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“Lançamos o primeiro banco comunitário de SC”, diz a CEO do Instituto Comunitário Grande Florianópolis

Da Coluna de Estela Benetti (NSC, 31/05/2020)

Entre as iniciativas catarinenses para ajudar as famílias com renda insuficiente nesta pandemia está a criação do Banco Comunitário Icom, o primeiro do Estado a operar com moeda social.

Mariane Maier Nunes, CEO do Instituto Comunitário Grande Florianópolis (Icom), explica que as demandas que surgiram na instituição acabaram conduzindo para essa solução. Hoje são atendidas mais de 300 famílias na Capital. Pessoas e empresas podem fazer doações por meio de um fundo do Icom e o plano é dar continuidade ao projeto após a fase piloto. Nesta entrevista, Mariane fala também sobre como nasceu o Icom e o trabalho da instituição na quarentena. Confira a seguir:

A instituição
“O banco comunitário é uma tecnologia que existe desde os anos de 1990. Foi iniciada pelo Banco Palmas em Fortaleza (CE). Parte do pressuposto que o desenvolvimento começa a partir dos bairros. O banco emite uma moeda social e garante que o recurso daquela comunidade fique na comunidade. A gente consegue garantir que a moeda social circule aí dentro e apoie as famílias, garantindo a renda para as comunidades mais vulneráveis. Hoje existe uma rede brasileira de bancos comunitários que emite moeda social. Lançamos o primeiro banco comunitário de Santa Catarina”.

Fundos comunitários

“O Icom tem os fundos comunitários que são uma estratégia para responder a desastres naturais, calamidades públicas e crises como a atual. A gente faz isso por meio do protagonismo comunitário e da atuação em rede. Assim, temos investimento planejado e estratégico para atender ao desafio. No dia 18 de março, quando iniciou o isolamento social, as escolas púbicas fecharam, os serviços das organizações da sociedade civil também. Aí, várias pessoas que já eram afetadas pelas iniquidades sociais do nosso território começaram a ficar em situação mais difícil, não tendo acesso a alimentação, renda. A situação começou a se agravar muito”.

Atuação na cidade

“O Icom trabalha muito com lideranças comunitárias que estão na ponta atendendo as pessoas. A gente começou a receber muitas demandas dessas pessoas, informando que famílias estavam passando fome. Quando aconteceu esse marco de pessoas passando fome no nosso Estado que é tão rico, a gente se mobilizou, tínhamos um fundo comunitário já aberto, aí abrimos uma linha emergencial de apoio dia 19 de março para mobilizar recursos, doações. Alcançou visibilidade grande e a gente começou a apoiar essas organizações que estavam atendendo as pessoas com dificuldades devido ao isolamento caudado pelo coronavírus. Toda semana a gente distribuía recursos financeiros”.

Doação e comitê

“Conseguimos mobilizar uma fundação parceira do Icom que fez uma doação expressiva. Então a gente criou um comitê consultivo para definir a melhor forma de aplicar o recurso. Discutimos que muitas doações resultavam na cesta básica. Mas os recursos da cesta básica vão para grandes supermercados. Vimos que os comércios das comunidades estavam quebrando e as famílias não tinham autonomia para comprar os produtos relevantes para elas no momento. Isso vez a gente pensar num banco comunitário”.

Atendimento do banco

“Hoje, temos mais de 300 famílias atendidas em três unidades do banco. Estamos numa fase que acaba sendo piloto. A gente está na comunidade da Serrinha (em Florianópolis), a primeira a ser implementada. É importante frisar que o Icom não trabalha sozinho. Temos uma organização corealizadora em cada comunidade. Na Serrinha a nossa parceira é a Casa São José, que está na ponta, cadastrando as famílias. Estamos na comunidade Chico Mendes, onde a parceira é a Revolução dos Baldinhos e Cooperativa Mulheres do Monte Cristo e estamos instalando a terceira unidade com parceria da rede IVG e corealização do Cedep, no Monte Cristo”.

Como opera

“A família recebe a moeda social. Cada família está recebendo R$ 200 por mês. Ela tem um aplicativo no celular e o comércio também tem. A família vai ao comércio, faz as compras dela, quando for pagar ela aperta um botão e transfere o valor da conta dela para a conta do comércio, em moeda social. Se a pessoa não tem celular, pode pagar com o CPF. Usa o celular do comércio, inserindo conta e senha. O comerciante é obrigado a ter um celular. Na Serrinha temos cinco comércios cadastrados. Isso fortalece o comércio e gera concorrência saudável”.

Critérios para a ajuda

“Nós temos alguns critérios, mas quem realmente fecha sobre quais critérios vai utilizar para decidir qual família receberá auxílio é a organização local. Isto porque ela conhece o território, as famílias que o integram. Mas entre os critérios, de uma maneira mais ampla, a gente prioriza principalmente famílias numerosas, que têm crianças, pessoas acamadas, quando a mãe é chefe de família. A gente avalia renda familiar. Além disso, são famílias com vulnerabilidade social e que a entidade apoiadora tem melhores condições de decidir”.

Circulação da moeda

Os comerciantes que recebem essa moeda social podem pagar seus funcionários, pagar boletos ou eles podem resgatar, converter em reais. Isso demora cerca de dois dias. A gente gostaria muito que a moeda social continuasse circulando no território, mas como a gente está com esse piloto específico com doações, o comerciante acaba sacando. O banco comunitário tem uma metodologia de quanto mais a moeda social circular dentro do território, melhor. Então, com relação a empreendedorismo, é bem importante. Se uma família produz pão e recebe moeda social, ela pode ir ao mercado e pagar com moeda social, pode usar essa moeda para pagar o salão e outros serviços. A moeda social é uma ferramenta muito poderosa para o desenvolvimento social da comunidade. A gente está descobrindo como fazer isso.

Doações em alta

“Todo mundo pode apoiar. Pessoas, empresas, organizações que se sentirem sensibilizadas podem investir. No Brasil, a gente está vivendo um momento único com relação ao investimento social privado. Em apenas dois meses a gente já conseguiu, enquanto país, R$ 5 bilhões em doações. Em 2018, conforme dados oficiais, em um ano a gente conseguiu doar R$ 3,2 bilhões no país. O Icom já arrecadou em dois meses, cerca de 80% do orçamento total do ano para esse fundo. As pessoas estão se sensibilizando. É importante que continuem doando para levar adiante o projeto”.

O futuro do banco

“Sobre o futuro do banco, a gente está refletindo sobre isso. Temos duas etapas. Uma que é piloto e vai até o final de julho. Mas a gente está pensando na segunda etapa, junto com as comunidades e o Banco Palmas, que é nosso parceiro e nos fornece a tecnologia. É uma tecnologia toda digital. Estamos avaliando o futuro, considerando que essa crise vai demorar a passar. A gente tem um futuro incerto pela frente”.

Possibilidade de expansão

“A atuação do banco do Icom pode ir além de Florianópolis. O banco nasceu dentro do Icom e a gente tem uma atuação que é Santa Catarina. O Icom já trabalhou com fundos emergenciais no Estado inteiro e a expansão do banco comunitário em outras regiões catarinenses pode acontecer no futuro. Mas, no momento, estamos ainda no piloto atuando em Florianópolis para enfrentar a pandemia. Se ficar permanente a gente pode ampliar”.

Sobre o Icom

“O Icom nasceu com uma proposta de promover o desenvolvimento comunitário em Santa Catarina. Tudo o que a gente faz é para resolver as iniquidades sociais que temos nos nossos territórios. Então a gente trabalha muito para que a sociedade civil consiga promover direitos para todos, ter um impacto relevante nas comunidades onde essas organizações atuam. A garantia dos direitos é uma coisa muito forte da sociedade civil organizada. Como fazemos isso? A gente busca conhecer o nosso território. Produzimos diagnósticos sociais participativos, ministramos capacitação para organizações da sociedade civil e a gente trabalha o estímulo ao investimento social privado, ou seja, a gente mobiliza recursos para conseguir investir nas comunidades. Assim, a gente está fortalecendo a sociedade civil organizada. Esse é o nosso ciclo de desenvolvimento social: a gente mobiliza e articula para conseguir, de fato, gerar transformação social lá na ponta. É um trabalho contínuo, de longo prazo”.

Conquista de confiança

“Fazemos um trabalho contínuo, de longo prazo. A gente vê o nosso impacto ao longo do tempo. Com relação à cultura de doação, à medida que a gente vai construindo legitimidade, a gente vê que mais pessoas cooperam. O Icom está registrando recorde de doações de pessoas e de empresas. Nos últimos dois meses, temos uma base de 475 doadores pessoas físicas e jurídicas, mas a grande parte é de pessoas físicas. São cerca de 400 pessoas que se sensibilizam, acreditam e confiam no trabalho do Icom”.

Um modelo catarinense

“O Icom foi inspirado no modelo de fundações comunitárias que nasceu nos Estados Unidos e motivou a criação de organizações no mundo inteiro. Mas o Icom, na verdade, é um modelo 100% catarinense porque ele foi adaptado. Cada fundação comunitária responde às demandas locais, à realidade local. Então, ele acaba sendo bem diferente do que o modelo inicial de fundação comunitária. Eu estudei nos Estados Unidos e posso garantir que o Icom é diferente das fundações de lá”.

Trabalho na quarentena

“Estamos todos em home office. Adaptamos nossa rotina para o ambiente virtual. Nosso ambiente físico está fechado. Por exemplo: as consultorias gratuitas que fazíamos no nosso espaço físico foram para o ambiente virtual. Antes, disponibilizávamos para os grupos um espaço físico. Hoje, oferecemos a eles o Zoom. Adaptamos nosso trabalho todo para o virtual e temos conseguido fazer grandes coisas, inovar. Realmente, o lançamento do Banco Comunitário foi tudo de forma remota. A gente tem tido dificuldades para fazer auditorias porque os documentos são físicos. Aí prorrogamos prazos”.

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