Da Coluna de Dagmara Spautz (NSC, 10/07/2019)
A Epagri acaba de apresentar os resultados de um estudo, feito em Bombinhas, que comprovou que as fazendas de mexilhões de Santa Catarina estão sendo dominadas por uma espécie exótica, nativa da região do Prata. Os pesquisadores suspeitam que o aumento no aparecimento dos moluscos esteja relacionado ao aquecimento global, e agora pretendem estender a pesquisa para áreas de cultivo em Penha, Palhoça e Florianópolis, que lideram junto com Bombinhas a produção de mexilhões no Estado.
Alex Alves do Santos, pesquisador do Centro de Desenvolvimento em Aquicultura e Pesca da Epagri (Cepad) explica que as larvas do mexilhão do Prata viajam por meio da “pluma”, uma corrente de água doce formada pela água que desce das geleiras, no extremo Sul do planeta. Há relatos de aparecimento da espécie no Litoral de SC desde o final do século 19, mas nunca em tão grande quantidade. Uma das hipóteses levantadas pelos pesquisadores é que as mudanças no clima da Terra aumentem o degelo e, consequentemente, o volume da pluma, carregando os moluscos mais longe do que o normal.
Não há risco para consumo, afirma pesquisador
Em Bombinhas, onde ocorreram os estudos, 80% dos 60 pontos de cultivo tinham a presença do molusco exótico – e em uma proporção de 69% para 31% da espécie nativa, em média. O “pretinho”, como é chamado o marisco pelos produtores, é parecido com o espécime nativo em formato e tamanho, mas tem a concha preto-azulada, enquanto o molusco local é marrom avermelhado ou marrom escuro. Os dois têm sabores semelhantes quando consumidos frescos, mas a carne do pretinho esfarela se for cozida e congelada, perdendo a textura macia. O que não ocorre com o marisco nativo.
O pesquisador da Epagri diz que não há nenhum impedimento ao consumo do mexilhão do Prata.
– Eu não diria que é uma praga, porque não está matando ou intoxicando (a espécie nativa). Está competindo por espaço – explica.
A grande incidência do mexilhão na Praia de Canto Grande, em Bombinhas, onde a média anual de temperatura da água é mais baixa do que outras praias da região (23º) leva os pesquisadores a concluir que, por ser de regiões frias, a espécie prefere temperaturas mais baixas para proliferar. Os verões quentes têm evitado que se alastrem pelo Litoral de outros estados brasileiros.
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