Da Coluna de Estela Benetti (NSC, 09/12/2020)
A aceleração da mobilidade elétrica no mundo colocou a Tesla no topo das montadoras em valor de mercado e motivou a proibição da venda de novos carros à combustão a partir de 2025 na Noruega e de 2030 no Reino Unido, para reduzir emissões no meio ambiente. Mas como um país em desenvolvimento pode seguir essa tendência diante dos altos preços dos novos carros elétricos?
Para a equipe do Laboratório de Mobilidade Elétrica (Emol) do Instituto Federal de Santa Catarina (IFSC) em Florianópolis, a forma mais rápida de ampliar o número de veículos elétricos com um custo acessível é converter os que são movidos a combustão para tração elétrica. Mas com tecnologia mais ampla e sofisticada do que as conversões para gás natural veicular. Para isso, o laboratório começa o Projeto de Mobilidade Elétrica Aneel-IFSC-Celesc.
O foco do trabalho é desenvolver tecnologias para conversão de veículos do setor público, mas o conhecimento será aberto também ao setor privado, podendo motivar novas montadoras começando como startups, fornecimento de peças e soluções tecnológicas, informa o coordenador da pesquisa, professor Adriano Andrade Bresolin, do Departamento de Eletrotécnica.
O projeto de pesquisa e desenvolvimento (P&D) foi aprovado em chamada pública da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) e será realizado em parceria com a Celesc, estatal de energia de Santa Catarina. Terá, também, apoio financeiro da Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (Embrapii), da qual o IFSC é uma unidade.
O trabalho ficou parado meses em função da pandemia, está sendo retomado agora e será desenvolvido em 2021 e 2022. O edital da Aneel, voltado ao incentivo à inovação, definiu R$ 6,5 milhões para a iniciativa, sendo R$ 5,6 milhões da Celesc e R$ 1 milhão da Embrapii. A equipe, além de Bresolin, é integrada pelos professores Marcelo Vandresen e Erwin Werner Teichmann, do departamento de Metal Mecânica do IFSC, tem mais 13 estudantes de graduação e pós-graduação e conta com cinco engenheiros da Celesc. Além disso, outros estudantes devem ingressar no grupo.
As pesquisas são realizadas no laboratório do IFSC que fica na unidade da Avenida Mauro Ramos, centro de Florianópolis. O laboratório já montou o primeiro veículo elétrico, o EV-IFSC, que permitiu o uso de diversas tecnologias, observa o professor Bresolin. Os estudantes fizeram tudo no minicarro, desde o chassi para acoplar as baterias, a inclusão do motor elétrico e do inversor doados pela WEG, até o design. Agora, o grupo acaba de recebeu dois veículos da Polícia Federal para converter. Também tem projeto para trasnformar em elétrico um veículo do governo do Estado.
– O nosso posicionamento é construir as startups brasileiras. Temos uma juventude com uma capacidade de programação muito boa, nossos alunos são espetaculares. Além disso, tem uma gama de equipamentos, motores, inversores, bateria, carregador e outros para desenvolver. Vai surgir uma nova indústria nacional em função dos veículos elétricos. Se não aproveitarmos fazer isso agora, vamos virar meros expectadores de veículos importados – alerta Bresolin.
Segundo ele, o plano do IFSC, que tem apoio especial da reitoria da instituição e do diretor geral do campus Florianópolis, professor Zízimo Moreira Filho, é oferecer cursos de especialização e mestrado em mobilidade elétrica porque haverá uma grande demanda por esses profissionais num futuro próximo. Além do EV-IFSC, o laboratório pesquisa bicicletas, motocicletas, drones e barcos, todos com mobilidade elétrica.
De acordo com o professor Erwin Teichmann, que antes de entrar no IFSC trabalhou como engenheiro na Renault, a pesquisa também vai permitir criar normas para que, no futuro, oficinas do país façam a conversão de carros a combustão em elétricos. Ele e Bresolin visitaram a Dana, do Canadá, que vem convertendo caminhões a combustão em elétricos com sucesso.
– Infelizmente, não temos um foco tecnológico para o carro elétrico no Brasil. A Europa está focada na questão ambiental. Os governos de lá estão dando muito subsídio para mobilidade elétrica – afirma Erwin Teichmann.
As conversões de veículos para elétricos, atualmente, custam de R$ 50 mil a R$ 60 mil. Se feitas em série, podem ser parceladas para o consumidor. É uma solução mais acessível do que um carro novo porque o mais barato, no Brasil, custa hoje cerca de R$ 150 mil.
Segundo os professores, o valor da conversão se paga rápido na economia de combustível porque o custo da energia para abastecer o carro é 80% mais barato do que usar gasolina. Para cada litro de gasolina, o carro elétrico gasta R$ 0,70. O gás natural veicular proporciona economia da ordem de 20% e o etanol, na maior parte do Brasil, é 5% mais econômico que a gasolina. E quem tem a usina fotovoltaica em casa ou usa carregador de posto que tem o serviço gratuito, acaba não tendo custo de energia. E quando falta energia em casa, o carro elétrico pode colocar eletricidade na rede caso esteja com as baterias carregadas.
Ao mesmo tempo em que desenvolve a pesquisa, o grupo do IFSC diz que é necessário elaborar uma legislação para carros convertidos a elétricos. Bresolin afirma que o plano é fazer uma legislação estadual, para experimentar o modelo primeiro regionalmente. Erwin Teichmann pesquisou pelo mundo e concluiu que apenas a França tem uma legislação parcial específica para carro convertido a elétrico.
Um dos próximos passos, será a assinatura do projeto de pesquisa com a Celesc, o governo do Estado e Embrapii. O grupo também está em contato com uma série de parceiros para o fornecimento de peças. A Renault doou um motor elétrico, a gaúcha Fueltech doou injeção eletrônica e um aluno do IFSC vai fornecer câmbio que desenvolveu para carro elétrico, o Woltrax. WEG, Dana, Marcopolo e empresas chinesas de baterias também foram convidadas a colaborar com o projeto.
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