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Falta de crédito, transporte, impeachment e desemprego na visão do presidente da Acif, Rodrigo Rossoni

Da Coluna de Estela Benetti (NSC, 16/05/2020)

A Associação Empresarial de Florianópolis (Acif) completou 105 anos quarta-feira, dia 13 de maio. O aniversário contou à noite com edição do DC Live Talks Economia, pelo Instagram do Diário Catarinense, quando o presidente da entidade, Rodrigo Rossoni, tendo como tema central “Visão sobre a retomada da economia”, falou sobre assuntos relevantes do momento em função dos impactos da pandemia do novo coronavírus.

Na entrevista que me concedeu, o presidente da Acif criticou a falta de crédito e demora na retomada do transporte público, defendeu maior ativação do Sapiens Parque, opinou sobre pedidos de impeachment e disse que está na hora de baixar a curva do desemprego porque, em Florianópolis, quase 49 mil pessoas perderam o emprego desde o início do isolamento.

Rodrigo Rossoni, 41 anos, é um empreendedor do setor de tecnologia. Graduado em administração pela Universidade do Estado de Santa Catarina (Esag-Udesc) e em direito pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), ele fundou há quase 16 anos a empresa Cellmidia, de marketing digital, e também investe em outras empresas na área de segurança e proteção de dados. A seguir, a nossa conversa na live:

A Acif completa 105 anos. Como está comemorando a data no atual momento?

Nós estamos aliando momentos de comemoração, com momentos de superação. Essa é a tônica atual.

Nós tínhamos previsto um grande evento para o dia 21 de maio, que seria a data da comemoração. Mas ele foi suspenso por enquanto e estamos aguardando um novo momento para fazer a celebração devida dos nossos 105 anos.

Aliado a isso, estamos exercendo cada vez mais um dos valores da Acif que é a empatia em função do que empresas e trabalhadores da iniciativa privada estão vivendo nesse momento.

Como foi o impacto da crise do coronavírus na gestão da entidade?

Desde o dia 13 de março, quando recebemos o decreto do prefeito – porque Florianópolis foi uma das primeiras cidades do Brasil a fazer isolamento social – nós nos reunimos primeiro online e, no dia 16 de março, às 8h da manhã, nos reunimos na Acif e formamos o comitê de crise. A partir daí, iniciamos uma série de planejamento e ações, tanto para dar suporte aos nossos associados, mas também para colocar os nossos colaboradores em segurança.

Estabelecemos aí um regime de teletrabalho, home office, onde todos foram para as suas casas e, a partir do dia 19, passamos a trabalhar 100% online. Agora, com os novos decretos liberaram trabalho com equipes menores, voltamos a trabalhar em modelo de rodízio. Mas dos nossos quase 80 colaboradores, apenas 4 ou 5 frequentam presencialmente a Acif. Além disso, a entidade tem uma rede com mais de 400 voluntários que se conectam.

Dia 16 de março, fizemos uma reunião com todos os nossos núcleos setoriais e com as nossas regionais e decidimos que não pararíamos as atividades associativas. Transferimos tudo para o online. E assim temos nos reunido. A Acif tem tradição de fazer reuniões todas as terças-feiras, às 19h. Elas estão mantidas, sempre online. Agora, até mais pessoas estão participando, porque conseguem acompanhar online. Está sendo interessante nos aproximarmos dessa rede Acif que está sempre ativa, como uma rede de proteção da família dos empresários, dos empreendedores.

Nessa fase de isolamento, que demandas mais difíceis vocês receberam na Acif?

De fato, quando você tem que fechar a empresa, o faturamento é o primeiro a ser afetado. Logo entendemos que o fluxo de caixa seria o principal problema que os empreendedores enfrentariam e todos os nossos indicadores demonstram exatamente isso. Então, nos posicionamos com nossos parceiros.

Somos a única entidade que criou um fundo de aval para a linha do Badesc. Estabelecemos um fundo de aval para que as empresas pudessem tomar aquele crédito sem a necessidade de colocar aval próprio. Informamos sobre financiamentos com cooperativa de crédito, o próprio Badesc e assim estabelecemos um apoio aos nossos associados. Além disso, isentamos nossos associados de três meses a mensalidade da Acif. Não é um valor alto, R$ 50 é um valor mais simbólico, mas para muitos isso pode fazer diferença no fluxo de caixa. E para a Acif é um investimento importante.

Além disso, como o plano de saúde é muito importante no momento, nos preocupamos muito com a saúde dos nossos colaboradores, dos nossos associados empresários e seus colaboradores. Também iniciamos a busca de informações relevantes, com fontes corretas, para que os associados tivessem, através de um hotsite uma fonte da Acif e oferecemos uma linha de crédito para plano de saúde para aqueles que precisassem atrasar as mensalidades.

Fizemos um plano com a Unimed Grande Florianópolis e com a Sicredi, que formou uma linha de crédito com esse fim. Também melhoramos a comunicação, incentivamos o uso de máscaras, compramos máscaras e distribuímos aos nossos associados. Todas essas ações que precisam conviver entre a proteção à saúde para evitar o contágio, mas de proteção à saúde para proteger a dignidade das pessoas comprometidas com a economia ativa.

Sobre as demandas atuais, o que os governos poderiam fazer para ajudar as empresas e ainda não fazem. Se fala muito da falta de crédito. Esse ainda é o maior problema?

As empresas todas estão sendo obrigadas a se endividar porque não tem outra opção. Nesse momento nenhum governo trouxe dinheiro para as empresas a ponto de elas poderem honrar seus compromissos com algum tipo de incentivo.

Ninguém quer fechar as portas, mas sabe da importância do isolamento e, no momento que foi decretado a gente respeitou. Só que no momento que você decreta um isolamento, tem que vir junto uma medida de apoio aos negócios e isso está demorando muito a chegar.

Então, linhas de crédito baratas são indispensáveis para os empreendedores que estão sendo obrigados a se endividar. Ninguém tinha nos planos, até março, de se endividar na empresa para sobreviver. Uma coisa, para o empresário, é se endividar para investir. Tem o retorno do investimento aí na frente.

Nesse momento, estamos precisando de crédito para sobreviver. Não se trata de falar de lucro nesse momento, muito pelo contrário. As empresas estão se esforçando ao máximo para manter seus colaboradores o máximo que podem, para ter os seus fornecedores em dia, mas, mesmo assim, está bem difícil. Os governos poderiam oferecer crédito com mais eficiência.

Por exemplo, aqui em Santa Catarina, muito pouco foi feito ainda. Tivemos uma linha de R$ 50 milhões pelo Badesc e outra de R$ 50 milhões pelo BRDE com juros subsidiados. Esperamos que venham novas medidas. Em Florianópolis, teve uma linha do Banco do Empreendedor onde a própria Acif aportou aproximadamente R$ 2 milhões para poder emprestar aos microempreendedores individuais através do Juro Zero da prefeitura. Mas precisa mais, para que as empresas que estão sendo obrigadas a tomar crédito nesse momento possam sobreviver nessa pandemia.

Ou seja, aquela promessa do governo federal de R$ 15,9 bilhões, do projeto do senador Jorginho Mello, viria em bom momento?

Com certeza! Uma medida como essa, que traria um fôlego, está demorando muito tempo. O pacto federativo atual faz com que toda decisão seja centralizada. O recurso está lá em Brasília, pouco chega aqui na ponta e estamos sofrendo muito com isso, de fato.

Quase todos os setores econômicos retomaram atividades. Como está o ritmo dessas empresas que voltaram a trabalhar?

Ainda bem lento, apesar de parecer que a retomada já iniciou. Na prática, dependemos muito de setores cruciais, como o próprio transporte coletivo. Eu não tenho notícia de outro lugar do mundo que parou 100% todo o transporte coletivo. Até mesmo a Itália, quando Milão estava tendo um número altíssimo de mortes por dia manteve seu metrô funcionando.

Como fazer isso? Com medidas de planejamento, controle sanitário, mas permitindo que se tenha a convivência com isso. E, na prática, as escolas paradas impactam muito a atividade econômica. Nós, aqui em casa temos dois filhos pequenos (Ana Helena, 6 anos e João Antônio, 4 anos), a gente tem que dar conta deles. É nossa obrigação e um prazer estar com eles mais tempo, mas no final das contas isso nos impede de ter a atividade econômica tradicional, assim como milhares de famílias em Santa Catarina (a Vanessa, esposa de Rossoni, é lojista).

A realidade é que a economia está ainda muito devagar. Muitas empresas do comércio informam que o nível de atividade está 10% ou 15% do que era antes do isolamento. Então, abrir, é só um pequeno efeito do todo.
Ativar a economia toda vai muito além do que abrir parcialmente. Por isso batemos nessa tecla: fechar foi necessário durante um período, mas essa extensão dos fechamentos está durando muito tempo. A gente tem falado que, então, é mais fácil fechar do que planejar.

Precisamos pensar e planejar, encontrar caminhos. É óbvio que todo mundo quer manter a vida das pessoas. Mas isso não depende apenas de um indicador. São diversos indicadores que impactam na vida das pessoas. Quando a gente fala de economia, não estamos conflitando com a saúde. Economia é uma ciência social, que inclui a saúde e é por isso que precisamos ter responsabilidade como gestores de olhar para todos os indicadores que afetam a vida das pessoas e não um único. É isso que temos defendido.

Quando você toma uma decisão de isolamento social, junto a ela é preciso vir um plano e não simplesmente, vamos fazer um isolamento agora e vamos ver depois o que faremos com a economia. Isso não é viável e precisamos de um planejamento de retomada da economia.

Isso, na sua opinião, passa pelo transporte?

Sim. Entendemos que o transporte coletivo não vai operar da mesma forma que antes. Vai precisar de medidas de contenção, como acontece no mundo inteiro. Provavelmente, os ônibus terão que circular com menos pessoas, provavelmente, só pessoas sentadas. Teremos que evitar horários de pico, planejar nova escala de horários.

Tudo isso já está planejado, foi apresentado aos gestores municipais e estaduais há muito tempo e nós estranhamos que esteja levando tanto tempo para encontrar um caminho. As informações estão fragmentadas. Está faltando mais diálogo e entendemos que agora o governo do Estado, pelo menos, colocou na casa civil um associativista, o Amandio João da Silva Junior. Então, esperamos que possa dar um novo rumo ao diálogo com a sociedade civil organizada, os poderes políticos, para que a gente tenha uma retomada efetiva da economia.

Temos setores econômicos que não voltaram ainda e não há expectativa de data, como eventos e feiras que envolvem reunião de pessoas. Como estão essas empresas?

Nós temos muitos associados dos setores de eventos e turismo como um todo. O setor de eventos foi o primeiro a ser fechado em Florianópolis e todo mundo prevê que será o último, depois do transporte coletivo, junto ou depois que as escolas. O impacto sofrido por essas empresas é grande. As empresas estão sem faturamento e seguem sem faturamento há mais de 60 dias.

Evento é aquele tipo de negócio que você tem um caixa negativo durante longo tempo e aí faz o evento e recupera. Em geral é assim. Imagina todos os que tiveram que cancelar seus eventos, que não conseguiram ter faturamento.
É um setor muito abalado, que está precisando de apoio e nós entendemos que isso só será possível com planejamento, consciência e um pouco de boa vontade. Além disso, há o medo das pessoas em sair de casa.

Então, o quanto antes iniciarmos o planejamento efetivo de viabilizar primeiro pequenos eventos. Por exemplo, já é possível voltar a um restaurante com determinadas medidas de segurança, algumas até exageradas, que impedem a pessoa de chegar a um restaurante com a esposa, o marido, companheiro ou companheira e sentar perto na mesma mesa, mesmo que tenham vindo junto, dormem junto. No restaurante tem que ficar a um metro e meio de distância. Eu acho um pouco pior até porque as pessoas podem ficar mais perto de outros. Isso a gente não consegue entender.

Mas esse tipo de situação poderia possibilitar pequenos eventos, educacionais, que permitiriam uma certa retomada da economia, não numa normalidade, mas de um novo normal. É isso que tem se falado muito, de um novo normal.

Florianópolis tem uma economia diversificada, com tecnologia, turismo, saúde, educação e outros setores. É possível manter esse rumo ou é preciso mudar um pouco as estratégias, incluir coisas novas?

Em relação a economia de Florianópolis, vamos precisar fortalecer aquilo que temos de mais forte. É uma necessidade. Sem dúvida nenhuma, investir em setores que já somos fortes é uma necessidade. Bom, aí você pergunta: E o turismo, tão afetado? De fato, o turismo vai precisar da nossa atenção, com estratégias relevantes, de maneira que ele possa voltar a operar.

Então, todas as estratégias para mostrar que Florianópolis é uma cidade amiga do turismo já deveriam estar divulgadas. A gente fala que o setor de tecnologia é fundamental, é um setor transversal e um dos grandes propulsores da nossa economia. Além disso, temos saúde, bem-estar e educação. Temos que fortalecer esses setores porque são eles que vão fazer a economia se fortalecer como um todo. O comércio, a economia depende desses setores.

Turismo e tecnologia são setores exportadores, ou seja, eles exportam serviços e produtos, as pessoas vêm de fora e aumentam a riqueza para a nossa cidade. Então, é muito importante que a gente consiga retomar a atividade econômica com as nossas forças.

Na sua avaliação, Florianópolis poderia ter um pouco mais de indústria, tanto na Ilha quanto na região continental. Indústrias de ponta, não poluentes como de medicamentos, tecnologia e outras. Como você vê isso?

Com muito bons olhos. Nós temos em Florianópolis um parque tecnológico que tem um histórico forte em tecnologias limpas. Cada vez mais, a agregação de valor vem por meio desse tipo de investimento, de aplicação tecnológica. No setor de saúde, por exemplo, fortalecer a cadeia como um todo vai permitir que indústria de medicamentos, farmacêuticas, possam se instalar na cidade.

Nós temos um grande ativo, que é o nosso Sapiens Parque, em Florianópolis, um dos maiores empreendimentos imobiliários do Brasil hoje, que precisa ser fomentado da maneira correta. A Acif faz parte do conselho de administração do Sapiens. Eu represento a entidade e vemos a dificuldade de ativar aquele nosso ponto estratégico que pode ser um propulsor da economia, não só de Florianópolis, mas de Santa Catarina como um todo.
Ali se instalando indústrias limpas, convivendo com pessoas, o turismo conectado, tudo isso poderia fazer uma grande diferença e é assim que a gente enxerga o eixo de desenvolvimento da nossa cidade daqui para a frente. São visões estratégicas que precisam se coordenar e estarem unidas para levar a nossa cidade adiante.

Se fala que muita coisa na economia mundial vai mudar após a pandemia, que a China deixará de ser a grande fábrica do mundo, que vamos ter muita produção local. Como você vê isso para o futuro da economia de Santa Catarina e do Brasil?

Em crises que têm começo, meio e fim você busca resiliência para enfrentar a crise e encontrar as oportunidades. Sem dúvida, as cadeias econômicas de valor e fornecimento tendem a buscar seus backups, suas estruturas de apoio para que momentos como esse sejam evitados. Então, nós acreditamos que Florianópolis e Santa Catarina, que têm um histórico de economia muito equilibrado, com mão de obra qualificada, terão uma grande oportunidade de estabelecer novas cadeias produtivas aqui e levar para o mundo inteiro.

Mas para isso, precisamos reduzir muito o custo Brasil. Reformas são indispensáveis porque para enfrentar a pandemia estamos abrindo a torneira do gasto público e isso pode se tornar um revés catastrófico ainda maior aí na frente. Para o Brasil aproveitar as oportunidades que a crise está gerando ao mundo nós precisaremos nos organizar e, infelizmente, o clima de disputas políticas está atrapalhando muito, tanto nacionalmente, quanto localmente.

Você acredita que é preciso reduzir ainda mais o gasto público, além de fazer as reformas que faltam?

O gasto público é um dos maiores malefícios que temos na nossa sociedade atual. Um Estado mastodôntico, ineficiente, precisa ser enxugado, sem dúvida nenhuma porque ele não traz benefícios aos cidadãos. Veja que nesse momento de pandemia, o maior problema que se popularizou é o tal do achatamento da curva. O Brasil é um dos países com maior número de UTIs. Mas ainda assim o nosso sistema de saúde é muito capenga em diversos aspectos.

Se você olhar todos os gráficos de achatamento, eles mantêm o sistema de saúde estável, com uma capacidade muito pequena de fazer crescer, que é a única variável controlável que nós temos. Isso porque falta dinheiro para a saúde. E porque falta? Porque gasta mal, gasta muito em áreas que não são estratégicas para o nosso Estado. E, agora, quando chega um momento desses, estamos capengas porque precisa fazer isolamento social, mas não tem recursos para oferecer para as empresas poderem ficar fechadas por um tempo, não tem como aumentar o sistema de saúde para atender a população.

Então, o gasto público deve ser extremamente analisado pelos gestores, a população precisa, cada vez mais, estar atenta a isso porque o orçamento público é muito pouco discutido. Então, nós defendemos fortemente a reforma da Previdência do Estado, que ainda não foi feita, a reforma da Previdência dos municípios e, num modo muito mais austero, do que vinha sendo proposto. Isso porque já vínhamos de um ano com previsão de déficit. Agora, será ainda maior. E quem paga isso? Quem paga é a população.

Independentemente de qualquer coisa, qualquer gasto público não é grátis e a população precisa ter essa noção de que não existe nada gratuito oferecido pelo Estado. Alguém está pagando por isso e são as pessoas, por meio de impostos arrecadados nas vendas de bens e serviços. Essa ideia precisa estar cada vez mais viva na mente das pessoas, para que elas possam começar a cobrar dos políticos uma gestão pública eficiente.

O gasto público precisa ser controlado sempre. Num momento de pandemia, precisamos de um olhar diferente, especial e pontual, mas não que isso possa perdurar. A gente entende que num momento de pandemia, quando você obriga que a economia pare, de algum lugar tem que vir o recurso. Como a gente sempre gastou mal, não tem recurso do município, nem do Estado. Aí depende do governo federal e, ainda assim, com grandes restrições. Isso tudo motivado pelo gasto público desenfreado dos últimos 25 anos.

Temos crise política no Estado, com denúncias sobre compras para a saúde, e temos crise nacional, com o presidente da República defendendo a sua família, esquecendo de valorizar a vida, a pior situação do mundo, de um presidente que não está ligando muito para a saúde das pessoas. Como você vê essas crises?

Nós temos um olhar de que o aproveitamento político neste momento só traz prejuízo para a vida das pessoas. Então, não era momento de o presidente ter posicionamento tão polêmico, mas também não era o momento de os seus opositores fazerem uso errôneo disso. Alguns dos pronunciamentos do presidente foram muito infelizes, mas outros olharam para a vida das pessoas de uma maneira mais ampla. Então, a gente consegue enxergar o valor em algumas dessas manifestações e, em alguns momentos, elas foram deturpadas.

Além disso, localmente estamos vivendo uma situação muito difícil porque não é momento para iniciar processo de impeachment, precisa ampliar as investigações. O processo de impeachment é político, seja nacional ou aqui no Estado. Isso, num momento de pandemia, quando todas as vidas estão fragilizadas, as pessoas com medo, iniciarmos a disputa de cabo de guerra, vai trazer um prejuízo muito maior para a nossa população.

Na nossa visão é que, sim, contra a corrupção devem ser tomadas todas as medidas e isso deve ser apurado através de nossas instituições preparadas para isso. Mas se vier a ter qualquer tipo de evidência, que até agora não vi, do envolvimento dos mandatários, aí deveríamos tomar medidas mais drásticas como um processo de impeachment.

A nossa posição é de que esse é um momento de união e não de desagregação. Então, enxergamos como oportunismo muito do que tem sido feito nas esferas estaduais, com esses processos de impeachment. Há fatos narrados muito negativos, mas levar direto para o impeachment é um aproveitamento errôneo. Nós precisamos de tantas coisas agora, de atenção à saúde, às pessoas e à economia, e os políticos vão começar a discutir que o nosso mandatário pode sair. Imagina a crise que vamos viver sem saber quem será o mandatário e ele sem o poder para tomar decisões para enfrentar a crise. Estou falando aqui do Estado.

E, nacionalmente, penso que a união é mais importante. O presidente precisa parar com as polêmicas, mas também os seus opositores deveriam olhar para a população com olhar de maior empatia e buscar atender a a população. Um pouco mais à frente terão momento para debater mais a política.

A expectativa é de que após a pandemia as empresas precisarão mudar de estratégias porque o consumidor será diferente, as pessoas serão menos consumistas, valorizarão mais a família… O que se espera dessa nova economia?

Acredito que todas essas tendências estão postas na prática. Eu nunca vi tantos estudos de tendências para a gente ter acesso a informações qualificadas. Isso permite a gente se preparar melhor, planejar melhor. O que acontece que, olhar para o futuro, em meio ao furacão, é desafiador. Nós entendemos que o comportamento das pessoas já se moldou a uma nova realidade. O medo, que existe hoje, vai passar. Nós queremos viver em sociedade. Os canais digitais que passaram a ser mais utilizados, vão continuar.

As pessoas aprenderam a trabalhar à distância. O isolamento acelerou, sim a digitalização. Nós teremos um olhar para as famílias de uma nova maneira. Na primeira semana de isolamento estava quase um clima de férias. Aí quando todos foram para casa mesmo, tiveram que conviver com as suas famílias. A gente está vendo que em muitos casos o stress aumentou, mas vamos falar sobre tendências de consumo.

As pessoas estão aprendendo a ficar em casa, com seus familiares e, ao mesmo tempo trabalhar. Isso cria novas oportunidades para soluções. Nós também temos incentivados os nossos associados a não pararem, se adaptarem ao momento, buscarem oportunidades, olharem para os canais digitais para encontrar seus clientes, se comunicar como nunca tinham feito isso antes.

É uma oportunidade para inovar?

Inovar é indispensável, sempre, independente das tendências.

Se você soubesse cinco anos antes que a humanidade enfrentaria uma pandemia que impediria as pessoas de saírem de casa, como teria preparado a sua empresa e a sua família para enfrentar isso?

Primeiro, teria dado atenção para fortalecer o caixa da empresa e avançar ainda mais nas práticas de relacionamento online, nos canais online dos nossos clientes. No sentido pessoal, possivelmente, outros países que têm uma cultura que já passaram por problemas similares, a H1N1, a Sars, que já tiveram maiores impactos de pandemias, já se prepararam com medidas sanitárias. Você pode ver que os povos orientais usam mais máscara, evitam contato, evitam sair na rua quando estão gripados. Não é só pelo fato do coronavírus, outras doenças também são transmissíveis.

Eu só fico meio receoso que, se eu pudesse me antecipar, e olhando daqui para a frente, daqui a cinco anos, eu fico pensando se isso geraria mais medo. Por outro lado, decisões mais drásticas, até desnecessárias, seriam tomadas. Mas, sem dúvida nenhuma, fortaleceria o caixa da empresa para poder viver um momento como esse e preparar planos de contingência.

Nós teremos que aprender a elaborar mais planos de contingência. Outros povos estão mais safos nisso. No caso de uma empresa, pode planejar como ativar cadeia de fornecedores, se o seu cliente não puder acessar sua empresa, como você vai atende-lo, como proteger os colaboradores e a família. Eu teria me preparado lá atrás e farei daqui para a frente, para que a vida das pessoas seja sempre preservada em primeiro lugar.

Você acredita que isso vai acontecer também com as famílias. Elas vão passar a cumprir aquele conselho dos especialistas em finanças de que é preciso ter reserva de seis meses de salário, ou de 12 meses?

Eu acredito que sim. Muitas pessoas vão sentir na pele. Temos pesquisas feitas pela Acif. Não divulgamos porque não eram de institutos famosos. Mas, sem dúvida, temos uma tendência de mudar as práticas de poupar e de passar a cuidar das finanças pessoais com maior critério. Eu acredito ainda que uma boa parte da população ainda não sentiu essa crise ou porque está recebendo seguro-desemprego, ou o apoio do governo. Ainda acreditam que a economia é um seletor de liga e desliga, o que é um grande erro. Não existe isso de ligar e desligar.

Imagina nós, que Santa Catarina estamos com mais de 500 mil desempregados. Florianópolis, te dou em primeira mão. Fizemos a pesquisa junto com o Sebrae-SC e o extrato para Florianópolis é de 48 mil, quase 49 mil desempregados. Isso não é um liga e desliga. Mais de 2 mil empresas da cidade foram fechadas e não vão reabrir as portas. Isso vai impactar na vida das pessoas e não vai ser fácil essa retomada. Ou melhor, tomara que ela seja fácil.
Acreditamos que está demorando, por parte do poder público, colocar na pauta isso. Todos os dias, temos lives por parte do poder público colocando qual é a situação da saúde e, especialmente, dessa doença. É como se não existissem todas as outras doenças, mas elas existem. Muitas pessoas estão procurando atendimento por problemas psicológicos. Isso, nas manifestações, é como se não fizesse parte da saúde das pessoas.

Outro fator: nas lives de governantes, recebemos informações de que temos tantas pessoas que perderam a vida pela Covid-19 e faleceram, o que é uma grande tragédia. Mas nenhuma delas foi por falta de atendimento. Vieram a falecer porque a doença é muito severa. A capacidade do sistema de saúde de Santa Catarina está ociosa. Será que não vai fazer falta lá na frente?

Outra coisa: será que o desemprego não vai impactar na vida das pessoas? Acreditamos que sim. Será que não era bom incluir outros indicadores, outras curvas? Ninguém está olhando a curva do desemprego, que está crescendo de maneira assustadora. Agora é hora de achatar a curva do desemprego e voltar a conviver de uma maneira saudável com a economia para que as pessoas tenham, com responsabilidade, a possibilidade de manter o seu sustento e a sua dignidade.

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