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A árvore de natal

Artigo escrito por Laudelino José Sardá – Jornalista, professor (Acontecendo Aqui, 14/12/2009)

A ÁRVORE MILIONÁRIA, QUE FAZ O POVO
RIR DE RAIVA, ESTÁ CONGELADA PELA JUSTIÇA

O alcaide alienígena insiste em dizer que a árvore de natal, montada na avenida Beira-Mar, em Florianópolis, tem 60 metros e que foi contratada com a maior transparência. Mas o povo vê que isto é tudo mentira. Aquela árvore translúcida, transparente até demais, não pode ter custado mais de R$ 900 mil. Eloy Simões acordou-se: “que árvore?”

A prefeitura alega que o objeto cônico, piramidal e esverdeado da beira-mar é para atrair turistas. Ora, ninguém vai a uma cidade visitar uma árvore, nem mesmo em Cingapura, onde a árvore mais cara do mundo tem apenas seis metros de altura, pesando 3.215 quilos com 21.798 diamantes, num total de 913 quilates, 3.762 peças de cristal e 465 lâmpadas. Mas foi um joalheiro que a montou a um custo em torno de U$ 500 milhões.

O juiz Luiz Fornerolli, da Vara da Fazenda Pública, foi coerente ao suspender, através de liminar, o contrato de R$ 3,7 milhões firmado entre a prefeitura e uma empresa de eventos. A justiça enxergou o absurdo. A dúvida é se algum desembargador irá cassar a liminar. Tudo é questão de hermenêutica.

A árvore merece um nome, não acha, leitores?
Que tal Árvore do Absurdo?

O ALCAIDE NÃO ENXERGA

Se o objetivo é atrair turistas, então que a prefeitura do alcaide alienígena programasse eventos para as estações frias, em que 99% dos hotéis e 55% do comércio dos balneários ficam fechados. Mas, não, o alcaide e o agrônomo Cavalazzi querem agradar os visitantes que devem se alojar em balneários. E para conhecer a super árvore (em custo), os turistas terão de experimentar o maior exemplo de imobilidade do mundo. A propósito, tanto a prefeitura quanto o governo do estado adoram investir na imobilidade. Parece que isto dá transparência ao governo, imagine! Entre janeiro e outubro, as estradas de acesso aos balneários ficaram esburacadas. No começo de novembro, por exigência de Felipe Massa e companhia, a prefeitura e o governo do estado, em tempo recorde, construíram outro kartódromo e taparam os buracos no acesso àquele naco de terra de Casnasvieiras. O restante dos buracos está sendo tapado agora, provocando a costumeira e incomensurável fila. Certo dia, parei o carro e perguntei a um chefe de obra: “Não seria possível realizar essas obras das 9 às 17 horas?” E ele foi rápido: “Claro que sim, seria ótimo para nós também”.

A prefeitura está cega diante de tantos problemas da cidade. E a segurança já revela que a Ilha é um dos palcos mais violentos do Brasil, sem dúvida. O secretário Ronaldo Benedetti, que jura ter reduzido a violência no estado, é candidato a deputado federal. Em sua cidade, Criciúma, a violência cresceu mais de 20% nos últimos dois anos.

Vou dar três exemplos mais recentes que ocorreram no norte da Ilha, em Florianópolis.

Ao lado da escola pública da Vargem da Cachoeira, um velho agricultor, o seu Aroldo, mané da região, nunca viu risco em deixar o seu gado amarrado e se alimentando durante a madrugada. Há pouco menos de cinco dias, mataram e esquartejaram um touro a machado e levaram os dois quartos traseiros. O restante, abandonado, serviu de festa para a cachorrada. O Mané chorou muito. Não apenas pela perda do touro, que lhe custara R$ 2,5 mil, mas, sobretudo, porque “nunca na minha vida tinha sabido de uma violência desta”.

A menos de 100 metros dessa agressão, um casal do interior instalara uma fábrica de móveis, por sinal de qualidade invejável. O alemão, como é conhecido, estava feliz com o crescimento, até porque não tinha muito dinheiro para investir. Há poucos dias, invadiram a fábrica e levaram o computador e o software de modelagem, que custa R$ 8 mil. O casal não sabe o que fazer. Mais adiante, uma família prosperava com uma padaria. Uma dupla, de carro, assaltou a casa às 15 horas e levou todo dinheiro, celulares, computadores, etc.etc. O choro do casal novo, perspicaz e apostando no futuro, era desolador. “A morte não é mais violenta que o roubo e a humilhação”, desabafou o rapaz, chorando. Ele, como todos os cidadãos, não entendem como tornar-se um empreendedor, homem de negócio, se Florianópolis vive como na idade média, quando os senhores feudais mandavam matar os trabalhadores que atrasavam o pagamento dos aluguéis das terras. Hoje, paga-se imposto e acaba punido pela inoperância do governante.

O alcaide alienígena prefere o tapete preto, pois isto dá a transparência que ele nega a conceder às suas contas. Então, resolvi percorrer algumas ruas pavimentadas pela prefeitura. Não acreditei o que vi. Simplesmente despejaram asfalto sem a preocupação de deixar espaço para passeio. Os cidadãos precisam caminhar sobre o asfalto, sujeito à velocidade dos carros. Não houve serviço de infra-estrutura. Águas se acumulam nas ruas, onde marcas de coliformes se espalham, exibindo a despreocupação do poder público com a saúde pública, que exige toda uma engrenagem de trabalho, da maternidade à velhice.

Bem, a temporada de verão é previsível. Um pouco pior que a de 2008. Vamos aguardar o balanço, porque nenhuma medida de prevenção foi anunciada.

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