(Por Sergio da C. Ramos, DC, 19/09/2015)
Ainda não sabemos se a American Bridge, sucessora da Byington & Sundstrom, construtora da ponte Hercílio Luz, aceitará ou não a missão de restaurá-la. Tarefa de uma complexidade exaurida pelo decurso do tempo. O governo parece já saber a resposta, mas ainda aguarda a oportunidade de anunciar mais esta frustração.
Se do ponto de vista da engenharia de pontes já não é mais factível a sua restauração, benzamo-nos a Deus. A ponte continuará assim, bela e inútil, “per secula seculorum”.
Talvez a solução esteja em retroagir aos anos 1920, época em que a ponte foi construída em pouco mais de dois anos. De janeiro de 1924 a maio de 1926. Isso em plena Belle Époque, quando o Brasil industrial ainda não existia e sequer fabricava um parafuso.
Tudo começou em 1922. Mas os dois primeiros anos do sonho do governador Hercílio Luz foram gastos num litígio jurídico. O Estado contraíra um empréstimo de cinco milhões de dólares junto a um banco americano, a casa Imbrie & Co. Para o supremo azar dos catarinenses, o banco estava “alavancado” e, depois de emitir títulos com o aval do Estado catarinense, faliu estrepitosamente. Os picaretas americanos foram em cana. Mas o contribuinte pagou a conta, obrigando-se a honrar a garantia e remunerando os portadores dos papéis.
Depois de um segundo empréstimo, em outro banco, a obra saiu do papel. Pagou-se há pouco mais de 40 anos, no início dos anos 1970. Quem pagou a última promissória foi o já falecido governador Ivo Silveira.
No Brasil, em se tratando de obras e contratos, tudo é um imbróglio. Leis exóticas, como a de licitações (8.666) – que trata da mesma forma obras diferentes, seja a construção de uma ponte ou o fornecimento de um jantar – conduzem a adiamentos e postergações. Qualquer obra – um túnel, um viaduto, uma ponte – significa a extensão indefinida dos prazos de entrega, num clima de incerteza jurídica e administrativa.
Uma obra que deveria durar três ou quatro anos se arrasta por 10, 15 – a vida de uma geração. Há obstáculos de todos os tipos, desculpas para tudo e para nada. Ora é uma nova “aldeia indígena”, ora o abalado “sossego de uma caverna de morcegos”, ora um rio aflito pelo susto que as obras infligirão às suas piavinhas…
É o Brasil bacharelesco – e imóvel. Só o que se move é a ambição dos governos de cobrarem mais impostos dos seus mal servidos súditos.
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