Pouco mais de um mês após a assinatura do novo contrato emergencial, a equipe que trabalha nas obras da Ponte Hercílio Luz está prestes a concluir as primeiras peças que serão anexadas à estrutura de sustentação inferior do cartão-postal. A expectativa da Empa – empresa que executa os serviços – e do Departamento Estadual de Infraestrutura (Deinfra) é que no começo de dezembro a primeira treliça de metal seja posicionada entre as duas torres mais próximas do lado continental de Florianópolis.
Hoje, no canteiro de obras, duas armações de vigas metálicas com 80 toneladas, 30 metros de comprimento e seis de altura, estão em vias de finalização. Quando concluídas, elas serão levadas de balsa pelo mar até a ponte, onde serão içadas para que fiquem no mesmo nível das torres de sustentação. Após o traslado e o erguimento, elas serão soldadas. Até o começo de abril, quando se encerra o prazo do serviço, ao todo cinco armações devem passar pelo mesmo processo.
O engenheiro responsável pelas obras por parte do Deinfra, Wenceslau Diotallevy, explica que as cinco treliças metálicas justapostas formarão um leito em que serão posicionados 54 macacos hidráulicos, fundamentais para a etapa de “transferência de carga”. Trata-se de do momento mais delicado do trabalho, quando todo o peso do vão central da Hercílio Luz (cerca de cinco mil toneladas) será colocado sobre a sustentação inferior para que se possa realizar, finalmente, o restauro do cartão postal.
Ele também garante que as obras estão dentro do cronograma, apesar do intenso período de chuva no Estado. Conforme Diotallevy, tempo instável e ventos fortes prejudicam os trabalhos de soldagem das vigas, que é a operação básica nas treliças.
Um dos engenheiros portugueses da Empa diz que, durante o cumprimento do contrato anterior, foram mais de 40 dias de chuva. Nota também, que desde o começo de outubro o tempo não deu trégua em SC.
– Certa vez trabalhamos numa ponte em Moçambique num período de chuva parecido com este agora em SC. Chegamos até a procurar um feiticeiro para nos ajudar – conta o engenheiro, em tom de brincadeira.
O primeiro contrato com a Empa, no valor de R$ 10,5 milhões e com dispensa de licitação, foi firmado em abril deste ano e previa a construção das quatro torres de sustentação, com término em outubro. Agora o novo contrato, assinado em 6 de outubro, será voltado para a conclusão de toda a “Ponte Segura”. Com isso os trabalhos emergenciais na Hercílio Luz terão um ano de duração com custo total de R$ 21,9 milhões.
Gasto de R$ 500 milhões já entrou em pauta no TCE
A ação do Ministério Público de Contas (MPTC) que aponta o comprometimento de R$ 562,5 milhões nas obras da Ponte Hercílio Luz desde sua interdição em 1982, está para ser analisado pelo pleno do Tribunal de Contas do Estado (TCE) sob relatoria da conselheira Sabrina Nunes Iocken. A matéria entrou duas vezes em pauta (dias 4 e 9 de novembro), mas foi retirada a pedido da relatora e não há previsão de retornar nas próximas sessões.
Segundo a assessoria de comunicação do TCE, a ação foi removida para a verificação de “aspectos de contato” com outro processo que também trata da ponte Hercílio Luz – o que prevê aplicação de multas a responsáveis do Deinfra por supostos descumprimentos da Lei de Licitações.
Para o procurador Diogo Ringemberg, autor da ação do meio bilhão, a urgência da votação recai sobre dois pedidos liminares: uma que determina a notificação oficial de risco de desabamento da ponte às pessoas que moram nos arredores da ponte e outra que trata da produção e ampla divulgação de um plano de contingenciamento em caso de colapso.
– O ressarcimento aos cofres públicos deste dinheiro, embora importante, pode ser discutido posteriormente. O que não pode é demorarmos para botar em ação estas duas medidas, pois sabemos que há risco real de desabamento da ponte – afirmou o procurador.
Últimos fatos sobre a ponte:
– Em agosto de 2014 o governo de SC rescindiu contrato com o Consórcio Florianópolis Monumento, até então responsável pela restauração da Hercílio Luz. Os trabalhos de construção da estrutura de sustentação foram retomados em abril de 2015 pela Empa.
– A Empa torna-se responsável por finalizar a construção de quatro torres de sustentação, que integram as “obras emergenciais” da ponte.
– Ao final de setembro, o MPTC finaliza uma representação em que aponta o comprometimento de R$ 562,5 milhões nas obras da ponte desde sua interdição em 1982.
– Em outubro de 2015 a Empa conclui a construção das quatro torres e, no dia 6 de mesmo mês, assina novo contrato com dispensa de licitação com o Deinfra, ficando responsável por montar as demais treliças metálicas.
– No mesmo mês a empresa American Bridge – norte-americana que construiu a ponte na década de 1920 – desiste de assumir a etapa final de restauração da estrutura. A companhia vinha sendo assedada pelo governo estadual desde fevereiro de 2015.
(Diário Catarinense, 12/11/2015)
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