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Forte de S.Bárbara resiste ao tempo

De todos os fortes e fortalezas de Florianópolis, o de Santa Bárbara é o mais teimoso e o que resiste à ação do tempo e ao abandono humano por mais tempo. Concluído por volta de 1774, sua construção representou um desafio para a engenharia da época – foi erguido sobre rochas que despontavam nas águas da antiga praia do Canto ou da Vila, na baía Sul, ligado por uma ponte de pedras em arcos cuja parte de cima se mantém.

As únicas imagens que se tem do forte Santa Bárbara são desenhos em cores de viajantes estrangeiros, principalmente os de Jean-François Galaup de la Pérouse (1785) e Adam Krusenstern (1811), além de outros, como Langsdorff e Debret. Entretanto, a edificação, que pode ter sido projetada pelo engenheiro militar português José Custódio de Sá e Faria, logo perdeu sua função de fortificação e defesa do centro da então Vila do Desterro (Florianópolis).
Desde o começo foi guarnecido por uma muralha de cerca 60 centímetros de espessura na parte superior e altura de quase cinco metros. Assim como os arcos da ponte, a muralha permanece, embora a parte de baixo tenha sido aterrada em meados da década de 1970. Tinha a aparência de um sobrado luso-brasileiro, feito em alvenaria de pedras e um só pavimento num único bloco. Possuía cobertura em quatro águas e abrigava os quartéis da tropa, o armazém e a casa da pólvora, com 12 canhões de ferro e um de bronze.

Por alguns anos, na primeira metade do século 19, serviu como lazareto ou hospital de isolamento para portadores de doenças infecto-contagiosas, passando depois ao abandono. Reconstruída mais tarde, abrigou a Capitania dos Portos de Santa Catarina por quase um século a partir de 1875, e o governo do Estado em 1893. Apesar de descaracterizado, foi tombado como patrimônio histórico e artístico nacional em 1984.

A desativação da primeira versão da edificação foi oficializada em 1873, através de um Aviso do Ministério da Marinha, determinando que “se erga no terreno no qual se situa a fortaleza de Santa Bárbara, na Cidade do desterro, prédio destinado à Capitania dos Portos”. No início do século 20, começou o isolamento do forte do mar, com o aterro do largo 13 de Maio, situação que se consolidou na década de 1970.

Desde então, o forte ficou completamente isolado do mar, cercado por areia e argila. As sucessivas intervenções realizadas nas primeiras décadas do século 20 apagaram em definitivo as feições originais do forte, ganhando na década de 1930 as características que se mantêm até hoje – uma fachada geométrica típica do período, perdendo os traços ecléticos que havia adquirido.

Demolição chegou a ser cogitada na década de 1970

O teste final de resistência do forte foi aplicado na década de 1970, quando se falou na sua demolição para dar lugar a um novo sistema viário, causando grande polêmica na Capital. “Vítima de sua estratégica localização, em pleno centro de Florianópolis, o forte reduziu-se a não mais que um mero obstáculo ao prosseguimento das modificações da cidade que se modernizava”, destaca Rosângela de Melo Machado em seu livro “Fortalezas da Ilha de Santa Catarina: Um panorama” (Florianópolis: Imprensa Universitária da UFSC, 1994).

Quase todos os arquitetos envolvidos na obra da via coletora projetada, segundo a mesma fonte, foram “a favor da demolição”, com base em argumentos de que “apenas o valor histórico seria insuficiente para mantê-lo, pois pouco guardava da arquitetura original, devido às radicais transformações que sofrera nas sucessivas reformas”. Um laudo do arquiteto Cyro Correia Lyra, do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), colocou uma pá de cal na tentativa de demolição e ela foi mantida.

Em 2000, o forte de Santa Bárbara foi cedido à Prefeitura de Florianópolis, com termo de transferência assinado dia 23 de março de 2001, tendo sido restaurado sob orientação de técnicos do Iphan. É a sede atual da Fundação Franklin Cascaes, órgão municipal responsável pelas políticas culturais. Com um novo uso, o forte resiste ao tempo. A Sociedade de Amigos da Marinha (Soamar) continua instalada no local.
Celso Martins – AN Capital, 09/01

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