O uruguaio Ignácio Lucerna, 44, já perdeu a conta das vezes que deixou os passageiros na porta do hotel ou do restaurante, e foi obrigado a manobrar o ônibus da EGA (Empresa General Artigas) por ruas apertadas de Canasvieiras, Ingleses, Jurerê ou Praia Brava, até encontrar espaço apropriado para estacionar. Desta vez se revezando no volante com o colega Alberto Canobio, 57, ele conhece o trânsito local tão bem quanto fala o portunhol, resultado de 12 anos de idas e vindas transportando turistas conterrâneos a Santa Catarina.
“Trafego pela 101 desde quando era só pista dupla, e já ficamos cinco horas dentro do ônibus para do Norte da Ilha a Balneário Camboriú”, diz Lucerna. Mas é ao chegar em Florianópolis que Lucerna entende o estresse diário do colega de profissão Paulo Roberto Vaz, 35, funcionário da Empresa Canasvieiras, há oito anos no transporte urbano da cidade.
“Os bairros cresceram sem planejamento viário, e não é fácil circular por vias com carros estacionados inclusive nas esquinas”, reconhece o uruguaio. Além de estacionamento irregular em vias estreitas, Vaz diz que sinalização deficiente e excesso de “carros de fora” inviabilizam o cumprimento da planilha de horários.
As experiências relatadas pelos profissionais são confirmadas pelas estatísticas do diretor de tráfego da empresa Canasvieiras, Jucélio Santana, 53, que no verão “faz ginástica” para atender a demanda de passageiros. Na temporada, férias escolares e recesso de fim de ano em parte do serviço público transferem para as praias os gargalos do trânsito urbano da cidade.
“Há casos de viagens de 35 minutos que viram uma hora e meia. Em algumas linhas, usamos três ônibus quando poderíamos resolver com apenas um”, diz. Entre os pontos críticos a Praia Brava é emblemática. “Houve situações de ônibus ficar trancado cinco horas lá”, diz Santana. No Leste, as filas se estendem entre o centrinho da Lagoa, avenida das Rendeiras e SC-404.
Preocupado em “não vender ilusões”, o atual responsável pelo planejamento do trânsito em Florianópolis, Adriano Roberto de Souza, 34, pretende priorizar o transporte coletivo. “Mas, primeiro preciso inteirar da situação”, argumenta. Técnico de carreira da prefeitura, ele ficará na função só até 31 de janeiro.
Corredores exclusivos para ônibus ajudariam a esvaziar ruas
Cada ônibus com lotação máxima permitida, em torno de 80 passageiros, retira pelo menos 50 carros de passeio das ruas da Capital, onde o Detran-SC (Departamento Estadual de Trânsito) registrou, em média, acréscimo de 2% nos licenciamentos, entre janeiro e novembro deste ano. Dividida entre os 421.201 contabilizados pelo IBGE no Censo de 2010, a frota representa 2,6 habitantes por automóvel.
Para Valdir Gomes da Silva, presidente do Setuf (Sindicato das Empresas do Transporte Urbano de Florianópolis), a conta é simples. E uma das alternativas para desafogar o trânsito do Centro e bairros mais populosos é mais lógica ainda. “É preciso criar três corredores para manter a velocidade média e dar mais eficiência ao sistema”, diz o empresário, que defende pistas exclusivas nos principais acessos ao Continente e às praias do Norte e do Sul da Ilha.
Pelas contas das empresas, os engarrafamentos oneram as despesas com combustível e mão-de-obra em pelo menos 3%. “Além disso, quanto mais lento, menos pessoas transportadas. Os ônibus saem do terminal no horário certo, mas as planilhas se perdem nas filas”, argumenta Silva.
A consequência é a necessidade de número maior de ônibus em circulação para atender a mesma demanda de passageiros de uma década atrás. “Há dez anos, com 370 carros, transportávamos por mês o mesmo número de usuários (5.300.000) com a frota de hoje, com 450 coletivos”, confirma o empresário. Silva critica o abandono do corredor implantado em caráter experimental, há um ano, na ponte Colombo Salles, entre a Ilha e o Continente. Sem fiscalização, carros pequenos em direção ao Estreito ocupam o espaço que deveria ser usado apenas por ônibus.
“Virou bagunça, falta vontade política”, denuncia. De acordo com levantamento do Setuf, enquanto funcionou o corredor da Colombo Salles melhorou em 40% a velocidade dos ônibus, apesar da subida íngreme, porque é possível manter um comboio em velocidade constante com distância de segurança. O sindicato reivindica, também, sincronização dos semáforos da cidade e preferência para acesso e saída do Ticen (Terminal de Integração do Centro).
Frota em 2012 em Florianópolis
Automóveis
Janeiro – 198.580
Novembro – 204.177
Caminhões
Janeiro – 3.548
Novembro -3.630
Ônibus
Janeiro – 1.737
Novembro –1.769
Fonte: Detran-SC
Transporte coletivo
Passageiro/mês: 5.300.000
Frota: 450 ônibus
Empresas: cinco
Fonte: Setuf
(ND, 18/12/2012)
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