A mudança de hábitos acelera a vida do Bairro Estreito, em Florianópolis. Se antes as casas tinham os fundos virados para o mar, hoje a briga é por um espaço à beira da água. A transformação em um novo cenário tem como motivo principal a Beira-Mar Continental. À luz do dia, a obra não deixa a desejar. O espaço passou de abandonado a ponto de lazer, o asfalto é novo e a vista inspira. Entre a ciclovia e a calçada, bicicletas, caminhadas e corridas ampliam a qualidade de vida dos moradores. Mas, basta anoitecer para a tranquilidade virar pesadelo. Não há postes de iluminação nem policiamento. A obra, iniciada em 2006, está incompleta e sem data para terminar. Enquanto isso, à noite, a insegurança é a companhia de quem se arrisca a passar por ali.
(DC, 17/06/2011)
É tempo de mudança
Inácio Maycot, 72 anos, conhece o bairro como a palma da mão. Nascido no Estreito, conheceu a esposa, criou quatro filhos e montou a primeira loja de ferragens. A rua antes era de areia, depois de pedra, hoje de asfalto. Na cobertura de um prédio que construiu há 42 anos, o aposentado de cabelos brancos, observa a nova vizinha:
– A Beira-Mar Continental é a prova de que o Estreito está ganhando o valor que sempre mereceu. Ela veio nos beneficiar. O comércio está crescendo, as pessoas estão mais felizes, o movimento aumentou. Antes, o bairro era abandonado. Só fico triste pela demora. Já vi ela ser inaugurada duas vezes, mas nunca a vi em movimento. Também acredito que deveriam ter feito quatro pistas e não duas – lamenta.
Pensando no futuro, ele lembra do passado. Até pouco tempo atrás,
as casas ficavam de costas para o mar e a especulação imobiliária não
existia. Hoje, terrenos de 400m², por exemplo, passaram a valer de
R$ 400 mil para R$ 2,5 milhões. Outra mudança que impacta na estrutura do Estreito é a de comportamento. De acordo com o
presidente da Associação de Moradores Amigos do Estreito,
Édio Fernandes, em um ano, o projeto da nova avenida de ser um espelho da Beira-Mar Norte deve estar concluído.
(DC, 17/06/2011)
Para a saúde ficar
A vida de Ana Carolina Costa, 30 anos, mudou. Ela não perde mais tempo atravessando a Ponte Pedro Ivo para levar seu cachorro para passear, nem tira o carro da garagem nos finais de semana para caminhar em São José. Se antes dava preguiça no final de tarde, hoje sobra disposição. Morando há três quadras da Beira-Mar Continental, ela leva o yorkshire Frederico para fazer xixi três ou quatro vezes por dia, o que antes seria impossível. O que mais inspira a mudança de hábito, além da praticidade, é a vista:
– Eu e meu pai viemos para cá nos finais de tarde.
É um ar diferente, uma paisagem linda. Aqui fizemos tudo o que não fazíamos antes. Caminhamos, relaxamos e até perdemos uns quilinhos. Só o fato de não encarar uma fila na ponte para passear, é uma vantagem enorme.
Mas nem tudo são flores. A falta de lixeiras, bancos e gramados deixa os moradores descontentes com a obra. O local, tão lindo, acaba sendo invadido pelo lixo de boa parte das pessoas que o frequentam.
(DC, 17/06/2011)
Bom para os negócios
O Continente está remodelado. Em um ano, 25 prédios de 12 a 16 andares foram ou estão sendo construídos. Apartamentos existentes ficaram valorizados e os que estão por vir investem no alto padrão. O presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil (Sinduscon) de Florianópolis, Hélio Bairros, afirma que o lugar está visado pelos consumidores. Segundo ele, a comodidade e o desenvolvimento devem atrair ainda mais.
– Os condomínios investem em espaços nobres como fitness center, lounge coberto, brinquedoteca. Para quem quer investir, o Estreito é o lugar – garante.
Um bom exemplo deste investimento é o restaurante Kretzer Grill. O empresário Guilherme Kretzer da Silva, 25 anos, pesquisou locais que iam de Coqueiros a Barreiros e escolheu o Estreito:
– Vimos que o bairro está em ascensão e necessita de bons restaurantes, local mais reservado para almoços de negócios, por exemplo. Em três semanas, já tivemos bons retornos. E isso é a consequência da Beira-Mar.
(DC, 17/06/2011)
Com postes, mas sem luz
Se, por um lado, só há benefícios, por outro é a insegurança que atormenta. Nos seus 3,5 quilômetros de asfalto, a Beira-Mar não conta com iluminação, mesmo com postes já instalados. À noite, motoristas circulam na via sem autorização e os pedestres ficam à mercê da sorte.
Tatiana Schnider, 23 anos, mora no bairro há um mês. Desde que chegou, torce pelo dia em que poderá ver o pôr do sol na calçada da Beira-Mar e curtir a noite em bares que ainda não existem ali. Enquanto isso, fica apenas poucos minutos observando as luzes da Ponte Hercílio Luz:
– Não dá para arriscar. O ideal seria ter luz, bancos e policiais circulando. Se os postes já estão aqui, não vejo motivo para não ligá-los.
A chuva também incomoda. Como a obra é mais alta que as outras ruas, como a Heitor Brum, e não tem escoamento, os alagamentos são constantes.
(DC, 17/06/2011)
Promessa de solução é no final do ano
A prefeitura de Florianópolis promete que a Beira-Mar Continental ficará pronta até o fim do ano. Mas, para ser finalizada, a obra ainda precisa de quatro desapropriações para poder cruzar por baixo da Hercílio Luz e chegar até as pontes Pedro Ivo Campos e Colombo Salles. Segundo o secretário de Obras de Florianópolis, Luiz Américo Medeiros, as desapropriações estão sendo discutidas na Justiça, e estão na “iminência de serem concluídas”.
– Quando começar, espero que seja até o fim do mês, precisamos de mais seis meses de trabalho para concluir a obra. Depois que a desapropriação for feita, o trabalho será rápido – diz.
Sobre os postes de luz, instalações de bancos e gramado, o secretário afirma que o processo de finalização deverá ser realizado nos próximos meses, melhorando a segurança de quem já se beneficia do espaço. A assessoria da Polícia Militar garantiu que rondas são feitas na via e prometeu fortalecer o policiamento durante a noite.
(DC, 17/06/2011)
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