Da Coluna de Fabio Gadotti (ND, 15/04/2018)
Empossado na última terça-feira como ministro do Turismo, Vinícius Lummertz, 57, tem pressa para imprimir sua marca nos pouco mais de oito meses de governo. Entre as prioridades do catarinense está a transformação da Embratur em agência e a abertura de capital das empresas aéreas. A primeira medida vai permitir, segundo ele, mais flexibilidade nas políticas públicas e investimentos. Formado em Ciências Políticas pela Universidade Americana de Paris, Lummertz afirma que o Brasil “perdeu a capacidade de imaginar o futuro” e que isso acaba limitando a criatividade e o desenvolvimento sustentável. “O Brasil é uma bolha de ideias, não é um aberto para o mundo”, diz. Para ele, falta ao país colocar o turismo no centro da agenda. “O que as pessoas não entendem é que o turismo fomenta todas as demais indústrias”, sustenta, citando o exemplo da França, um dos principais destinos do mundo. Nesta conversa, no sábado, em Florianópolis, o ministro falou ainda sobre a falta de equipamentos turísticos em Florianópolis, competitividade e insegurança jurídica .
Qual vai ser o foco da sua gestão, levando em conta especialmente a falta de recursos e poucos meses até o fim do governo?
A prioridade é passar o projeto que transforma a Embratur em uma poderosa agência internacional e abrir o capital das aéreas para que as nossas empresas possam se capitalizar. Precisamos de voos baratos e, para isso, é preciso melhorar o ambiente de negócios. Estamos fazendo 118 mudanças na lei geral do turismo para desburocratizar. Além disso, queremos manter essa janela de oito meses de isenção de importação de equipamentos que conseguimos para parques temáticos. Temos mais mudanças, entre elas crédito e consultoria a municípios nessa parceria fechada com o Sebrae e com o BNDES, que terá linha de crédito de R$ 5 bilhões. Nosso grande desejo é transformar esses projetos num ambiente de mais concessões e PPPs (parcerias público-privadas).
O que falta para que o turismo seja uma potência sob o ponto de vista econômico?
Atitude política e imaginação. Falta colocar o turismo no centro da agenda do país. Na França, é o primeiro item do PIB. O que as pessoas não entendem é que o turismo fomenta todas as demais indústrias. A França vende mais perfume, alimentos e vinhos por causa do turismo. Vende até os carros. Quem vai à França e gosta do país é possível que compre um Peugeot ou um Renault. Porque compra a experiência, a percepção. É muito importante entendermos o quanto o futuro de Santa Catarina vai passar, inexoravelmente, pelo turismo.
Por quê é importante transformar a Embratur em agência?
Porque a Embratur investe pouco e o plano de cargos e salários não atende a um recrutamento de jovens em nível de competição internacional. Para ter uma ideia, a média de investimento dos países da América Latina em promoção no exterior é de US$ 100 milhões. Nós só temos US$ 17 milhões. A agência tem mais flexibilidade de contratação, tipo a Apex (Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos) e o Sebrae, com possibilidade de parcerias com a iniciativa privada. A Embratur é proibida de abrir escritório no exterior, acredita? Daí tem representação terceirizada. Ela tem que ser modernizada.
O senhor fala que a gente perdeu a capacidade de imaginar o futuro. Pode explicar melhor essa ideia e relacionar com o turismo?
Sim, penso que estamos perdendo essa capacidade. Retomamos o crescimento, fizemos reformas, mas precisamos sair de uma discussão que hoje, em grande parte, está no século 19. Precisamos de uma discussão do século 21. E o Brasil me lembra muito aquele filme “O Show de Truman” (EUA, 1998), em que o indivíduo descobre que vivia no meio de uma bolha. O Brasil é uma bolha de ideias, não é aberto para o mundo.
No caso de Florianópolis, esse raciocínio está ligado à tecnologia e à economia do mar?
Temos o maior parque urbano nativo do mundo dentro de uma cidade, que pode ser transformado num ativo perene de sustentabilidade, proteção ao meio ambiente, mas também de turismo, valorização da relação com a natureza, educação para os jovens etc. Pode ser tudo! E nada é feito. Isso é falta de imaginação! Temos duas baías, absolutamente fantásticas, que poderiam movimentar uma indústria náutica de mais de 10 mil barcos. E é muito? Não. A Flórida tem um milhão! E gerar 10 mil empregos, porque isso fomentaria não só a indústria náutica. O Estado produz 60% dos barcos do Brasil e não tem marinas. Florianópolis teria que ser a capital brasileira do mar.
O Brasil tem potencial para receber muito mais turistas. Qual o pulo do gato?
Há uma grande curiosidade sobre o Brasil, mas há uma competição internacional, com voos baratos no mundo inteiro e o Brasil muito reticente em entrar nisso. É que o Brasil é um país bloqueado, caro e isolado. O custo Brasil é muito alto. É uma construção de competitividade, palavra que aqui é mal interpretada. Muitos veem como uma situação com ganhadores e perdedores, mas não é. É, sim, a única maneira de sobrevivência e enriquecimento.
O ministério tem R$ 215 milhões em obras para Santa Catarina atualmente?
Sim, é o que está rodando. A maior é o Centro de Eventos de Balneário Camboriú. E esta semana liberamos R$ 3 milhões para uma rodovia entre Balneário Barra do Sul e Araquari.
O senhor fala bastante sobre a Mata Atlântica como diferencial de Florianópolis
Sim, mas não é só. Nosso equipamento cultural mais importante, o Centro Integrado de Cultura, é da década de 1980. Queremos ter um turismo de valor agregado e um ambiente que fomente a tecnologia e as startups, mas estamos estagnados. Florianópolis hoje é uma repetição da década de 1980, com exceção de Jurerê Internacional e do Costão do Santinho.
Uma queixa recorrente de investidores é a insegurança jurídica, especialmente em Florianópolis. Como vê essa questão?
Florianópolis é a capital nacional da insegurança jurídica, refém de um embate ideológico. Temos que facilitar equipamentos que gerem impostos e paguem a conta da saúde, educação, transporte e segurança. Aqui o tripé economia-meio ambiente-social está barrado. O principal equívoco da cidade é o desprezo pelas vocações florestais, marítimas e tecnológicas.
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