Da Coluna de Carlos Damião (ND, 23/10/2017)
Ruas são “corpos vivos” das cidades e envelhecem muito rapidamente quando não recebem os cuidados essenciais por parte dos moradores, comerciantes e poder público.
Florianópolis tem alguns casos gritantes. Um exemplo está na Rua João Pinto, que já foi a Rua Augusta, primeiro endereço do jornal O Estado, fundado em 1915, e primeira sede do Clube 12 de Agosto, fundado em 1872. Desde a implantação do Ticen (Terminal Integrado do Centro), em 2004, a decadência da região Leste se tornou visível e desalentadora. A semidesativação do Terminal Cidade de Florianópolis descentralizou o consumo, que migrou para outras áreas da cidade, como as ruas Conselheiro Mafra, Francisco Tolentino, Felipe Schmidt e transversais.
Comerciantes que resistiram na João Pinto tentaram em vão, nos últimos 13 anos, recuperar um pouco do brilho humano da via, mas nenhuma política efetiva de revitalização foi capaz de salvá-la: dezenas de negócios fecharam as portas por falta de consumidores. O projeto Viva a Cidade, criado pela prefeitura em parceria com a CDL (Câmara de Dirigentes Lojistas), tem sido uma tentativa importante para agitar a área, devolver-lhe o público perdido. Até porque, em geral é o comércio que dá vida às ruas e às cidades – e isso nem é de hoje, vem dos primórdios da civilização.
Paralela à Rua João Pinto há também a Rua Victor Meirelles, antiga Rua da Pedreira ou dos Artigos Bélicos, outro exemplo de degradação urbana, talvez a rua mais rabiscada de Florianópolis por pichações aleatórias. As inscrições e desenhos nas paredes da antiga escola Antonieta de Barros e na lateral do prédio dos Correios são os mais fortes indicativos do abandono – embora a Victor Meirelles tenha um pequeno comércio resistente e seja o endereço da lendária Kibelândia, um dos melhores bares e restaurantes da Capital.
Distrito Criativo
Grupos de arquitetos, professores e artistas têm se empenhado em estudar a recriação dos ambientes urbanos da zona Leste da Praça 15 de Novembro. O projeto Centro Sapiens tem o objetivo de transformar o Centro Histórico num “Distrito Criativo”, com a realização de “novas formas de apropriação que, por meio de um conjunto de ações incorporadas, transformem os espaços urbanos através do processo de revitalização urbana atribuindo-lhes conteúdos sociais, econômicos e culturais com cerne na criação de um ambiente propício ao empreendedorismo, à criatividade e à inovação”.
O projeto resulta de uma parceria entre o Sapiens Parque e a UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina). Mas sua implantação não tem prazo definido, vai acontecendo de forma coordenada e com eventos específicos, sempre com a ideia de estimular o movimento humano, promover a circulação de pessoas, sem ser necessariamente focado nas atividades comerciais.
O case da Vidal Ramos
Quando o Ceisa Center foi construído, na década de 1970, houve reações de espanto na cidade, como me lembrou o síndico do empreendimento, Alfred Heilmann. “As pessoas consideravam muito ‘longe do Centro’, muito deslocado”, disse-me. Mas a verdade é que o Ceisa Center mudou o perfil comercial da região central nos últimos 40 anos. Junto com ele, a Vidal Ramos (antiga Rua da Palhoça ou Rua 28 de Setembro) também se transformou e se reinventou. De uma via com aspecto degradado, sombrio, envelhecido, passou a ter outro perfil desde 2012, graças a uma mobilização de lojistas, liderados pela empresária Rose Macedo Coelho, com apoio da prefeitura, da Acif (Associação Comercial e Industrial de Florianópolis) e do Sebrae-SC (Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas).
A Vidal Ramos Open Shopping tornou-se uma atração turística e um case nacional. Na quinta-feira (19/10), por exemplo, empresários e autoridades do Ceará estiveram em Florianópolis para conhecer de perto a revitalização da rua. Que, aliás, vai ganhar inovações estéticas nos próximos meses, sempre focadas na dinâmica do movimento de pessoas, como me revelou Rose na sexta-feira (20/10). “É isso que mantém as ruas vivas, agradáveis e atuais”, completou.
Todas as iniciativas são bem-vindas, sejam comerciais, comunitárias ou artísticas. O grafite em homenagem a Franklin Cascaes, na parede do Edifício Atlas (virado para a Vidal), é uma demonstração do quanto isso é verdadeiro e transformador.
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