A Mata Atlântica se tornou uma “floresta vazia” após cinco séculos de colonização europeia no Brasil, com eliminação de 44% dos mamíferos grandes e médios na estimativa mais conservadora – e 71% no pior cenário. É o que aponta um estudo desenvolvido por pesquisadores da Universidade Federal de Santa Catarina e da University of East Anglia (da Inglaterra) e publicado na revista Plos One. Apesar da diminuição da Mata Atlântica ser um fato notório (hoje, a Mata Atlântica tem apenas 12% da área original), “até que ponto esse bioma perdeu sua fauna de mamíferos permanece pouco compreendido”, diz o artigo.
Para o estudo, foram compilados estudos com inventários de mamíferos de médio e grande porte entre 1983 e 2017. “Os números são estimativas com base em dados empíricos em muitos locais, por muitos anos. Então, acompanhando a literatura, alguns estudos em escalas regionais também mostram esses valores preocupantes”, explica Juliano Bogoni, um dos autores do artigo, que começou a escrever quando estava no doutorado do Programa de Pós-Graduação em Ecologia na UFSC – hoje ele faz estágio de pós-doutoramento na USP.
“Calculamos o índice de defaunação para as 497 assembleias de mamíferos (assembleias são o conjunto de espécies que co-ocorrem no mesmo local). Os predadores de topo (apex-predators) são o grupo que mais sucumbiu à defaunação em todas as áreas e regiões”, diz Bogoni. “A maioria dos locais já não tem mais as espécies de mamíferos que tinha outrora, ou seja, existem as matas, mas com poucas espécies de mamíferos, geralmente generalistas, que se adequam bem a perturbações”.
O desmatamento, o isolamento dos locais remanescentes e a caça estão entre as causas desta defaunação – a combinação de fatores potencializa as perdas ambientais. Entre as consequências a médio e longo prazo estão o “colapso de funcionamento dos ecossistemas, e, sobretudo, a erosão moderna de biodiversidade, que deverá influenciar o bem-estar humano”, diz Bogoni. O pesquisador afirma que ações como “políticas públicas de conservação” podem evitar uma floresta ainda mais vazia, assim como “fortalecer e incrementar as unidades de conservação e promover a conservação em áreas privadas”.
Além de Bogoni, o artigo é assinado por José Salatiel Rodrigues Pires, Maurício Eduardo Graipel, Nivaldo Peroni e Carlos A. Peres.
(Ufsc, 02/10/2018)
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