“Se a função da escola é complementar a educação da família, temos que nos adaptar”. A análise da diretora Jaqueline Azevedo, da Creche Ingleses, no Norte da Ilha, sobre a função social das instituições de ensino, vai ao encontro do projeto de lei 15.203/2013, que institui a merenda vegetariana na rede municipal de ensino de Florianópolis. A matéria vinha sendo debatida há cerca de um ano e foi aprovada pela Câmara de Vereadores ontem, em segunda votação. Agora, o projeto segue para sanção do prefeito César Souza Júnior (PSD).
A merenda vegetariana será um cardápio opcional, para quem requisitar. A refeição que é servida aos alunos continuará sendo oferecida nas escolas e creches.
A Secretaria Municipal de Educação, por sua vez, se colocou contra a proposta, por entender que a ausência de proteína animal na alimentação não é benéfica para as crianças. “Sabe-se que há uma baixa ingestão de nutrientes por conta da ausência de proteínas de alto valor biológico, de ferro, vitamina B12 e ácido fólico”, informou a secretaria por meio de assessoria de imprensa. “Além disso, os cardápios de alimentação são elaborados utilizando mais de 50 itens de grupos alimentares variados, incluindo frutas, verduras, cereais e legumes, o que dá a opção para os alunos vegetarianos”, completou.
Por outro lado, diversas autoridades em nutrição, como a American Dietetic Association, afirmam que “uma dieta contendo boa variedade de grãos, legumes e vegetais fornece proteína o bastante, sem a ‘superdosagem’ a que a maioria das pessoas que comem carne está exposta”. Para justificar a proposta, o vereador Afrânio Boppré (Psol), autor do projeto, afirma que “a escola, quando recepciona estudantes com orientação nutricional vegetariana, não deve oferecer proposta oposta ao esforço familiar, dando plena liberdade para a educação alimentar”.
A diretora da Creche Ingleses, que conta com 263 crianças matriculadas, concorda com o vereador e acredita que o fundamental é fomentar uma alimentação saudável. “[A proposta] é viável. Poucos têm a opção de conhecer a alimentação vegetariana e como estamos em uma unidade de ensino infantil, fica bem mais fácil de incentivar hábitos saudáveis”, disse Jaqueline.
Em um mundo onde são consumidos em larga escala diversos alimentos industrializados, geralmente com alto teor de açúcar e gordura, uma em cada três crianças brasileiras de 5 a 9 anos está acima do peso. Este fato levou, inclusive, a OMS (Organização Mundial da Saúde) a tratar o problema como uma epidemia mundial de obesidade. “Com tantos alimentos industrializados atrativos, as crianças crescem com uma má referência e com o paladar viciado”, explicou a nutricionista Renata Maluly, da Risotolândia, empresa especializada em alimentação escolar que atua nas escolas estaduais de Santa Catarina.
Uma portaria municipal já proíbe frituras e refrigerantes nas escolas da Capital, mas a Creche Ingleses foi ainda mais longe. Por meio de uma horta comunitária, cuidada pelas crianças, sob supervisão dos professores, a escola fomenta nos alunos o hábito de cultivo e consumo de produtos orgânicos. “São dez canteiros para 12 salas, assim, somente os bebês não participam. As crianças mexem na terra, plantam e brincam com os bichinhos. É um espaço de brincadeira, não só de plantio”, contou a professora Tomázia Duarte dos Santos, 47.
Este ano, os alunos da creche já plantaram cebolinha, salsinha, couve, alface, beterraba, cenoura, batata, chuchu e tomate. Emily Duarte e Aurora Balestrini são algumas das crianças que aprovam a merenda saudável. Emily gosta das verduras e ajuda aregar a horta da creche.
Segundo a diretora, a creche ainda tem outras maneiras de incentivar o consumo de alimentos saudáveis. “Muitas vezes, as crianças passam direto pela salada. Então, temos incentivadoras que vão até elas e oferecem novamente, sempre com uma brincadeira pedagógica”, afirmou.
(Notícias do Dia Online, 17/06/2015)
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