A três meses do início da temporada de cruzeiros, ainda é incerto se a Capital catarinense vai fazer parte do roteiro. A escala teste realizada em março na praia de Canasvieiras, no norte da Ilha, não atendeu todas as exigências da Agência Nacional de Transporte Aquaviário (Antaq), e uma marina particular se ofereceu para construir um trapiche na Praia de Canarujê, entre Canasvieiras e Jurerê, para receber os navios. O projeto ainda está em desenvolvimento e a empresa não sabe se vai dar tempo de concluir a obra para esta temporada.
O trapiche de Canasvieiras foi reprovado porque das 40 exigências da Antaq pelo menos 17 foram consideradas negativas, como falta de banheiros, local para atendimento aos passageiros em terra e falta de acessibilidade. No entanto, o superintendente de Turismo de Florianópolis, Vinicius De Lucca Filho, acredita que o principal problema foi o tempo de deslocamento entre o navio e o trapiche, feito por tender, uma espécie de lancha com capacidade para pouco mais de 100 pessoas, que durou cerca de 30 minutos.
Isso ocorreu porque o cruzeiro ficou aportado em uma distância de mais de quatro quilômetros do trapiche. Os estudos de batimetria, que mostram o relevo do fundo do mar, apontam uma distância menor em Canajurê, com isso, o tempo de deslocamento dos passageiros cairia pela metade.
Obra particular
A marina interessada em construir o trapiche já está elaborando o projeto. Para que a obra saia do papel, a empresa precisa ter a aprovação dos órgãos ambientais e, por ser área da União, é preciso também ter autorização da Marinha e da Superintendência do Patrimônio da União (SPU). A obra não terá recursos públicos.
— Sem dúvida será um investimento privado, feito com qualidade e diminuirá o tempo de deslocamento pela metade, uma solução bastante adequada. Preferimos otimizar os recursos privados, fomentar esta parceria justamente para podermos fazer investimento em outras áreas com recursos públicos — diz o superintendente.
Segundo Lucca Filho, um pré-projeto já foi apresentado pela empresa. A intenção é fazer a obra em duas etapas. Primeiro serão construídos 200 metros e, em seguida, mais 200, para dobrar a extensão. A estrutura será erguida a 100 metros ao lado do trapiche antigo. Já foram feitas sondagens no local para saber a que profundidade precisam ficar as estacas e quantas serão necessárias.
Por ser uma obra particular, as taxas pagas pelas operadoras para atracar na cidade (que giram em torno de 5 a 10 dólares por passageiro) ficarão com a empresa e não com o município. Segundo Lucca Filho, mesmo sendo um trapiche privado, é obrigatório ser aberto e dar acesso à população.
Infraestrutura
O gerente da marina, que pediu para não ter o nome divulgado por ainda não ter o projeto confirmado, informa que, além do trapiche, a proposta contempla espaço para receber os turistas, estudo de fluxo de trânsito, pontos para circulação de vans e ônibus. Uma das preocupações é com relação à mobilidade do local, pois há poucos acessos à praia e às rodovias. Mas, para o superintendente de Turismo, isso não é um ponto negativo.
— Primeiro que, como o local é muito bonito, muita gente fica ali e vai a pé para as outras praias, como Jurerê. Para aqueles que comprarem pacotes e quiserem ir para outras praias, para o Centro, enfim, montaremos um esquema especial no momento de chegada. Como os turistas descem aos poucos do navio, conseguimos dar vazão. É questão de poucos quilômetros para chegar à SC-401, então acreditamos que não terá grandes problemas, até porque vamos trabalhar com vans e ônibus.
O que dizem os moradores
Os moradores da pequena praia de Canajurê sabem pouco sobre a construção de um novo trapiche no local. Tem gente que concorda, mas há quem se preocupa com os reflexos para a natureza e para quem vive por lá. O empresário Rafael Vilabruna, de 38 anos, diz que não é contra projetos envolvendo a questão náutica, até concorda que este setor precisa ser mais explorado na cidade, porém, cobra mais transparência.
— Ninguém sabe o que será feito. Mas também não é só fazer um trapiche, olhe só, qual é o acesso para a praia que nós temos? Vai entrar e sair gente do cruzeiro e por onde vão passar? Não tem estrutura no trânsito, por exemplo, por isso precisa de um projeto completo, tem que ser transparente.
O pescador Luciano Andrade, 40, nativo de Canajurê, acredita que para o turismo da cidade, a obra é benéfica, mas têm dúvidas quanto aos benefícios para os moradores.
— Nem temos mais praia aqui. Por causa dos fenômenos da natureza, perdemos uns 50 metros de faixa de areia. Pra ilha é benéfico, mas pra região, qual vai ser o ganho? — questiona.
Já Yago Suzuki, 23, morador de Canasvieiras, aprova a obra e acredita que vai valorizar a região e atrair bons negócios para o turismo.
— Acho que seria muito interessante, teria mais atrativos para o turista. E acho que Canajurê tem estrutura para isso, terá um bom desempenho, tem hotéis, mercadinhos, tudo o que precisa praticamente.
Prazo está bem apertado
A poucos meses para começar a temporada de cruzeiros no Estado, Florianópolis possui apenas a ideia e um projeto sendo feito. Mas o superintendente Lucca Filho acredita que, se tratando de uma obra particular, ela tem mais chances de sair em menos tempo.
— Depois de aprovado o projeto, é uma obra simples, questão de dois meses para fazer. Acreditamos que poderemos pleitear a escala teste já para a próxima temporada — diz De Lucca.
Já o gerente da marina não está tão otimista. Segundo ele, o projeto está em fase de finalização, mas ainda precisa ser aprovado por diversos órgãos.
— Temos interesse de fazer o trapiche para que em janeiro tenhamos alguma coisa (escala teste), mas estou achando um pouco difícil, pois o tempo está curto. Mas, mesmo que não dê para este ano, o próximo ano estará garantido — diz.
Escalas confirmadas em outras cidades de SC
Pelo menos quatro cidades de Santa Catarina já têm escalas de cruzeiros para a próxima temporada. Em Balneário Camboriú, até agora estão confirmadas 28 paradas de cruzeiros pelo Atracadouro Barra Sul. A expectativa é que o número de passageiros e tripulantes chegue a 120 mil.
Em Porto Belo, destino tradicional dos navios no Estado, já há 18 escalas previstas. Itajaí e São Francisco do Sul têm confirmada uma escala. Em São Francisco do Sul, o primeiro navio de luxo de passageiros com capacidade para 750 passageiros e 542 tripulantes, deverá aportar em 25 de janeiro de 2019. O mesmo cruzeiro, Seven Seas Explorer, passará por Porto Belo.
(Hora de Santa Catarina, 10/08/2018)
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