O tráfego de carros pela Ponte Hercílio Luz, em Florianópolis, está descartado pela prefeitura da Capital mesmo após a conclusão da reforma da estrutura, prevista para dezembro de 2018. A prioridade será de pedestres, bicicletas e ônibus – o transporte coletivo seria inserido aos poucos, inicialmente algumas linhas como o Corredor Continente e Abraão/UFSC, por exemplo.
A proposta foi desenhada pelo Instituto de Planejamento Urbano de Florianópolis (Ipuf) e será apresentada pelo prefeito Gean Loureiro neste mês. O conceito desenhado prevê a ponte voltada para as pessoas, sem necessariamente aliar a mobilidade urbana aos carros. Um estudo do município aponta que o mesmo número de ocupantes de quatro ônibus geraria uma fila do tamanho da extensão da estrutura, de 821 metros, se estivessem em automóveis.
O projeto envolve diferentes órgãos do município e do Estado com foco em fazer da estrutura um espaço que concentre mobilidade, patrimônio histórico, turismo, cultura e lazer. Por conta disso, estão previstos investimentos como a construção de museus, o aumento de ciclovias e pequenas adaptações no trânsito. Devem ocorrer alterações também no Parque da Luz, na cabeceira insular, considerado fundamental para o entorno e aproveitamento dos espaços.
– O projeto da Hercílio Luz vai muito além de uma proposta de mobilidade. Pensamos o local como o principal equipamento turístico do litoral catarinense. Então a gente começa com ciclistas e pedestres, evoluímos para implantação de alguns serviços de transporte coletivo e vamos analisando. Nosso medo é abrir a ponte e ter uma fila de carros. É preferível abrir para as pessoas, bicicletas e transporte coletivo e no futuro analisar a questão do automóvel – defende o diretor da Região Metropolitana do Ipuf, Michel Mittmann.
Atualmente, os técnicos envolvidos no projeto estudam valores a serem aplicados nas obras necessárias, por isso o diretor não quis divulgar mais detalhes de como serão os acessos à estrutura. O que Mittmann garante é que, se fosse para veículos, as obras nas cabeceiras seriam maiores e exigiriam mais recursos. Seria necessária uma intervenção, por exemplo, de ligação com a Beira-Mar Norte.
– A quantidade de carros pode impactar significativamente no coração da cidade, que é uma região onde hoje flui – explica.
A Superintendência de Desenvolvimento da Região Metropolitana da Grande Florianópolis, ligada ao governo do Estado, defende que a prioridade seja do transporte coletivo. O superintendente Cassio Taniguchi concorda com a proposta de priorizar os ônibus, mas acredita que não seja o caso de se fazer testes:
– Não gosto da ideia de fazer testes. Se temos projeto, tem que ser operacional. Concordo plenamente que a ponte não deve receber carros. Sempre temos que pensar no maior número de pessoas, e o automóvel transporta apenas 1,2 pessoas em média. Os ônibus têm prioridade tanto quanto pedestre e ciclista.
Engenheiro diz que estrutura vai suportar qualquer veículo
A responsabilidade pela obra de reforma da ponte é do Estado, por meio do Departamento de Infraestrutura (Deinfra). Engenheiro que responde pelo serviço, Wenceslau Diotallevy não quis opinar sobre o que deve ocorrer após o término da obra. Para ele, isso está a cargo da prefeitura. No entanto, garante que o cartão-postal estará pronto para receber qualquer tipo de veículo.
– Vamos entregar a obra pronta, com ciclovia e espaço para pedestres e cadeirantes. Quem vai decidir a direção e como será a passagem é o Ipuf – diz.
Elevação do vão central prevista para outubro
Operários da Teixeira Duarte, empresa portuguesa responsável pela reforma da Hercílio Luz, preparam a estrutura para a segunda fase da etapa mais importante da obra. Na primeira semana de outubro, o Deinfra pretende iniciar a transferência de carga do vão central. Os 54 macacos hidráulicos que serão instalados vão levantar mais 40 centímetros do vão, além dos 10 já elevados em fevereiro deste ano.
A expectativa da equipe é de que o trabalho dure pelo menos quatro noites. Nos próximos dias, uma reunião definirá a necessidade de um plano de contingência como o aplicado na primeira elevação, quando o trânsito da Beira-Mar Norte foi fechado e moradores das proximidades precisaram sair de casa.
– Consideramos que esse momento é mais importante do que o primeiro pela dimensão da elevação. No entanto, estamos mais preparados por conta dos equipamentos de monitoramento e das torres de sustentação superiores instaladas, que vão sustentar as barras de olhal quando elevarmos a carga – garante o engenheiro Wenceslau Diotallevy.
Passada a etapa, inicia-se o que ele chama de nova obra. Começa a substituição das barras de olhal, materiais que ficam na parte superior da ponte e sustentam a estrutura. A previsão de é que a primeira seja cortada e retirada no final de outubro.
Pelo contrato, a reforma deveria ser encerrada em outubro de 2018, mas o governo do Estado já fala em liberar para o trânsito em 23 de dezembro de 2018, com dois meses de atraso. O Deinfra estuda internamente um aditivo de prazo e financeiro que deve ser confirmado até o final de agosto. Após a liberação do tráfego, a Teixeira Duarte ainda precisará desmontar as estruturas provisórias, como as bases submersas na água.
Recursos da Lei Rouanet serão usados para construir memoriais
O Deinfra tem desde 2012 a aprovação do Ministério da Cultura para captar recursos via Lei Rouanet para a reforma da ponte. Inicialmente, a proposta do Estado era aplicar o dinheiro na obra, mas recentemente houve uma mudança de planos. A Fundação Catarinense de Cultura (FCC), responsável pelo projeto enviado ao governo federal, pretende usar os valores para construir dois memoriais do cartão-postal, um em cada cabeceira.
O pedido de alteração foi enviado no final de julho para o ministério. Segundo o presidente da FCC, Rodolfo Pinto da Luz, a proposta do órgão é fazer um concurso nacional junto ao Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB) para a escolha do projeto dos memoriais. No mesmo edital será exigido dos interessados opções de reforma do entorno da ponte, como a região do Parque da Luz, na cabeceira insular.
– O nosso objetivo com os memoriais é que a pessoa possa fazer o trajeto da ponte não só apreciando o visual, mas tendo a dimensão do que foi sua construção. Além disso, o local também receberá exposições temporárias – explica Luz.
Dos R$ 64,5 milhões iniciais desejados pelo Estado, os recursos da Lei Rouanet caíram para R$ 24,7 milhões no final de 2015, uma redução de R$ 39,7 milhões. A justificativa do governo é de que o valor reduzido havia sido aplicado na obra com recursos próprios, sem necessidade de captação. Do total disponível, a FCC conseguiu captar R$ 3,4 milhões. Para as obras dos memoriais serão necessários R$ 7 milhões, de acordo com o presidente da fundação. Ele diz que há conversas avançadas com interessados em colaborar, o que completa o valor estipulado. Dentro dessa meta, no entanto, não está contemplada a reforma do entorno, que deve ocorrer num segundo momento.
(DC, 04/08/2017)
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