Durante o primeiro semestre de 2019, Florianópolis serviu como um laboratório para que startups testassem projetos para resolver problemas urbanos como falta de mobilidade e segurança, além de fornecer serviços inovadores para a população e empreendedores locais. Na última sexta-feira (16.08), sete destas startups que passaram pelo programa Living Lab apresentaram ao público presente no Startup Summit os resultados do trabalho desenvolvido e testado nos últimos meses na Capital, que agora também está chegando ao mercado.
Um deles é o Participact, plataforma que busca a gestão eficiente e participativa de cidades inteligentes. Criada como um projeto de pesquisa do Laboratório de Tecnologias de Gestão da Esag/Udesc, em 2014, o aplicativo permite aos cidadãos o registro por meio de foto, áudio e vídeo de qualquer tipo de problema urbano – seja na área de segurança, infraestrutura, mobilidade, meio ambiente, etc. – que é encaminhado diretamente ao setor responsável do órgão público.
O diferencial da plataforma, apontam os empreendedores e pesquisadores Fernando Zatt Schardosin e Daniel Penz, é a integração com mais de 3 mil ouvidorias públicas do país que compõem o sistema FalaBR, da Controladoria-Geral da União (CGU), o que deu ao app uma escala de atendimento nacional. “Percebemos que os cidadãos se comprometem em participar e colaborar a partir do momento que elas sentem que a manifestação delas é vista e respondida”, opina Fernando.
“Nós criamos uma inteligência associando palavras-chave para envio à ouvidoria específica e isso otimiza em 80% o encaminhamento dos processos, já que antes tinha que ter uma pessoa só pra filtrar as manifestações e enviar pro lugar certo. O que nasceu como um projeto acadêmico hoje é um produto com design, UX, big data e análise de dados que pode ser utilizada em todo o país, testado e validado aqui em Florianópolis e que ajuda a gerir problemas urbanos”, ressalta Daniel.
Outra startup que avançou no modelo de negócio a partir do Living Lab foi a WiFeed, que já atuava no setor privado oferecendo hotspot de internet a usuários de lojas e shoppings como uma plataforma de mídia. A derivação testada no programa da prefeitura foi trazer uma empresa privada, no caso uma escola de música, para ofertar wi-fi livre em dois pontos do centro de Florianópolis, a Praça dos Bombeiros e a rua Vidal Ramos. Ao longo de 106 dias, explica o cofundador Matheus Faria, mais de 3 mil pessoas se cadastraram na ferramenta gratuita, com total de 16 mil acessos web com tempo médio de conexão de 75 minutos. A empresa que patrocinou o projeto recebeu mais de 300 interessados pelos serviços e obteve sete novas matrículas a partir dos usuários do wi-fi livre.
“Conseguimos validar um modelo que já tínhamos no setor privado para o ambiente público e isso nos dá muita segurança para participarmos de editais nos municípios para oferta de wi-fi livre por meio de parceiros de mídia. Sabemos que há uma grande demanda de conectividade por parte dos usuários nas cidades, então o Lab nos deu a chance de testar este modelo de oferta de serviços públicos gratuitos com oportunidade de monetização para o setor privado”, comenta.
Até mesmo o setor agrícola da Capital passou por testes de novas tecnologias ao longo dos últimos meses. Foi o que fez a Maneje Bem, startup que criou um aplicativo para gestão de agricultores familiares urbanos e periurbanos e, por meio de parceria com o Programa Municipal de Agricultura Urbana (PMAU), presta assistência técnica a 35 hortas urbanas já implementadas em postos de saúde de Florianópolis. No projeto do Living Lab, a intenção era desenvolver tecnologia baseada em inteligência artificial para prestar atendimento em tempo real, respondendo dúvidas recorrentes dos agricultores, reduzindo assim controle de pragas e doenças, com a criação de alertas e conexão entre os usuários.
A lista completa das startups que passaram pelo programa está disponível neste link.
“O Living Lab é resultado de uma parceira entrea Prefeitura de Florianópolis e a Associação Catarinense de Tecnologia (Acate) e é uma das ações do convênio da Rede de Inovação da capital. O projeto foi viabilizado por meio de recursos da Lei de Inovação de Florianópolis, regulamentada em 2017 e que teve os primeiros projetos rodando no ano passado. Até o final deste ano, reforça Thaís Nahas, diretora de Negócios Inovadores da Superintendência de Ciência, Tecnologia e Inovação da prefeitura da Capital, o Lab terá uma segunda edição em 2020, com foco em soluções para mobilidade.
“Este projeto abriu a cidade e permitiu às pessoas verem desafios urbanos como oportunidades de negócio. Além disso, proporcionou a inovação dentro do governo, que se colocou aberto para testes e dar retorno sobre os resultados às empresas. O Lab entregou uma das coisas mais importantes para o empreendedor, que é o ciclo de apoio a desenvolvimento, teste e validação para que ele em seguida vá ao mercado”, ressalta.
O programa contou com metodologia de acompanhamento desenvolvida pelo grupo de pesquisa VIA Estação Conhecimento, da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), que se tornou um diferencial ao longo do processo. “Não tínhamos referência de um programa público que fizesse esse tipo de acompanhamento dos testes. O Living Lab acabou sendo um programa pioneiro do país ao colocar o poder público como um consultor dos empreendedores, ajudando a acelerar negócios”, finaliza a diretora.
(SCINOVA, 21/08/2019)
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