Vinte dias após atingir os alicerces políticos de Santa Catarina com a Operação Alcatraz, a Polícia Federal abalou Florianópolis ao desencadear a Operação Chabu na manhã desta terça-feira (18). Realizada para combater a prática de uma suposta organização criminosa que violava o sigilo de operações policiais em Santa Catarina, a operação deteve sete pessoas temporariamente, entre elas, o prefeito de Florianópolis, Gean Loureiro (sem partido).
Detido pela manhã, ele foi solto por volta das 21h e, em coletiva à imprensa, disse que no dia de ontem foi cometida “a maior injustiça da minha vida”. A defesa de Gean irá até Porto Alegre hoje para tentar reverter a decisão judicial sobre o afastamento da prefeitura. Por enquanto, quem assume o cargo é o vice-prefeito João Batista Nunes (PSDB).
O despacho do TRF-4 (Tribunal Regional Federal), em Porto Alegre, afastou Loureiro das funções de prefeito por 30 dias. Gean também fica proibido de fazer contato – seja presencial, por telefone ou mensagem, pessoalmente ou por terceiros – com os demais envolvidos na investigação.
Apesar de ter o pedido de prisão temporária expedido pelo TRF-4, Gean não chegou a passar a noite na sede da PF. De acordo com o advogado do prefeito, Diogo Pítsica, na decisão que determinou a detenção, havia a prerrogativa de que o delegado poderia liberá-lo se assim entendesse pertinente. O advogado disse que até ontem não havia tido acesso à decisão.
Na coletiva, o prefeito destacou que a prisão foi um grande equívoco. Ele destacou que seu depoimento mostrou que não há envolvimento seu, da prefeitura ou de recursos públicos. Cansado, mas sereno e confiante de seus atos, Gean Loureiro disse que esse foi o dia mais infeliz de sua vida e que nunca irá esquecê-lo.
“Foi um dia muito triste para Florianópolis e me sinto muito injustiçado, não só eu como toda minha família e grande parte da população da cidade que não compreendeu a divulgação do mandado de prisão do prefeito de Florianópolis”, desabafou.
Confira os principais pontos da entrevista com o prefeito:
Como ocorreu essa prisão? O senhor sabia do que se tratava?
Não sabia. A Polícia Federal foi [na terça-feira] cedo na minha casa, pediu todos os documentos que achava necessário e eu forneci todos, inclusive computadores,celular e todas as senhas. Perguntei se precisavam de mais alguma coisa e então, após pegar os documentos, me informaram que existia um mandado de prisão e que o primeiro passo desse mandado era um depoimento na sede da Polícia Federal, então fui junto com eles até lá.
Chegando lá aguardei mais ou menos uma hora, havia muita movimentação de policiais federais de fora e então prestei o depoimento que durou em torno de quatro horas, durante o qual respondi umas 70 perguntas. Depois disso, o delegado instrutor me pediu que nem assinasse o Guia de Recolhimento de Preso, porque não tinha visto nenhum fato no meu depoimento que justificasse que eu fosse preso.
E o próprio delegado assinou a revogação do mandado?
Conversamos com o delegado coordenador da Operação e esclarecemos todos os fatos. O próprio delegado instrutor apontou que o depoimento deixava claro que eu não tinha nenhum envolvimento com os fatos apontados no mandado de prisão e de busca.
O coordenador disse que era preciso aguardar a conclusão dos outros depoimentos para verificar se as informações batiam e só então poderia decidir sobre a revogação da prisão. Quando concluíram os depoimentos recebemos a informação de que não seria necessário eu ficar preso.
Além da prisão temporária, o TRF-4 determinou o afastamento das funções de prefeito por 30 dias. Como fica a situação agora?
Nós não tínhamos conhecimento desse afastamento, nem o delegado tinha, porque o oficial de Justiça chegou quando já estávamos saindo da sede da PF. Como a questão principal que era o mandado de prisão foi revogado, acreditamos que essa questão acessória também será revertida.
Amanhã [nesta quarta],o meu advogado vai a Porto Alegre tentar conversar com o desembargador do TRF-4 para mostrar que a prisão foi um equívoco e que a própria PF já reviu seu posicionamento em relação a isso. Até termos essa resposta, quem assume a prefeitura é o vice-prefeito [João Batista Nunes].
Quais os pontos principais abordados no seu depoimento?
Foram três fatos principais. O primeiro era sobre um suposto envolvimento meu com um delegado da PF e que teria participado de uma reunião sobre um projeto chamado Meta 21, que traria recursos internacionais para a prefeitura de Florianópolis.
Eu participei dessa reunião há cerca de um ano, conheci o projeto e achei meio sem lógica porque queriam fazer investimentos e os recursos poderiam ser aplicados em qualquer área e que precisaríamos apresentar um projeto em cerca de uma semana.
Acabamos não participando desse projeto porque não demos credibilidade e havia muita insistência dizendo que os recursos iriam vir. Aparentemente, a PF estava buscando informações sobre a origem desse dinheiro e a participação desse delegado da PF junto com o pessoal desse Meta 21.
O segundo fato era a suspeita de que eu teria vazado informações de segurança sobre uma operação chamada Emergência, da qual nunca ouvi falar, nem conheço as pessoas, não tenho relação nenhuma com elas. O terceiro ponto era de que teria sido construída uma sala segura para serviços de contrainteligência, dentro da prefeitura. Nunca tive isso, nunca solicitei, não existe isso na prefeitura e os agentes da PF que revistaram toda a prefeitura confirmaram que realmente não existe.
Mas a PF não explicou do que se tratava a Operação?
Não conheço os fatos porque não tivemos acesso à denúncia, aos autos nem ao processo. Mas a PF foi muito gentil e educada comigo e não me destratou em nenhum momento. Felizmente, evitaram a injustiça de ter me colocado numa cela e depois ver que não precisava. Pude ligar para minha família, tranquilizar a todos e viram que fui muito transparente.
Eu estava calmo, mas me senti muito injustiçado, porque saiu minha imagem em nível nacional e no momento em que você é preso já se pensa em desvio de dinheiro público ou que a pessoa roubou alguma coisa, mas não está configurado nada disso. Só sei que o processo não tem relação nenhuma com a prefeitura, nem com a minha pessoa ou com meus recursos ou da prefeitura.
O senhor conhece as demais pessoas presas?
A PF me perguntou se eu conhecia umas dez pessoas. Eu conhecia cinco: o dono da Nexxera, o delegado da PF [por causa daquela reunião que falei], o José Augusto [Alves] que participava das campanhas, o Luciano Veloso e a Romanna Remor [ex-secretária estadual de Assistência Social]. Os demais não conheço.
Qual o impacto disso na imagem do prefeito e no processo eleitoral do ano que vem?
Meu objetivo é cumprir o mandato na plenitude. A reeleição é consequência desse processo. O mandado de prisão não se cumpriu na integridade. Eu acredito que, como a população confia na minha pessoa, vou sair fortalecido demonstrando que não tenho nenhum problema. Foi uma injustiça cometida comigo e existe uma ‘condenação pública’ quando sai uma informação de um mandado de prisão. Mas eu tenho convicção da minha honestidade.
(ND, 19/06/2019)
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