente.
É uma operação bem reduzida também, que acompanha o movimento mínimo da malha, mas que atende às necessidades básicas dos passageiros. O terminal de cargas está operando regularmente, inclusive, tem um importante papel neste momento, fazendo o transporte de insumos, produtos e equipamentos médicos e hospitalares.
Existe alguma perspectiva de crescimento do Terminal de Cargas neste atual momento?
Estamos trabalhando para que o crescimento do Floripa Airport Cargo no Brasil. O interesse tem crescido e estamos sendo procurados por inúmeras tradings de diversas localidades do país. A intensificação de consultas por parte das empresas de importação é resultado de um trabalho nosso de desenvolvimento estratégico para consolidar o nosso terminal de cargas como pólo logístico do Brasil, tendo em vista as nossas vantagens em relação ao restante do país: estrutura pronta para diferentes tipos de carga, elevado nível de segurança e agilidade nos processos de liberação de cargas.
Na próxima semana já teremos condições para que o nosso terminal de cargas possa atender, por exemplo, aeronaves de grande porte, como um 747-400 Jumbo. A nossa estrutura de pátio também já permite o atendimento simultâneo de até 3 aeronaves desse porte. Só no mês de abril, movimentamos um valor total de mercadorias de mais de R$ 43 milhões no terminal de cargas.
Que voos estão em operação e para onde?
Florianópolis está operando voos para o estado de São Paulo, nos aeroportos de Guarulhos e Viracopos. As 3 cias aéreas, Gol, Latam e Azul, estão operando no aeroporto. Acabamos de receber a confirmação que a partir de 11 de maior a Azul retomará a conexão direta de FLN para com Chapecó 3 frequências semanais.
Foi confirmada agora a volta de um voo direto para o Rio de Janeiro, certo? Como será e qual é a importância dessa retomada?
A partir de 24 de maio, de fato, a Gol retoma o voo para o Rio de Janeiro, com 3 frequências semanais. O Riogaleão é um hub da cia aérea Gol, por isso, a partir da capital carioca, os passageiros podem têm maiores possibilidades de destinos no país.
O Rio também é um importante polo econômico do Brasil, e então, aumenta a possibilidade de transporte de cargas. Novos voos são sinais positivos porque ampliam nossa conectividade com o resto Brasil.
Quais são as expectativas de volta gradual do movimento aéreo para este ano?
Eu percebo que estamos em um estado, em que as autoridades fizeram um excelente trabalho logo no início e, com a colaboração e empenho dos catarinenses, Santa Catarina conseguiu ter uma situação de controle da doença até agora. Hoje, nós podemos acompanhar o relaxamento gradual das restrições e gradualmente retomar a nossa vida e, ainda assim, nós fizemos projeções bem conservadoras por aqui.
Acreditamos em uma retomada maior do movimento a partir de setembro. Nossa expectativa é que o Aeroporto Internacional de Florianópolis registrará em 2020 metade do número de passageiros que teve ano passado, ou seja, cerca de 2 milhões de passageiros.
Qual é o percentual de queda de receita da concessionária Floripa Airport nessa crise e como a empresa está procedendo para manter as contas em dia?
A única atividade que se manteve estável é o transporte de cargas. O restante teve queda expressiva no mês de abril, o que representa uma redução de cerca de 80% na receita total da empresa. Como medida, desde o início da pandemia, nós criamos um comitê de crise, analisamos, estudamos e executamos algumas ações, como postergação de alguns pagamentos, renegociação com fornecedores, diminuição do escopo de contrato com terceiros, já que estamos operando uma malha mínima no aeroporto, e otimização do uso do terminal para reduzir custos. A empresa também fez uma readequação do quadro de colaboradores, mantendo a segurança operacional e a eficiência que sempre foram umas de nossas principais características.
O setor aeroportuário está tendo alguma ajuda especial do governo brasileiro?
Está. O governo federal editou uma medida provisória autorizando para toda a indústria a postergação do pagamento da outorga a Anac referente a 2019 de maio para dezembro. Além disso as parcelas do empréstimo feito com o BNDES para a construção do novo terminal, começarão a ser pagas em 2021, não mais em 2020.
Além disso, para garantir nosso fluxo de caixa, estamos em negociação com o BNDES para o descongelamento da conta reserva do nosso empréstimo, pleito aliás também de grande a indústria e de uma linha de capital de giro.
Muitos setores admitem que essa pandemia vai mudar o comportamento do consumidor. Que tipo de impacto pos-Covid-19 é esperado pelo setor aéreo?
Estamos diante de uma crise sem precedentes. A confiança do passageiro em voar vai depender tanto da estabilização da pandemia, quanto da rapidez da indústria em implementar medidas sanitárias adicionais e também da habilidade em informar os cuidados já existentes, demonstrando que voar é seguro.
Por exemplo, pouca gente sabe que as aeronaves possuem o chamado filtro de ar particulado de alta eficiência (HEPA, em inglês), que promove um sistema de recirculação que renova o ar da cabine a cada 2 ou 3 minutos.
De uma maneira geral, tanto aeroportos como companhias aéreas sempre tiveram altos padrões de eficiência sanitária. Esta é a hora de reforçar estes padrões e demonstrar a todos que viajar de avião é seguro, em todos os sentidos.
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