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Salve a casa amarela

(Por Sergio da Costa Ramos, DC, 05/08/2015)

Salve o Mercado que hoje ressurge das obras, com o glamour que merece e com a compulsiva saudade dos que o carregaram no peito e no céu da boca nestes últimos 12 meses.

Salve os Chiquinhos Peixeiros, o Beto do Box 32 e a Maria – fiel guardiã da boa mesa de uma “raça” que lá se homizia às sextas-feiras.

Salve o velho Periquito, dono de açougue, de cujas alcatras nutri minha respeitável circunferência desde a primeira infância. Salve o Goiano, humilde casa de pasto do vão interno, que servia uma dobradinha e uma losna inesquecíveis – aquela infusão única, pinga com vermute, também conhecida como “erva-do-fel”, absinto inebriante, com “apenas” 70% de teor alcoólico.

Salve o Mercado Novo, que hoje ressurge para um novo ciclo de sua história, mas que saberá devolver ao povo a identidade dos seus cheiros e o chamariz dos seus tipos populares. Salve o Nego Benjamin, “carregador” de compras, que emprestava suas largas espáduas ao equilíbrio de dois cestos nas pontas de um pau de canga. Assim cumpria honestamente sua missão de levar o alimento adquirido pelas famílias de Floripa, nos idos dos anos 1950. Obrigado, Nego Benja! Deus te pague o suor e a musculatura, cipós que transportaram víveres e sustanças para o Largo Treze de Maio, onde morava o “Doutor Rúbis” e os seus fortinhos.

Além dos tabuleiros de frutas, fascinava-me, no Mercado dos anos 1950, o bazar onde se ofereciam pássaros ornamentais, galinhas e perus para o consumo – espécie de “Praça dos Pombeiros” herdada do Mercado Velho. Aos sábados, depois da missa, os feirantes expunham aos fiéis as mercadorias trazidas de Trás do Morro, Saco dos Limões, Costeira do “Prejibaé” ou do “Trucubi”, corruptela mané para Itacorubi.

Obrigado, senhor prefeito, obrigado, Nego Benja, obrigado, Beto do Box e todos os demais inquilinos que dão vida nova à ressuscitada Casa Amarela!

Já prelibo o sabor das ovas fritas e a boca embuchada pela ingestão de duas grandes rodelas.

Há cheiros que valem uma vida. O primeiro que emerge da minha infância é o cheiro de terra molhada. O segundo é o que vou respirar agora, cujo cheiro é também o das fraldas da ilha mais formosa dos Mares do Sul.

 

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