Sistemas de armazenamento próprios são a maneira mais eficaz de garantir água
Baldes cheios na cozinha e no banheiro. A solução encontrada para garantir água para cozinhar a lavar pelo menos os pés na chegada da praia é comum na casa da turismóloga Roberta Vaz Longo com a proximidade da temporada de verão.
O horário de banho também não é o mesmo do decorrer do ano. Ou se toma banho de manhã bem cedo, quando a caixa d’água de dois mil litros ainda está cheia, ou durante a madrugada, quando o abastecimento ocorre com pressão máxima.
— Esse ano um caminhão pipa teve que ser chamado para atender outras casas. Nos dias 24 e 31 de dezembro e 1 e 2 de janeiro a falta de água não tem horário, é total — completa a moradora de Zimbros, localidade de Bombinhas, no Litoral Norte.
Você costuma sofrer com a falta d’água em SC?
A realidade da turismóloga é também a de muitos turistas que escolhem o Litoral Norte de Santa Catarina para passar a temporada de verão. A situação se repete na Grande Florianópolis e parte do Litoral Sul.
O grande número de turistas que visitam o Estado faz o consumo de água duplicar e até triplicar em algumas regiões. Para driblar o problema vale balde, bacia, mas o ideal é garantir um melhor armazenamento da água.
Por esse motivo, há dois anos a Companhia Catarinense de Águas e Saneamento (Casan) realizou uma intensa campanha para a aquisição de caixas d’água. No ano passado, uma campanha veiculada em TVs e jornais propunha a economia.
Ações como lavar carro e calçadas foram abominadas e quem fosse visto realizando essas tarefas poderia até ser multado. Não houve necessidade de chegar a esse extremo, mas, segundo o diretor de projetos especiais da Casan, Adelor Vieira, a propaganda surtiu efeito.
De 2007 para 2008 o consumo de água na alta temporada caiu em mais de 50%. Não deve ser veiculada uma nova campanha, mas uma nova queda é esperada para a temporada 2009/2010. Isso ameniza o problema, mas não o sana por completo.
Segundo estimativa da Casan cada consumidor gasta em média 200 litros de água por dia. Com uma população mais concentrada no litoral, fica impossível, segundo a companhia, garantir o abastecimento para quem não tem caixas d’água grandes ou cisternas.
Projetos
A construção de três adutoras, uma no Oeste, outra na região de Joinville e outra na Grande Florianópolis, poderá sanar a problema a longo prazo. Os projetos poderão ser viabilizados em 20 anos, sendo que no Oeste já está em fase de estudos de viabilidade.
Segundo o diretor de projetos apenas a região Sul do Estado tem o abastecimento ideal para os próximos 15 anos. Isso foi conseguido com a conclusão da barragem São Bento, em Siderópolis, e a barragem do Salto, em Timbé do Sul.
Grande Florianópolis
O Norte da Ilha de Santa Catarina é também uma das áreas mais atingidas pela falta de água no verão. A nova adutora da Casan, em Santo Amaro da Imperatriz, libera 1,2 mil litros de água por segundo e deve reduzir o problema neste ano.
Um outro sistema que só existe nessa região do Estado favorece a liberação de mais água para o Norte da Ilha. Por meio de um registro, a água é desviada para a localidade mais povoada.
— No inverno, o Centro precisa de mais água, sendo que no verão o Norte é mais problemático. Nesse período é possível inverter o sistema e carregar mais os reservatórios do Norte — destaca.
A profissional liberal Maria Inêz da Rosa mora em Canasvieiras há 26 anos e há pelo menos 20 não notou falta de água:
— Tenho uma caixa d’água e uma cisterna, mas esta última foi desativada porque eu não estava mais usando, não precisa.
A Casan atende 52% dos municípios de Santa Catarina e considera a alta temporada o período de 15 de novembro até após o Carnaval.
Balneário Camboriú
Na cidade do Litoral Norte conhecida como a capital do turismo catarinense, o consumo de água chega a aumentar 30% na alta temporada. Mesmo assim, o diretor-geral da Empresa Municipal de Água e Saneamento (Emasa), Ney Clivati, garante que nesta temporada não haverá falta de água.
O otimismo é devido a uma série de melhorias realizadas na estação de captação de água do rio Camboriú, que abastece também Camboriú. Uma delas foi instalação de uma quinta bomba submersa na estação para aumentar a quantidade de água.
A bomba tem capacidade de liberar 300 litros de água por segundo, e, com isso, o sistema completo conta chega a 800 litros de água por segundo. Balneário Camboriú tem, oficialmente, 95 mil habitantes, mas, segundo dados da Secretaria de Turismo, a população flutuante chega a um milhão de pessoas de novembro a março.
Para garantir que nenhuma dessas pessoas que passa pela cidade fique sem água, os equipamentos que regulam a potência das bombas também passaram por manutenção.
Itapema
O jornalista Gustavo Zonta mora há oito anos em Itapema, também no Litoral Norte, e há pelo menos seis não sabe o que é ter falta de água. Isso porque na casa onde vivem quatro pessoas foram instaladas duas cisternas durante uma reforma.
Por outro lado, em anos anteriores à última temporada, vizinhos de sua casa, no bairro Meia Praia, reclamaram da falta de água. Segundo ele, o síndico de um edifício vizinho chegou a contratar um caminhão pipa.
A Companhia Águas de Itapema reconhece que o problema é crônico desde a década de 90 e se agrava no período entre Natal e Réveillon. Mas, segundo a assessoria de imprensa, na temporada 2008/2009 não houve falta de água, a menos que tenham ocorrido problemas específicos em alguns imóveis.
A expectativa é de que o abastecimento normal, segundo a companhia, mantenha-se também nesta temporada. De acordo com a Águas de Itapema, o quadro atual é resultado das novas redes de distribuição que foram implantadas a partir de 2004.
Hoje a cidade tem cinco estações e produz até 1,4 milhão de litros por hora. Itapema também ganhou duas lagoas de acumulação de água bruta, que armazenam 232 milhões de litros.
Itajaí
Em Itajaí, no Litoral Norte, o aumento do consumo de água no verão é impulsionado especialmente pelos moradores da cidade. De acordo com a assessoria de imprensa do Serviço Municipal de Água, Saneamento Básico e Infraestrutura (Semasa) a cidade não recebe um expressivo número de turistas, mas mesmo assim falta água.
Isso ocorre porque devido ao aumento do consumo a água fica com pouca pressão para chegar aos bairros mais altos da cidade. Segundo o Semasa, medidas como evitar lavar calçadas e tomar banhos rápidos amenizam o problema.
Para tentar sanar permanentemente a falha no abastecimento, o sistema está em obras. A previsão é de que até a próxima temporada três novos reservatórios estejam prontos. Com isso, a produção passará de 75 mil litros por segundo para 110 mil litros por segundo.
Quem tiver problemas com o abastecimento, pode acionar as companhias por telefone
Casan (atende 52% dos municípios catarinenses)
0800 64 30195
Emasa (Balneário Camboriú)
0800 64 36272
Águas de Itapema
Atendimento local 115 ou (47) 3268-8200
Semasa (Itajaí)
0800 645 0195
(DC, 18/12,2009)
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1 Comentário
Acho impressionante isto. Uma ilha, rodeadada de água por todos os lados e falta água. E não é por falta de tecnologia disponível. Eu, por exemplo, fabrico dessalinizadores há 15 anos e há mais de uma década estamos em Floripa. Temos máquinas em todo o país e inclusive já exportamos. Entretanto, em Floripa não. Será que santo de casa não faz milagre?