Fábio Ventiniglia, 53 anos, gaúcho, chegou à Capital nos idos de 1980. Ele ainda teve o prazer de conhecer os descampados de Jurerê e Canasvieiras. Tornou-se hoteleiro. Agora é dono de uma oficina mecânica. Clóvis Ventiniglia, 53 anos, paulista, chegou em 1989. Trouxe esposa e filhos. – Naquele tempo, eu esquecia meu carro com janela aberta no Centro e nada acontecia. Agora, não dá mais – diz.
Clóvis empreendeu. Tem um escritório de arquitetura e é sócio do Fábio na oficina. Aluysia Maria Navarrete, 52 anos, comerciante; e Edson Márcio Azevedo, 59 anos, militar aposentado, são casados.
Também paulistas, vieram para a Ilha há seis anos, à procura de qualidade no viver.
– Eu queria que mais ninguém viesse para cá. Isso terá reflexo no futuro – diz Aluysia, com um sorriso de “mea-culpa”.
O casal tem uma loja de produtos artesanais. Já foram duas, mas os negócios estão difíceis.
– Acho que vamos fechar e viver do meu ordenado – conforma-se o marido.
Dias difíceis ou não, o quarteto traduz o porquê da expansão econômica da Capital nas últimas duas décadas. A cidade cresceu com os “forasteiros”. Até o mais bairrista dos manés – mesmo contrariado – acaba por concordar com isso.
Junto com o boom populacional, Florianópolis aliou os segmentos mais óbvios (comércio, serviços, imobiliário) às belezas naturais para formar a indústria limpa (empresas de tecnologia e de turismo). Como afirma a presidente da FloripAmanhã, uma ONG para o crescimento sustentável, a cidade tornou-se referência mundo afora.
– Nós somos uma grife nacional – ressalta Anita Pires.
Por conta disso, Florianópolis desponta, segundo edição da primeira semana de julho, da revista norte-americana Newsweek, como um dos 10 centros urbanos mais dinâmicos do mundo. E a expressão aí traduz-se em crescimento, sem que se reverta em prejuízo ao lugar.
Para a Newsweek, Florianópolis acertou ao voltar-se para a educação. Por isso, é tida como uma das mais escolarizadas do Brasil.
– O ar juvenil de Florianópolis e da empresas que aqui estão se instalando colaboram para que mais jovens venham para cá – explica Hugo Sérgio Dittrich, presidente da Associação das Empresas de Tecnologia (Assespro/SC).
O setor, diz o gestor, é o que mais contribui com ISS à municipalidade: R$ 10 milhões por ano. Isso é fruto de crescimento histórico anual de 10%, que é abastecido, sobremaneira, pelos profissionais formados pelo Centro Tecnológico da Universidade Federal de SC.
A tecnologia em Florianópolis, revela Dittrich, fatura R$ 500 milhões por ano: esforço de 200 empresas (80% micro ou pequenas) que empregam oito mil jovens, com perfil de até 30 anos, críticos, independentes e de ótima formação acadêmica.
– O futuro nos preocupa por causa do nosso crescimento. O poder público não acompanha a transformação da sociedade. Precisamos de um novo pólo tecnológico, de infra-estrutura, de mais profissionais e, principalmente, de uma entidade pública para fazer essa ponte entre as empresas e o poder público – analisa Dittrich.
– Florianópolis tem que aliar a sua vocação para incentivar os jovens ao empreendedorismo, à criatividade nos negócios, ao turismo qualificado – pede Antônio Milioli Filho, presidente Associação Catarinense das Fundações Educacionais (Acafe).
Apesar de o Estado ser o segundo destino de turistas estrangeiros no Brasil – e Florianópolis uma das preferidas entre os gringos -, segundo a Santur, Anita Pires diz que, na Capital, as empresas de tecnologias já empregam mais que as de turismo. Para ela, daqui 15 ou 20 anos, a cidade poderá não aparecer mais como uma das terras mais dinâmicas, se o turismo não se assentar sobre o planejamento urbano a longo prazo.
– Florianópolis ainda não entendeu que precisa pensar o seu futuro.
(Felipe Faria, DC, 11/09/2006)
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