A cassação do alvará concedido pela administração municipal anterior para a edificação de um complexo hoteleiro na Ponta do Coral, em Florianópolis, é tema que ainda motiva polêmica e debates acalorados, não raro movidos mais pela paixão do que pela razão.
Oportuno lembrar que esse debate se insere numa dimensão maior, qual seja a da necessidade e da urgência para a definição e implantação de um novo plano diretor capaz de ordenar a expansão e garantir melhor qualidade de vida aos munícipes.
Com efeito, por envolver a destinação de um dos recantos mais bonitos e valorizados da Ilha de Santa Catarina, o tema é de interesse público, sim, e precisa ser analisado sob este prisma e com rigor técnico.
Registre-se que, a exemplo do hotel e da marina pretendidos na Ponta do Coral, outros projetos semelhantes também causaram polêmica e movimentaram a opinião pública mundo afora. Em nossa edição de segunda-feira, analisamos alguns deles, como o do Parque Nacional do Mont-Orford, no Canadá, do Marina Bay Sands Hotel, em Singapura, do Conservatório do Litoral, na França, e do W Hotel Barcelona, na Espanha. Este último é, em tudo, semelhante ao da Ponta do Coral e, ao contrário da versão catarinense, teve um encaminhamento mais célere.
Primeiro hotel construído à beira-mar na Espanha – uma exceção na lei costeira daquele país –, o estabelecimento comercial da rede Starwood foi incluído no plano de modernização urbana e renovação do litoral de Barcelona, uma cidade que preza o urbanismo. Foi construído em uma área pública de aterro. Inclui um espaço público aberto para o mar e uma marina. Sua inauguração, em 2009, foi antecedida por debate público e acurados estudos técnicos. Como deve ser.
Repita-se o que a respeito já foi dito nesta página: a ocupação racional do espaço urbano, planejada com rigor, é impositiva, sob pena de o caos nelas se instalar de vez. Trata-se de um trabalho a ser feito além e acima de interesses meramente econômicos e eleitorais, subordinando-se a critérios técnicos, além de submetido a uma fiscalização atuante, permanente e severa em nome do interesse público.
Os exemplos dos empreendimentos internacionais analisados pelo DC sinalizam para este rumo. Não será demasia lembrar que sempre é possível conciliar o ideal da preservação ambiental com a expansão da economia, desde que seja resguardada, por evidente, a qualidade de vida da população, eis que este é um valor maior.
O que se espera no caso Ponta do Coral é um encaminhamento do assunto, deixando para trás a habitual falta de ação, a lentidão. A área é muito nobre para estar cada vez mais distante do usufruto da população.
Como bem diz o cronista Sérgio da Costa Ramos: “A cidade teme que o pior aconteça: nada”. Como bem diz o cronista Sérgio da Costa Ramos:
“A cidade teme que o pior aconteça: nada”.
(DC, 05/06/2013)
População opina sobre as propostas para o terreno
Até a noite de ontem, a página especial sobre a Ponta do Coral no site do Diário Catarinense recebeu 247 comentários sobre as duas propostas em debate para a área em Florianópolis. O DC selecionou 10 opiniões. A cidade continua dividida quando o assunto é o destino da Ponta do Coral. Acesse www.diario.com.br para ler todas as reportagens da série Polêmica na Ilha publicada entre domingo e terça-feira nas edições impressas e dê sua opinião sobre o futuro do terreno.
A favor do complexo
“Sou favorável, pois, além de dar um destino ao local, irá proporcionar empregos diretos e indiretos e atrair turistas de alto padrão. A área está sem utilização há muitos anos, sendo usada para fins ilícitos. Bastou o anúncio de um empreendimento de alto nível para a mobilização contrária. Deveriam protestar contra a ocupação desordenada dos morros de nossa cidade. Esse mesmo movimento deveria lutar pelo fim das construções clandestinas nas praias, pela melhoria no atendimento da saúde, pela diminuição da criminalidade.”
Rogério Filomeno Machado
Florianópolis
“Sou completamente a favor da construção! A prefeitura não terá recursos próprios para desapropriações e isto se arrastará por anos e anos. A cidade mais uma vez deixará passar a oportunidade de investimento, criação de empregos e oportunidade de ter um local de lazer, infelizmente.”
Gustavo Fagundes
Florianópolis
“Conheço Florianópolis há 50 anos. Acho muito interessante novas propostas para o local. Aquilo sempre foi um lugar muito atirado, sem benefício para a população. Da maneira prevista, haverá melhorias e o uso digno de uma área que será muito linda e atrativa a todos.”
Ricardo Falkenberg
Porto Alegre (RS)
“Totalmente a favor. Florianópolis precisa urgentemente se consolidar como destino turístico. A área triangular central não oferece atrativo nenhum ao turista, exceto alguns edifícios tombados.”
Mario Acampora
Florianópolis
“Aquele pedaço de terra serve para depósito de lixo. A vegetação ali existente não é endêmica e não está em extinção. Por qual razão os ecologistas brigam tanto pela manutenção daquele lixão? Melhor seria vincular a construção do complexo com um projeto ambiental.”
Rogério Gonçalves
Balneário Camboriú
A favor da área pública
“Sou totalmente contra. O projeto enterra de vez a identidade ambiental, social e cultural da Ilha. Não é preciso ir muito longe pra ver que o futuro turístico está no resgate da identidade local. Os turistas valorizam muito mais isso do que este projeto brega copiado de Dubai e Malibu. Nossa arquitetura natural é muito melhor e já está pronta.”
Letícia Weigert
Rancho Queimado
“Sou a favor do turismo e do crescimento responsável, por isso gostaria desse projeto em outro lugar. Por que na Ponta do Coral? Não podemos preservar este lugar?
Rodrigo Vieira
Florianópolis
“Sou totalmente contra. Quando visito Floripa e SC a coisa que mais reclamo é que na maioria das praias não há uma avenida com vista para o mar, em função de falta de plano diretor e o egoísmo da maioria das pessoas que constroem quase dentro do mar para poder aproveitar e explorar financeiramente. Permitir esta construção é mais um absurdo público.”
Edmir Adam
Curitiba (PR)
“De iniciativa pública, sem hotel, com marina pública e terminal de passageiros, com praça e um aquário marinho para visitação, com estacionamento e lanchonete, tudo alto padrão. Particular irá superlotar por visar lucro, congestionar a Beira-Mar. E, sem aterro e destruição da natureza e no estilo açoriano.”
Reinaldo Di Bernardi
Florianópolis
“Não concordo com a construção do hotel porque a venda do terreno é contestada desde 1980. O povo quer de volta o que era seu. Também inviabiliza a construção de nova pista de rolamento na Beira-Mar, não descartada frente ao crescimento da cidade. Eu e outros queremos desfrutar da paisagem da Beira-Mar bela como é hoje, livre de artificialismo.”
Marcial Martins Veiga
(DC, 05/06/2013)