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Florianópolis tem o mar na cara e quase não há restaurantes e bares nas coberturas, diz Lores

Jornalista e escritor, Raul Juste Lores foi correspondente internacional por mais de 20 anos e conhece cidades como Washington, Nova York, Pequim, Lisboa e Buenos Aires. Como bolsista da fundação Eisenhower, estudou urbanismo e inovação digital, tornando-se referência no Brasil para falar sobre desenvolvimento de cidades.

Criador do canal no YouTube “São Paulo nas Alturas”, foi provocado a fazer algo semelhante sobre Florianópolis – e fez. Na quarta-feira (19), veio à Capital, em palestra do Movimento Floripa Sustentável.

Qual o caminho ideal para transformar uma cidade turística e economicamente? Como Florianópolis pode se tornar mais atrativa? Quais os exemplos a serem seguidos mundo afora? Essas e outras respostas estão na entrevista de Raul Lores ao jornal ND.

Qual o foco do canal “São Paulo nas Alturas”?
Morei em cidades que passaram por dezenas de crises. Nova York teve a morte decretada umas dez vezes e sempre ressuscitou. Em Pequim, a população aumentou 15 vezes nos últimos 30 anos. Buenos Aires sobreviveu a dezenas de crises. São cidades que têm muito a ensinar. Escrevi “São Paulo nas Alturas” resgatando o período que São Paulo achava que seria a Chicago do Sul global, o que deu errado. Mas temos um patrimônio arquitetônico e urbanístico muito interessante. Com o sucesso do livro, quis trazer esse debate para hoje. Falo de áreas ociosas, dos segredos bem guardados das cidades, que é preciso conhecer primeiro para depois valorizar. Comecei a falar de urbanismo hoje: o que podem melhorar, o que temos que descobrir para criar cidades autênticas e não genéricas.

O que encontrou na Capital?
Venho para cá desde 1998 e vi a cidade mudar. Tentei capturar o que Floripa melhorou. A população dobrou em 20 anos, porque atraiu gente atrás de qualidade de vida. É uma rara cidade no Brasil que atrai pessoas muito bem empregadas, com renda e que vêm por qualidade de vida, especialmente os nômades digitais. Querem ter uma vida praiana, com serviços de metrópole. Agora, claro, como qualquer aumento não planejado, traz desafios e Florianópolis terá que responder, se quiser continuar sexy.

E a ponte Hercílio Luz?
A Ponte Estaiada, considerada símbolo de São Paulo, é um ícone do atraso. Não passa ônibus, pedestre, nem ciclista. Já a ponte Hercílio Luz nasce e é reaberta como espaço para pedestre, ciclista, patinete e, aos fins de semana, carro não passa. É algo muito contemporâneo. A reabertura da Hercílio Luz tem efeito multiplicador de empregos, moradias e arrecadação de impostos.

Quais são os desafios de Florianópolis?
É um drama nacional, todos os centros históricos das grandes cidades brasileiras estão esvaziados, muito abandonados e são um desperdício, mas Floripa oferece uma contradição ainda maior, porque não é um centro inseguro, abandonado, está quase lá para virar um lugar de charme, de muitos moradores. A mobilidade é desastrosa.

Florianópolis parece ainda não ter uma musculatura política para exigir uma ponte que ligue o Norte da Ilha ao Continente. Estranhamente, vocês têm o mar na cara e quase não têm restaurantes ou bares nas coberturas que olhem para ele.

Por último, para atrair e reter talentos, faltam grandes restaurantes, museus, exposições, shows. É o que se vê nas cidades que viraram polos tecnológicos: Austin, Miami, São Francisco e Lisboa, com eventos e atrações de janeiro a dezembro.

Floripa está entrando numa liga muito disputada. Ainda não tem uma grande marina. A gente fica décadas debatendo coisas que o mundo tem pressa. Se essa marina estivesse na China, Espanha ou Grécia, já teria saído do papel.

A Capital tem mais a ser mostrado?
O “Floriper” tem quase um orgulho de ser discreto, não quer contar vantagem. Hoje, não precisa ser blogueiro ou influencer para ter que se promover. A história de Florianópolis ainda é pouco divulgada. Floripa, diria até que Santa Catarina, precisa ter uma promoção maior dessas vitórias na educação, saúde, tecnologia. Outros lugares no Brasil sabem se vender melhor.

O que Lisboa fez?
É um caso único de uma cidade que saiu de 4 milhões de turistas por ano para 19 milhões, porque soube melhorar sem perder a identidade. Lisboa sabia que tinha ativos muito fortes: gastronomia, arquitetura, história, clima, hospitalidade e estava em mau estado. Foi muito ousada ao se restaurar e se reinventar. O antigo Mercado da Ribeira, por exemplo, virou parte mercado e parte praça de alimentação, com os melhores chefes de Lisboa. O mercado de Floripa é bastante bom, mas a maioria dos mercados municipais brasileiros são um desastre.

Em Lisboa, como em qualquer cidade europeia, as pessoas moram em apartamentos muito pequenos, então o quintal é a cidade. As praças são vivas, cheias de gente. Há 20 anos, boa parte das praças era muito suja, insegura, violenta. Lisboa soube ser pragmática em restaurar seu patrimônio histórico, ser flexível nesse restauro para voltar a ser povoada.

O caminho é a cidade olhar para ela mesma?
Sim. É um ativo incrível, em pleno inverno, comer num lugar olhando para o mar. É uma maneira de manter turistas mais dias na cidade e não depender apenas do sol e da praia.

O aterro federal gigante em frente ao Centro, uma espécie de pot-pourri dos maiores erros urbanos da cidade, um terminal de ônibus mal enjambrado, um centro de convenções horrível, nada é caminhável, o museu da marinha, que poderia estar em qualquer lugar, está numa área que parece a periferia de qualquer cidade, numa das áreas mais nobres de Floripa. Ou seja, não só é algo muito feio, mas mostra uma Floripa que não está monetizando uma área muito importante e valorizada.

(ND, 20/10/2023)

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