Nem o tapume alto de metal, com arame farpado em boa parte, foi suficiente para afastar vândalos da estrutura da Casa de Câmara de Cadeia de Florianópolis, que fica no Centro da Capital, no entorno da Praça XV de Novembro. Sem vigilância 24h, o portão de madeira, que era fechado com cadeado, foi arrebentado possivelmente no fim de semana de Carnaval e deixou o futuro museu literalmente de portas abertas, para qualquer um que se arriscasse a invadi-lo.
Moradores do prédio ao lado confirmam: pessoas desconhecidas já invadiram o espaço, saíram carregadas com caixas, e vândalos tentaram arrancar as calhas.
A porta principal para entrada na obra, que fica na Rua Tiradentes, na manhã de ontem estava escancarada. Dali, era possível ver latinhas de cerveja jogadas ao chão, no meio de madeira e outros materiais de construção. Também se podia confirmar que a porta dos fundos da Casa de Câmara, pintada de verde, estava entreaberta.
Na manhã de ontem, quando a equipe da Hora esteve no local, não havia nenhuma vigilância. Apenas duas viaturas da PM passaram pela rua da Praça XV, quase uma hora depois.
Entre a agência de Correios e a Casa da Câmara, há outra ¿entrada¿ para o espaço histórico. Possivelmente, vândalos arrebentaram o portão de ferro dos Correios, entraram num vão e conseguiram acessar a Casa de Câmara arrebentando parte do tapume.
Por ali, conta o morador e aposentado Júlio Cesar Cardoso, de 60 anos, foi possível ver que pessoas invadiram o espaço e saíram com caixas lacradas de dentro do local. O fato ocorreu no fim de semana, quando a região da Praça XV recebeu milhares de pessoas para os blocos e shows gratuitos de Carnaval (segundo a PM, 170 mil somente no último domingo).
— Aproveitaram a muvuca para fugirem rápido. Chamamos a polícia, mas não encontraram ninguém — contou o aposentado.
Telhas foram retiradas durante a noite
Outro morador flagrou um homem tentando arrancar uma das calhas dos fundos do futuro museu, ainda no fim de semana. Ele berrou ao vândalo, que sumiu antes que a polícia o encontrasse, relatou Júlio.
— Primeiro veio uma viatura, depois chegaram umas cinco, da Guarda Municipal e da Polícia Militar. Mas não encontraram mais ninguém ali dentro — complementou o aposentado.
De cima, ainda é possível que as telhas do telhado novinho também foram retiradas.
— Uma parte das telhas foi retirada no fim de semana e outra na noite desta segunda para terça. Eles deixaram uns sacos brancos para fora, como se deixassem ali prontos para furtarem. Acho que nesta noite (terça para quarta) eles levam — lamenta a dona de casa Albertina Rosa Cardoso, 54.
Ela, inclusive, anos atrás, chegou a explanar e protestar na Câmara de Vereadores pela reforma da Casa de Câmara e Cadeia, que estava abandonada desde 2005, quando a Câmara mudou para a Rua Anita Garibaldi, também no Centro.
— A gente brigou pela reforma, mobilizou muita gente. Vimos a obra acontecer, vimos todos os cuidados que a empresa estava tendo com a construção. O telhado é uma obra de arte. É um absurdo este descaso agora — lamenta a dona de casa.
Prefeitura vai averiguar situação
De acordo com o secretário de Obras de Florianópolis, Luiz Américo Medeiros, a Guarda Municipal está com a responsabilidade da vigilância da Casa de Câmara e Cadeia, assim como de outros prédios públicos. Mas por conta do Carnaval, acabou dando prioridade para segurança de blocos de ruas, dos bairros e da festa no Centro.
— Há um acúmulo grande de pessoas no Centro. Foi um momento propício para o vandalismo — lamentou o secretário.
Segundo ele, a situação seria averiguada já na tarde de ontem e hoje, seria avaliado o que possivelmente possa ter sido furtado no local.
Sem prazo para conclusão da obra
Depois de atrasos por conta escavações arqueológicas e novos prazos que passaram para junho de 2017, a Secretaria de Obras informa que não há uma previsão para que a obra seja entregue. Segundo o secretário Luiz Américo, a antiga gestão deixou a contrapartida da obra que seria da prefeitura, no valor de R$ 2,4 milhões, para a atual administração. E não há dinheiro em caixa.
Com este montante, deveria ser construído um anexo, um prédio atrás da Casa de Câmara, onde ficarão os banheiros, loja do museu e uma cafeteria. O prédio não começou a ser construído e a obra segue parada.
O outra contrapartida, no valor de R$ 4 milhões, arrecadada pelo governo federal através do Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) foi usada para a restauração da casa. Segundo o secretário, todo este valor já foi consumido.
Ele espera que até o final do ano consiga um aditivo para continuar e encerrar a última etapa da obra. Mas por enquanto, não há data para a entrega completa.
Assim que ficar pronto, o espaço passará a ser coordenado pelo Sesc de Santa Catarina, que deve instalar no local o Museu de Florianópolis. O espaço terá 865 metros quadrados e deve retratar a história da capital catarinense desde antes da chegada dos portugueses ao Brasil.
No andar térreo estão previstos espaços para a memória e as histórias da Casa de Câmara e Cadeia, histórias orais de personagens de Florianópolis, exposições temporárias, reserva técnica e ambiente para ações educativas, oficinas e palestras.
(DC, 01/03/2017)
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