A delegada Julia Vergara conversou com o Diário Catarinense e explicou que a denúncia inicial era de concessão de licença ambiental indevida para a construção do loteamento Il Campanário em Jurerê Internacional, no Norte da Ilha de Santa Catarina. As investigações levaram ao secretário da Secretaria de Urbanismo e Serviços Públicos (Susp), Renato Juceli de Souza, e ao cunhado dele, o vereador Juarez Silveira. Na seqüência, apareceram empresários e técnicos de órgãos ambientais do Estado e do município.
A coordenadora da Operação Moeda Verde disse que todas as licenças para construções em áreas de preservação ambiental passavam pelo vereador, o secretário da Susp e o diretor, Rubens Bazzo. A delegada revelou que Juarez Silveira fazia valer a influência oferecendo “serviços” caracterizando, no mínimo, tráfico de influência. A delegada afirmou que Juarez Silveira fala muito e isso facilitou as investigações. Em nove meses de investigações foram interceptadas 150 mil ligações. Ontem, ela concedeu entrevista exclusiva ao DC. Abaixo alguns trechos.
Diário Catarinense – A Habitasul atuava junto com o vereador Juarez Silveira?
Julia Vergara – Tinham contato muito próximo, tudo passava pelo Juarez, configurando um tipo de organização. Um em cada ponta. Essa ponta, às vezes, era ocupada por outros empreendedores.
DC – O Juarez procurava o grupo Habitasul?
Julia Vergara – Ele ligava pedindo “me dá a linha” (pedindo orientações). O Hélio Scheffel (representante do grupo em Santa Catarina) executava, ia aos órgãos, marcava reuniões. Foi percebido um descaso muito grande com a questão ambiental.
DC – Sobre os depoimentos de ontem?
Julia Vergara – Muita coisa tem sido confirmada, e, por parte dos empresários, como se fossem coisas normais, “fiz porque o cara era forte”. Para algumas situações mais sensíveis, como pagamentos, usaram de evasivas. Mas de resto, suspeitas de influência, de favorecimentos vêm sendo caracterizadas. Eles falam: “Realmente dei uma ajuda nas eleições porque ele é um cara forte e podia me favorecer”.
DC – O que já foi encontrado no material apreendido?
Julia Vergara – Dei uma olhada em alguns casos e há elementos que ligam uns investigados aos outros. Questão patrimonial, no caso do Juarez. Muitos recibos são comprovantes de depósitos em valores de R$ 70 mil. Acho que até de R$ 100 mil. São depósitos em dinheiro.
DC – O cunhado dele, Renato Juceli de Souza, está envolvido?
Julia Vergara – Ele expede o alvará de construção. O Juarez pedia para ele receber fulano, “trata ele bem”. Dizia para aprovar a licença para ele. No momento em que forem disponibilizados os áudios não precisarei falar mais nada. O Renato foi colocado na Susp pelo Juarez para que os dois dominassem a concessão de licenças.
DC – O que existe contra o presidente da Santur, Marcílio Ávila?
Julia Vergara – Toda a atuação no (Shopping) Floripa. Se não fosse ele, o (Carlos) Amastha (dono do shopping) não conseguiria.
DC – Como ele agiu ?
Julia Vergara – Mudou o Plano Diretor sem fazer estudo de impacto. A mudança do Plano Diretor está sob suspeita. Não quero adiantar muita coisa porque ele não foi ouvido ainda.
DC – O Marcílio mantinha contato com os outros envolvidos?
Julia Vergara – Na época de liberação do alvará do shopping, ele ligou 39 vezes.
DC – E nos autos existe algo contra o Fernando Marcondes de Mattos?
Julia Vergara – Ele tem uma empresa, a Inplac, e através dela financiou a campanha do (André) Dadam. Mas não ficou só naquilo. Tudo indica que teve caixa dois.
DC – O que mais existe contra o Dadam?
Julia Vergara – Na busca, a gente pediu processo de licenciamento para ser analisado. Uma situação é tão esdrúxula, a de uma autorização da Floram, que saiu com uma data e o parecer, dois ou três dias depois. Uma situação ridícula, fazem com escárnio.
DC – Havia uma investigação sobre o Dadam porque ele foi preso com R$ 8 mil no ano passado. Já estava sob sua investigação?
Julia Vergara – Na verdade, surgiu como situação eleitoral. Meu inquérito tratava do Il Campanário, inicialmente. Ontem (quinta-feira), quando perguntei disso, ele começou a suar frio e o advogado disse para não responder mais. Possivelmente era para campanha em troca de favores prestados anteriormente para a Habitasul.
DC – O que existe contra Rubens Bazzo, diretor da Susp?
Julia Vergara – Ele está envolvido com o KM-7 e o Colégio Energia, de Jurerê. Situação de fazer projetos por fora, receber por fora, receber para agilizar. Sempre em contato com o Renato Juceli de Souza, que era o secretário da Susp.
DC – Em depoimento, a arquiteta Margarida Emília Milani de Quadros disse que o sócio do Shopping Iguatemi Paulo Cezar Maciel da Silva pagou R$ 20 mil a um funcionário da Susp?
Julia Vergara – Ela assumiu. E existem fortes indícios que o Paulo Cezar deu um carro para o vereador Juarez Silveira. Tem também áudio muito comprometedor. As análises do material apreendido serão bem produtivas.
DC – Existe algo contra o Paulo Toniolo?
Julia Vergara – O Juarez andava com uma Cherokee com a placa da DVA Veículos. Pegou o carro 0km.
Operação Moeda Verde
> A Operação Moeda Verde foi deflagrada quinta-feira de manhã, quando agentes da Polícia Federal, por determinação da Justiça Federal, começaram a cumprir 22 mandados de prisão temporária, em Florianópolis (20) e Porto Alegre (2), além de busca e apreensão em órgãos públicos, empresas e residências.
> A operação investiga a existência de um esquema de venda de leis e atos administrativos de conteúdo ambiental e urbanístico em favor de grandes empreendimentos na Ilha de Santa Catarina.
> O esquema envolveria a ocorrência de crimes contra a ordem tributária, falsificação de documento, uso de documento falso, formação de quadrilha, corrupção e tráfico de influência. São suspeitos de envolvimento vereadores de Florianópolis, empresários e servidores públicos estaduais e municipais.
> Na decisão, o juiz Zenildo Bodnar, da Vara Federal Ambiental de Florianópolis, ressalta que “as prisões não implicam juízo de valor sobre a culpa ou inocência dos envolvidos, a serem devidamente apuradas no curso regular do processo, com respeito ao direito à ampla defesa.”
> O nome é referência, segundo a Polícia Federal, à negociação em que a moeda de troca envolve o ambiente.
Entrevista com Julia Vergara, delegada da Polícia Federal (DC, 05/05/2007)
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