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Mais um composto sintético pra conta: estudo analisa a contaminação de solos, águas e alimentos pelo PFOS

Ele pode estar nos solos, nas águas, no ar e nos alimentos. Aplicado “inofensivamente” para combater o ataque de formigas de corte em cultivos de Pinus e Eucaliptos, na sua grande maioria, o formicida sulfluramida é um composto sintético, estável na natureza e que pode ser armazenado gradativamente pelo corpo humano através da ingestão de alimentos ou água que tiveram contato com esse poluente orgânico persistente (POP).

Segundo a Convenção de Estocolmo, da qual o Brasil é signatário, os POPs “são substâncias químicas que têm sido utilizadas como agrotóxicos e possuem características de alta persistência, ou seja, não são facilmente degradadas”. O Ministério do Meio Ambiente (MMA) esclarece em seu site que esse material pode ser transportado pelo ar, água e solo por longas distâncias e, com isso, “se acumularem em tecidos gordurosos dos organismos vivos, sendo toxicologicamente preocupantes para a saúde humana e o meio ambiente”. Uma vez no ambiente o formicida sulfluramida degrada para o POPs, chamado ácido perfluoroctanosulfônico (PFOS), caracterizado pela Convenção de Estocolmo como um químico de uso industrial.

A pesquisadora da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Juliana Leonel, iniciou a exploração do comportamento deste formicida na costa baiana em 2014 enquanto professora da Universidade Federal da Bahia (UFBA). Agora, membro do corpo docente do curso de Oceanografia da UFSC, vinculado ao Centro de Ciências Físicas e Matemáticas (CFM), a docente inicia as pesquisas sobre o poluente em outras regiões da costa brasileira, por meio de projeto aprovado pelo CNPq (Universal/2016): Origem, Distribuição e Transporte de PFOS para o Atlântico Sul.

O estudo visa ampliar a área de coleta de amostras para verificar as diferentes fontes de PFOS, sejam elas vindas de atividades agrícolas ou industriais, e compreender o caminho que esse composto percorre até chegar ao Atlântico Sul.

De acordo com Leonel, o formicida sulfluramida era comprado para uso em jardins e, em si, não é um problema para o ser humano. “Uma vez aplicado e colocado no meio ambiente, ele se transforma muito rapidamente em outros compostos e o problema são esses outros compostos”.

O principal é o PFOS, um composto muito estável que não vai se transformar em outros produtos e sair da natureza facilmente. Estima-se que a permanência dele no solo e na água seja de várias décadas. “Nossa preocupação ao encontrar o PFOS se dá porque, se ele chegar ao ambiente agora, daqui a 30-50 anos vamos continuar encontrando-o no ambiente. Onde vamos chegar?”, questiona.

Os estudos do Laboratório de Oceanografia Química da UFSC têm questionado a sulfluramida como fonte significante de PFOS na região costeira do Brasil. Trabalhos em colaboração com outras instituições de pesquisa internacionais têm contribuído para que a análise de amostras ambientais possa ser feita. “A transformação do formicida em PFOS é rápida: após 14 dias da aplicação de 1 quilo, a metade disso já vai ter se transformado em outros compostos, entre eles o PFOS”.

Os achados e os encaminhamentos

Os estudos nesta área ainda são recentes e de baixo volume no Brasil. Em parceria com a Universidade de Estocolmo e do País Basco, foi conformado que o uso da sulfluramida como formicida é fonte do PFOS. A transformação foi percebida e mensurada por meio de um estudo realizado com cenouras. “Plantamos, aplicamos a isca (formicida) e analisamos o solo e as plantas durante 81 dias. Já nas primeiras semanas encontramos o PFOS no solo, na água e na casca, folha e interior das cenouras”.

A partir da aprovação do projeto junto ao CNPq, Juliana pretende olhar para a transformação química desse componente e a sua potencial contaminação de oceanos com amostras de rios do Amapá ao Rio Grande do Sul. A intenção é ver os padrões de concentração do composto em pelo menos um rio de cada região costeira. “Queremos saber de onde o PFOS está vindo e se é do formicida. Rios como o São Francisco e o Amazonas estão no nosso mapeamento”, revela a pesquisadora.

Para 2018, a preocupação do grupo de pesquisa da UFSC também se voltará para o estado catarinense. Para que isso ocorra, Juliana estuda a geografia de Santa Catarina e o desague dos rios. “Antes de traçar uma pesquisa regional, precisamos estudar as plantações e os rios de drenagem para compreender o que está vindo para o nosso mar”.

Outra potencial pesquisa nesta área poderá ser feita no manguezal próximo ao Aeroporto Internacional Hercílio Luz, em Florianópolis. “Espuma de combate a incêndios que possuem esse composto é usada em treinamentos realizados no aeroporto, por isso, nos próximos dois anos pretendemos verificar se o manguezal sofre influência ou não do PFOS”, salienta Leonel, reforçando que os manguezais são ecossistemas únicos e fundamentais para a sobrevivência de diversas espécies.

Os dados coletados nas pesquisas são encaminhados para o MMA, o Ministério da Saúde e o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). Com isso, espera-se que tomadores de decisão e criadores de lei possam usar essas informações para tentar banir e incentivar as pessoas a buscarem alternativas de combate à formiga.

Por ser signatário da Convenção de Estocolmo, o Brasil tem a percepção de que o PFOS é um problema ambiental e de saúde pública. “Com isso, há a obrigação em estudar o comportamento do composto e buscar alternativas. Porém, ainda estamos iniciando os estudos no país, há o problema do custo e eficiência de produtos alternativos e, também, o fator do PFOS não estar entre os compostos mais encontrados nos alimentos no Brasil”.

A poluição não respeita fronteiras, é um problema de todos.

Com essa frase, Juliana resume que o controle e a redução de uso dos agrotóxicos, neste caso a sulfluramida, deve ser uma preocupação de todos. Esse poluente, por ser persistente, pode provocar uma série de problemas para o homem e outros organismos associados a ele.

“A sulfluramida não tem toxidade alta, mas sim o que ela se transforma. Precisamos de mais estudos para descobrir as suas consequências, mas podemos afirmar que o PFOS pode ficar alojado em diferentes locais do corpo (gordura, fígado) e, com isso, ocasionar cânceres, tumores, afetar o crescimento e o sistema imunológico, causar perda de peso”.

Entenda o caminho do composto no ambiente.

Importante: vale salientar que o tratamento de água está adequado, porém o processo convencional não consegue retirar esse composto da água captada em locais que têm a sua presença.

Confira o artigo A formiga e o mar: como o formicida sulfluramida esta contaminando os oceanos

Confira o documento da Convenção de Estocolmo 

(UFSC, 06/02/2018)

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