Custo elevado de terrenos, sazonalidade e preços de diárias mais baixos afastam redes estrangeiras da Ilha
Uma das cidades turísticas mais cobiçadas e movimentadas do país, Florianópolis não exerce o mesmo fascínio e poder de atração diante de grandes grupos hoteleiros. A ilha e suas praias paradisíacas estão distantes dos radares de novos investimentos na área do turismo, abrindo espaço para que outras cidades sem as mesmas belezas naturais subam no ranking.
Bandeiras famosas em todo o mundo, como Sheraton, Hilton e Transamérica estão distantes. O elevador dos investimentos está parado e nenhum movimento local indica que as grandes redes possam estar chegando por aqui.
Para entender esse cenário paradoxal – turismo forte, investimento em baixa – é preciso analisar uma convergência de fatores que desafiam os empreendedores que querem colocar os pés por aqui.
Um deles é justamente a cobiça que paira sobre cada centímetro da ilha. Em Florianópolis, o valor dos imóveis e dos terrenos valorizou-se muito nos últimos anos. O preço do metro quadrado, hoje, se aproxima de cidades historicamente mais caras, como São Paulo e Rio de Janeiro.
Esse custo inicial elevado é o primeiro grande motivo que afugenta os investidores porque exige um faturamento muito alto do hotel para conseguir dar um retorno financeiro satisfatório. Mesmo quem queira se arriscar teria problemas em encontrar áreas livres para construção, principalmente na região central, área onde a ocupação dos leitos é mais constante ao longo dos anos.
“Em Florianópolis, há dificuldades em se conseguir áreas na região central que contemple a construção de um complexo rentável. Todo mundo quer estar no Centro. As redes não têm interesse em praia”, aponta Marcelo Fett, da Investing Santa Catarina, entidade formada por empresas privadas que buscam captar recursos para o Estado.
Diárias baratas são desafio
O investimento fica ainda mais complicado quando se analisa um segundo item da lista de desafios: a tarifa das diárias. Nos hotéis, reclama-se de que não se consegue fechar uma diária com os mesmos preços cobrados em outras cidades. Apesar de pertencerem à mesma rede, unidades em Florianópolis vendem as diárias até 40% mais baratas do que em São Paulo, por exemplo.
Com o terreno em alta e a tarifa em baixa, os empreendedores entendem que apostar na região está longe de ser algo atrativo. Por isso, os investimentos são canalizados muito mais para a construção de prédios residenciais. Nesse caso, o empresário consegue faturar em cima da venda direta da propriedade aos clientes, dispostos a pagar caro para morar aqui, permitindo um retorno muito mais rápido e sem depender da sazonalidade e inconstância do turismo, que varia muito de acordo com o dólar, época do ano e eventos climáticos.
“A legislação também inibe o potencial construtivo. Prédios de 18 a 22 andares, proibidos em Florianópolis, fariam a operação ficar mais interessante para as redes”, afirma Marcelo Fett.
Hotéis econômicos devem crescer
Para piorar a situação, o que hoje é motivo de euforia em todo o Brasil provoca desânimo em Santa Catarina. Como não foi escolhida sede da Copa do Mundo de 2014, a cidade deixou de receber investimentos que são dedicados a suprir e atender à demanda gerada pelo evento.
Segundo Caio Sergio Calfat Jacob, consultor hoteleiro e diretor do Secovi-SP (Sindicato da Habitação de São Paulo), é natural que as grandes redes estejam de olhos atentos para as cidades sedes, que vão precisar de mais leitos para receber os visitantes. O interesse em outras cidades, como Florianópolis e Goiânia, só voltará em uma segunda etapa, quando a situação prioritária para a Copa já estiver resolvida.
Porém, o consultor afirma que fora de Florianópolis, Santa Catarina vive um momento bom. Ele atua no estudo de viabilidade de vários projetos em diferentes cidades, como Governador Celso Ramos, Blumenau e na região Oeste.
“No Oeste, estudamos a implementação em cinco cidades de hotéis econômicos. Está havendo esse movimento forte em Santa Catarina nesse sentido, que é reflexo de uma demanda que surge em todo o país”, afirma Calfat Jacob.
Sobre Florianópolis, o consultor expressa sua preocupação em apenas uma frase: “Poderia ser um mercado espetacular, mas é apenas regular”.
De acordo com o secretário interino de Turismo da Capital, Carlos Alberto Pereira da Silva, novos investimentos só serão viáveis por aqui quando a cidade conseguir atrair mais turistas fora de temporada. Segundo ele, a prefeitura está investindo em uma nova divulgação de Florianópolis e vai intensificar a presença em feiras turísticas, para atrair visitantes de outros países.
“Mas temos outro problema a superar: o preço do pacote. Para Florianópolis, o pacote aéreo é bem mais caro do que para outros destinos tão atrativos quanto, como o Nordeste ou Caribe. Isso estimula que os turistas procurem esses lugares, e não Santa Catarina”, afirma.
Raio-x Desafios e soluções
Por que o mercado está congelado?
– As grandes redes não se interessam pelas praias, mas pelas regiões centrais da cidade, onde há poucas áreas livres
– O plano diretor de Florianópolis inibe a construção de prédios de até 22 andares. Altura ideal para as principais bandeiras
– Movimento de turistas se concentra no verão e não é suficiente para manter rentável um grande hotel ou um complexo de luxo
– Valorização dos terrenos aumenta custo de instalação de um hotel e estica o tempo para o retorno financeiro aos investidores
O que pode ser feito para melhorar?
– Promoção e realização de mais eventos poderiam ajudar a trazer também grandes redes e reduzir a dependência da cidade da temporada de verão
– Aumentar a transparência jurídica, principalmente na questão ambiental que levanta dúvidas entre muitos investidores
– Resolver problemas crônicos de infraestrutura, como a mobilidade urbana precária e a ausência de píer de atracação de cruzeiros
– Criar novos pontos turísticos, como jardim botânico, teatros, parques e museus. Assim, o turista não seria dependente apenas das praias
Bandeiras fora de Florianópolis
– Sheraton
– Transamérica
– Hilton
– Intercontinental
– Quality
– Comfort
– Golden Tulip
fonte: Investing SC
Demora no retorno desanima investidores
Quem já investiu pesado em Florianópolis e continua apostando na hotelaria também acredita que o mercado local está complicado para novos empreendimentos. A empresa Belmmen Hospitality, que possui seis unidades na cidade, incluindo dois Ibis, o Blue Tree e o Sofitel, luta para conseguir valorizar a diária dos quartos.
Segundo o diretor executivo Leonardo Maciel, uma tarifa do Sofitel de Florianópolis, por exemplo, costuma ser fechada em pouco mais de R$ 300. Já em São Paulo, a mesma bandeira consegue cobrar até R$ 600.
“É um reflexo da média de ocupação. Lá, é quase impossível encontrar vaga em hotel de uma semana para outra devido à grande demanda. Por isso, as unidades paulistas são mais rentáveis. No passado, nosso mercado era muito melhor e conseguíamos tarifas até mais valorizadas do que no Rio de Janeiro”, lembra-se Maciel.
Em Florianópolis, a ocupação média é de 60%. Os picos de movimento ocorrem no Réveillon e no caso de alguns grandes eventos.
Para Maciel, a soma de terrenos caros, tarifas baixas e pouco movimento desanima investidores. “Pode-se levar até 20 anos para uma unidade conseguir se pagar e dar retorno aos empreendedores”, afirma.
(Por Daniel Cardoso, ND, 06/06/2011)
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