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Urbanização desordenada polui Estação de Carijós

Há 20 anos a Estação Ecológica Carijós trabalha na preservação dos manguezais do Saco Grande e do Rio Ratones. Com área total de cerca de 720 hectares, a unidade de conservação fica encravada no meio de uma área que nos últimos anos foi marcada pela expansão urbana e crescimento populacional.

Regras

Futura zona de amortecimento vai reduzir impactos da ocupação humana no Norte da Ilha
Para o chefe da reserva, Apoena Figueiroa, hoje o maior desafio de Carijós é justamente com o entorno, já que todas as atividades poluidoras do Norte da Ilha, como esgoto, lixo e resíduos, desembocam dentro da unidade. “Tudo o que é descartado nos rios da região passa pela Estação”, afirma. A situação mais crítica é a do manguezal do Saco Grande, que está completamente poluído, por se localizar em uma região densamente ocupada.

Além do lixo e da poluição que afetam os rios e manguezais, a preservação dos ecossistemas localizados fora de Carijós também preocupa. Isso porque grande parte das espécies animais que habitam a unidade depende da relação com outros ambientes, como florestas e restingas.

“A poluição é um grande problema, mas há esperança de que no futuro se desenvolvam tecnologias para minimizar seus efeitos. Mas a devastação, desmatamento e destruição de ecossistemas são irreversíveis”, destaca o analista ambiental do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (Ibama), Ricardo Brochado Alves da Silva.

Para tentar frear este processo, a equipe da reserva trabalha há seis anos na elaboração da Zona de Amortecimento da Estação de Carijós. A proposta prevê regras mais severas para a ocupação das áreas localizadas no entorno da unidade.

“Não se trata de proibir toda construção na região, mas de ter critérios, em conformidade com a legislação federal, para garantir a sustentabilidade da área”, aponta Figueiroa. Para a elaboração do projeto foram realizados uma série de estudos técnicos, levantamento jurídico, reuniões com as comunidades e órgãos públicos, como o Instituto de Planejamento Urbano de Florianópolis (Ipuf).

A zona de amortecimento abrangeria toda área da baía Norte, que interage com a Reserva Biológica do Arvoredo e Área de Proteção Ambiental de Anhatomirim, e grande parte do Norte da Ilha.
A proposta, inédita no Brasil pela complexidade de estudos, será apresentada nesta semana no Congresso Brasileiro de Unidades de Conservação, que será realizado em Foz do Iguaçu (PR).

Segundo o chefe da Estação de Carijós, o projeto está pronto e foi enviado para a Superintendência do Ibama em Brasília, onde já passou pela análise das equipes técnica e jurídica. Falta apenas a assinatura do superintendente e a publicação no Diário Oficial da União. Para Figueiroa, o ideal seria que isso ocorresse antes do início das definições do Plano Diretor Participativo de Florianópolis, para que os critérios da zona de amortecimento fossem integrados ao planejamento da cidade.

Saiba mais

A Estação Ecológica de Carijós está localizada na região Noroeste da Ilha de Santa Catarina, protegendo duas áreas com vegetação de manguezal e restinga: o manguezal do rio Ratones e o manguezal do Saco Grande. A estação abriga espécies ameaçadas de extinção, como o jacaré do papo-amarelo, a lontra e o mão-pelada. Na área já foram registradas 107 espécies de aves e 42 espécies de peixes. Além disso, na gleba de Ratones existem três sítios arqueológicos de sambaqui.

Manguezal do rio Ratones
Com área total de 6,25 km2, é onde está localizada a sede administrativa da estação ecológica. O principal rio é o Pau do Barco, que desemboca na baía Norte da Ilha de Santa Catarina.

Manguezal do Saco Grande
Com área de 0,93 km2, tem como rio principal o Ratones, que deságua em um pequeno estuário na enseada de mesmo nome na baía Norte da Ilha de Santa Catarina.

Espécies

Fauna

Jacaré-de-Papo-amarelo (Caiman latirostris):
pode chegar a 3 metros de comprimento, vivendo entre a vegetação
aquática das margens de rios, lagos e banhados. Alimenta-se de moluscos
aquáticos e outros vertebrados, sendo que em condições normais, não costuma atacar o homem. É uma espécie própria da costa oriental do Brasil, norte da Argentina e Uruguai. Atualmente está ameaçada de extinção.

Martim-pescador Pequeno (Cloroceryle americana): é uma espécie bastante comum na região. Com cerca de 19cm de altura, tem na parte superior penas de cor verde escura, contrastando com uma faixa branca.Habita os lagos com rica vegetação aquática, beira de rios pequenos e grandes, manguezais. Ocorre no Texas (EUA), na área compreendida do México à Argentina e em todo o Brasil.

Garça Branca (Casmerodius albus): é encotrada em abundância em áreas baixas, onde a água está disponível em forma de açudes, lagos, banhados e manguezais. Identifica-se por seu tamanho (pode chegar a 94 cm), pelo bico amarelo e patas pretas. Caminham na água rasa, esperando pacientemente por um peixe ou rã. Vivem em colônias, muitas vezes colocando seus ninhos de gravetos em moitas de sarandi, no meio do banhado.

Garça Azul (Egretta caerulea): habita manguezais e lamaçais do litoral, os quais explora nos momentos de maré baixa, além de alagados, rios e lagos, sendo mais comum em áreas costeiras. Vive sozinha ou em grupos espaçados de dois ou três indivíduos. Pode chegar a 64 cm de comprimento, sendo presente em todo o litoral brasileiro, Pantanal e Bacia Amazônica. Encontrada também desde o sul dos Estados Unidos e América Central até a Colômbia, Peru, Chile e Uruguai.

Garça Real (Pilherodius pileatus): presente em quase todas as regiões brasileiras, mas apesar da ampla distribuição, não é abundante nas regiões onde ocorre. Habita rios e lagos com margens florestadas, além de áreas pantanosas, alimentando-se em lamaçais. Vive geralmente solitária, faz ninho à pouca altura e põe dois ovos. Se caracteriza pela plumagem branco-amarelada, capuz negro, longas penas nucais e base do bico azul.

Flora

Rhizophora: chamada de mangue vermelho ou mangue verdadeiro. É uma árvore de casca lisa e clara, com rizóforos (órgãos subterrâneos) que partem dos ramos, formando arcos, que ao atingir o solo ramificam-se permitindo a sustentação da planta num sedimento pouco consolidado. As estruturas reprodutivas ao amadurecerem caem como lanças, apontadas para baixo, vindo a enterrar-se na lama por ocasião da baixamar.

Avicennia nitida: vivem em solos lamacentos, úmidos, temporariamente inundados, muito profundos e formados por resíduos orgânicos e inorgânicos. Conhecida como mangue preto, é uma árvore com casca lisa castanho-claro, que quando raspada mostra cor amarelada. As raízes desenvolvem-se horizontalmente, a poucos centímetros abaixo da superfície do sedimento, de onde saem ramificações que crescem eretas (geotropismo negativo), expondo-se ao ar como autênticos paliteiros, são chamados pneumatóforos. Estes apresentam consistência esponjosa, e tem função destacada no processo das trocas gasosas entre a planta e o meio.

Levantamento fundiário está entre projetos

Atualmente, a estação desenvolve uma série de projetos, muitos deles em parceria com a comunidade. Neste sentido, um marco foi a criação, em 1999, do Instituto Carijós Pró-Conservação da Natureza, uma ONG que se dedica a realização de projetos de educação ambiental e mobilização comunitária.

Entre os principais projetos estão o Plano de Desenvolvimento Sustentável do Entorno da Estação, que permitiu o levantamento da situação fundiária da unidade; o Programa de Educação Ambiental, desenvolvidos em escolas e comunidades; e o Programa de Monitoramento, que faz o acompanhamento da evolução da vegetação em áreas alteradas, o monitoramento da qualidade da água dos principais rios e canais que recebem efluentes dos bairros próximos da unidade e das atividades humanas na área.

A proposta de criação de uma estação ecológica para preservar os manguezais, ameaçados pela expansão urbana, surgiu em 1977. O primeiro passo foi dado em 1981, com o cadastramento das propriedades e o levantamento topográfico para a delimitação da área.

A Estação de Carijós foi oficialmente criada em 20 de julho de 1987, sendo inicialmente administrada pela Fundação Estadual do Meio Ambiente (Fatma) e assumida pelo Ibama dois anos mais tarde. O nome carijó foi inspirado na forma como os exploradores europeus se referiam aos índios tupi-guarani, que povoavam o litoral sul brasileiro.

(Natália Viana, A Notícia, 18/06/2007)

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