Aberta à inovação, à multiplicidade, às culturas diferentes e livre de preconceitos. Essas são algumas das características de uma cidade criativa, conceito que surgiu nos anos 1990 e, em 2004, foi utilizado pela UNESCO para criar a Creative Cities Network (Rede de Cidades Criativas). Para ser considerada uma cidade criativa, o município não precisa necessariamente estar cheio de indústrias ligadas à criatividade, mas permitir que as pessoas expressem suas ideias e possam se utilizar da criatividade para desenvolver soluções para os problemas urbanos.
Florianópolis foi a primeira cidade brasileira a integrar a Rede de Cidades Criativas da UNESCO, no setor de gastronomia. A Rede tem o objetivo de promover a cooperação entre cidades que identificaram a criatividade como um dos fatores para o desenvolvimento urbano sustentável. Atualmente, 116 cidades de 54 países fazem parte da rota. As representantes brasileiras são, além de Florianópolis, Curitiba (PR), no setor de design; Salvador (BA), na música; Belém (PA), na gastronomia; e Santos (SP), no cinema.
Segundo a arquiteta Laryssa Tarachucky, “Florianópolis é uma cidade criativa por natureza, desde antes desse conceito surgir”. Por possuir fontes de produção e difusão de conhecimento (como universidades, centros de pesquisa e pólos tecnológicos), que permitem que as pessoas tenham um estilo de vida “experiencial” (podendo vivenciar um centro urbano, as tradições açorianas, os esportes radicais…) e o contato com a natureza, a capital catarinense tem grande potencial criativo.
Em locais que não sejam “naturalmente” criativos, é possível desenvolver essas potencialidades. Para Laryssa, é preciso trabalhar para criar uma cultura de “acolhimento ao que é diferente, sem aversão ao novo, eliminando os preconceitos — as inovações surgem do encontro das pessoas com ideias diferentes”.
Cocreation Lab
Um exemplo de centro criativo, um local de encontro entre pessoas com ideias inovadoras, é o Cocreation Lab. Inaugurado em junho, o Cocreation Lab se localiza no segundo andar do Museu da Escola Catarinense, no Centro de Florianópolis. Buscando desenvolver ideias e transformá-las em projetos de empresas e start-ups, o polo de inovação Centro Sapiens, em parceria com universidades e empresas, criou a pré-incubadora e espaço de coworking.
Em março deste ano, o Cocreation Lab lançou um edital para selecionar as melhores ideias que poderiam ser desenvolvidas na pré-incubadora. Dentre os 45 inscritos, dez projetos foram chamados para participar. Estes foram escolhidos por uma comissão julgadora, que avaliou, entre vários aspectos, o grau de inovação e o potencial de mercado de cada projeto.
O Cocreation Lab parte da ideia de que o encontro entre as pessoas gera a inovação: as equipes que tiveram seus projetos selecionados trabalham em um mesmo espaço, onde podem integrar-se e ajudar uns aos outros. As ideias ainda não são projetos formais — é exatamente para isso que estão sendo desenvolvidas na pré-incubadora. Depois de formalizadas, elas partem para a incubadora e a aceleradora, que serão implantadas pelo Centro Sapiens, respectivamente, em 2017 e 2018.
O objetivo do projeto Cocreation é dar retorno à comunidade e à região: trabalhar em conjunto com pessoas que já ocupam a cidade, apoiar instituições e colaborar com o espaço urbano, revitalizando o centro histórico de Florianópolis, para que ele se torne um ambiente propício para o desenvolvimento da Economia Criativa e do patrimônio cultural da cidade.
“Economia criativa é um processo mais criativo do que produtivo”, explica o professor Luiz Salomão Ribas Gomes, professor do curso de Design da UFSC e coordenador do Laboratório de Orientação da Gênese Organizacional (LOGO), um dos parceiros do Centro Sapiens na implantação do Cocreation Lab. A economia criativa engloba modelos de gestão ou de negócio das áreas de design, arquitetura, gastronomia, turismo, educação e, diferentemente da economia tradicional, busca a produção de bens criativos produzidos colaborativamente.
Esse tipo de modelo de negócio permite que a cidade criativa se mantenha em períodos de crise econômica. Segundo a arquiteta Laryssa Tarachuky, é o senso de comunidade e resiliência, a capacidade que a cidade tem de se reinventar que fazem com que o desenvolvimento não seja interrompido. Economia criativa é buscar soluções mais assertivas e mais duráveis para os problemas urbanos. “Quando se opera uma mudança positiva, muda para todos. A população se beneficia com a mudança de ambiente e o despertar de uma consciência coletiva. As pessoas se esquecem que são elas que constroem a cidade e elas que vivenciam o espaço, e é preciso devolver a cidade para as pessoas”.
( Cotidiano Ufsc, 04/07/2016)
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