Metrô, carros, ciclistas ou pedestres. Depois da restauração, o uso da Ponte Hercílio Luz pela população ainda é uma incerteza
Depois de restaurada, a Ponte Hercílio Luz ficará com uma única diferença em comparação ao seu projeto original: em vez de ter a cor preta, como foi inaugurada em 1926, ela será metálica, tonalidade que ganhou antes dos anos 1950. Já o seu uso, ainda é uma incerteza.
A proposta mais avançada é o metrô de superfície. Em 30 de novembro de 2009, a Secretaria de Desenvolvimento Regional da Grande Florianópolis lançou o edital de licitação para escolher uma empresa para fazer o projeto. O edital inclui a realização de um estudo de viabilidade do metrô.
A expectativa era conhecer o resultado da disputa até março para que o projeto fosse iniciado este ano, com prazo de conclusão entre seis e oito meses. A licitação foi finalizada em abril, só que a segunda colocada recorreu ao Tribunal de Justiça. O processo está parado. Em paralelo, um estudo desenvolvido pelo departamento de Urbanismo e Arquitetura da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) defende que o metrô não é adequado à ponte.
– É inviável. Para levá-lo até o Centro, ele teria que fazer curvas, que esse tipo de transporte não consegue fazer. Também é um um investimento alto demais, na ordem de R$ 300 milhões, para um tipo de transporte com demanda de até 35 mil pessoas por hora. Nosso fluxo é menor do que isso. A ponte tem que ter um uso simples, com ciclovia, passarela e feiras culturais – sugere o professor Lino Peres, que participou do estudo.
O arquiteto urbanista Héctor Vigliecca, vencedor do projeto do largo do Mercado Público da Capital, também aposta num uso mais “humano”. Essa é a defesa de outros dois estudiosos de arquitetura e mobilidade urbana ouvidos pelo DC, José Leles de Souza e César Floriano.
O impasse em definir a utilidade da ponte pode arrastar a inauguração. O piso que será colocado depende do tipo de transporte. Até agora, a restauração está sendo tocada sem a definição do pavimento. Segundo Cassio Magalhães, coordenador de execução da restauração do vão central, a ponte estará pronta para receber de pedestres até o metrô de superfície. A decisão deve ser tomada ainda este ano.
(Por Cristina Vieira, DC, 22/06/2010)
R$ 60,5 mi para este ano
Ao iniciar a fase mais complicada de restauração em julho deste ano, as obras vão entrar num ritmo acelerado, o que é bom para quem quer vê-la pronta. Para isso, a liberação de recursos também terá de ser rápida ou a obra atrasa. Os recursos são do governo do Estado. Em 2010, o orçamento tem reservado à Hercílio Luz R$ 60,5 milhões, dos quais já foram gastos R$ 3,3 milhões. O valor é suficiente para tocar a obra até final de 2010. A dúvida é se o governo terá esse dinheiro para liberar.
– A ponte é nossa prioridade. Queremos acelerar este ano, porque em 2011 entra governo novo e, se os trabalhos estiverem adiantados, não tem como parar – afirmou o governador Leonel Pavan.
A restauração da Ponte Hercílio Luz era uma bandeira do governador anterior, Luiz Henrique da Silveira, quem iniciou a restauração do monumento em 2006. Pavan, agora, promete mantê-la.
Questionado se o governo tem os R$ 57 milhões que faltam para este ano, ele deixa a dúvida:
– Não temos tudo. Mas vamos nos esforçar para ter. Se nada de novo acontecer, os recursos estão garantidos – completou o governador.
Enquanto investirá R$ 200 milhões na ponte, considerando toda a obra desde 2006, o Estado ainda não conseguiu recuperar sete rodovias estaduais, interditadas ou com trânsito em meia pista, desde as chuvas iniciadas em abril.
– São recursos diferentes – disse Pavan.
Romualdo França, presidente do Deinfra, diz que os custos serão menores do que o previsto e diz que o total pode ficar em R$ 150 milhões, pois não será necessária a restauração das bases de apoio das torres principais, previstas no projeto original.
“A ponte é nossa prioridade. Queremos acelerar este ano, porque em 2011 entra governo novo e, se os trabalhos estiverem adiantados, não tem como parar.”
LEONEL PAVAN, Governador de SC
QUANTO CUSTA A RESTAURAÇÃO?
R$ 24 milhões: nos viadutos de acesso (Ilha e Continente)
R$ 169 milhões: no vão central
R$ 14,9 milhões: supervisão das obras, realizado pelo consórcio Prosul/Concremat
Total: R$ 207,9 milhões
O QUE JÁ FOI GASTO ATÉ AGORA (DE 2006 ATÉ 2010)?
R$ 56 milhões: inclui os R$ 24 milhões de restauração dos viadutos de acesso (concluído), R$ 6,4 milhões do consórcio supervisor da obra e R$ 25,6 milhões referente ao vão central da ponte.
O QUE ESTÁ PREVISTO PARA 2010?
No orçamento 2010 está previsto R$ 58, 5 milhões de recursos do governo do Estado, e mais R$ 2 milhões vindos do Fundo Social, dinheiro captado com empresas por meio de incentivo fiscal. Total de R$ 60,5 milhões. Até 30 de maio, já haviam sido gasto R$ 3,3 milhões.
OPÇÕES DE USO DA PONTE HERCÍLIO LUZ
METRÔ DE SUPERFÍCIE
É a destinação em consenso entre o governo do Estado e a prefeitura de Florianópolis. Em dezembro, foi aberta licitação para conhecer as empresas interessadas em realizar o projeto do metrô, mas até agora não foi apresentado o resultado. O metrô de que se fala para Florianópolis é o chamado VLT (veículo leve sobre trilhos). Mas também pode ser VLP (veículo leve sobre pneus). É um intermediário entre o ônibus e o metrô pesado, com estações espaçadas e o número de passageiros maior. Tem capacidade de 15 mil a 35 mil passageiros/hora. Ligaria o Bairro Barreiros, em São José, ao Mercado Público, no Centro da Capital, um percurso de 14 km. A obra custaria R$ 300 milhões.
CICLISTAS E PEDESTRES
Uso mais defendido por arquitetos e urbanistas. Neste caso, a ponte seria vista como um ponto de passeio e turístico. Poderia receber feiras e eventos. Também funcionaria como um mirante. Ficaria bem menos sobrecarregada de peso. É uma opção em que a humanização é priorizada, ressaltando o aspecto histórico da ponte. Também serviria como ligação entre a Ilha e o Continente, mas apenas para pedestres e ciclistas.
CARROS E ÔNIBUS
Um estudo do Deinfra estima que a Hercílio Luz tem capacidade para absorver 17% do fluxo de trânsito das pontes Pedro Ivo e Colombo Salles. Mas isso dependeria de um acesso facilitado, o que hoje não existe. Utilizá-la para o tráfego normal é a opção menos aceita entre arquitetos, urbanistas e o poder público. Segundo a prefeitura, teriam que ser readequada as vias do entorno da ponte.
– 1919 – O vice-governador de Santa Catarina e então governador em exercício, Hercílio Pedro da Luz, consegue, junto ao banco norte-americano Imbriel & Co., o empréstimo para a construção da ponte.
– 1922 – Em novembro, começam as obras daquela que se chamaria Ponte Independência.
– 1924 – No dia 8 de outubro, com a saúde debilitada, Hercílio Luz atravessa com a família uma réplica em miniatura da ponte, para poder inaugurá-la em vida. Em seguida, é hospitalizado e morre 12 dias depois.
– 1926 – No dia 13 de maio é inaugurada a Ponte Hercílio Luz. Sua cor original era preta.
– 1960 – Em janeiro, pela primeira vez, é contratada uma empresa de manutenção.
– 1967 a 1969 – O pavimento de madeira é substituído por asfalto.
– 1975 – A Ponte Colombo Salles é inaugurada, e a Hercílio Luz passa a ser conhecida como a “ponte velha”. Na época, a Hercílio Luz recebia 45 mil veículos por dia.
– 1982 – No dia 22 de janeiro é interditada pela primeira vez. Seu movimento já era menor, com a inauguração da Colombo Salles, 27 mil veículos por dia, cerca de 44% do tráfego entre Ilha e Continente.
– 1988 – No dia 15 de março, a ponte é reaberta para o tráfego de pedestres, motocicletas e carroças.
– 1991 – Em 3 de julho volta a ser interditada. Como medida de segurança, foi retirado o asfalto do vão central, alívio de 400 toneladas. A Ponte Pedro Ivo Campos, a terceira, foi inaugurada em março daquele ano. As três funcionaram simultaneamente por pouco mais de três meses.
– 1992 – A Hercílio Luz é tombada pela prefeitura como patrimônio histórico, artístico e arquitetônico de Florianópolis.
– 2006 – Início da etapa 1, com as obras de recuperação dos viadutos Ilha e Continente de acessos ao vão pênsil.
– 2008 – Assinatura da ordem de serviço para início da etapa 2, recuperação do vão central.
(DC, 22/06/2010)
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