Com 10 meses para o prazo de conclusão da reforma da Ponte Hercílio Luz, em Florianópolis, o governo do Estado apresentou nesta quarta-feira uma nova proposta de uso da estrutura depois que ela for entregue. O Departamento Estadual de Infraestrutura (Deinfra) promete concluir a obra em dezembro deste ano. Os projetos de utilização da ligação entre Ilha e Continente foram divulgados em um simpósio proposto pelo vereador da Capital, Maikon Costa (PSDB), ocorrido na Assembleia Legislativa de Santa Catarina (Alesc).
A Superintendência de Desenvolvimento da Região Metropolitana da Grande Florianópolis (Suderf), órgão ligado ao Estado, sugeriu no encontro o uso dividido das duas pistas, sem exclusividade para um ou outro modal. A proposta é que uma faixa da Hercílio Luz no sentido Continente-Ilha seja totalmente destinada aos ônibus. Assim eles entram na parte insular e já se dirigem para o Terminal Integrado do Centro (Ticen). Para saírem da Ilha, os coletivos devem usar a Ponte Colombo Salles, onde seria destinada uma pista exclusiva para eles.
Na outra faixa da Ponte Hercílio Luz, explica Célio Sztoltz, diretor técnico da superintendência, o tráfego seria misto. Ou seja, carros e motos teriam acesso livre. O uso por cada um dos modais vai variar conforme dias e horários (veja abaixo a tabela sugerida pela Suderf):
— A pista seria reversível. No horário da manhã ela poderia ser usada pelos veículos para entrar na Ilha. E no final da tarde para sair.
A abertura do tráfego, no entanto, seria gradual. Nos primeiros 60 dias a ponte seria totalmente dedicada a pedestres e ciclistas. Essa também é a ideia da prefeitura:
— No começo não há nem como pensar em colocar veículos. Precisará haver um espaço de tempo para o reencontro das pessoas com a ponte — explica o diretor da Região Metropolitana do Ipuf, Michel Mittmann.
A partir do terceiro mês, propõe a Suderf, podem ser liberados os ônibus com linhas municipais de Florianópolis e metade das linhas de ônibus intermunicipais, além de carros e motos. Estes últimos, no entanto, seriam limitados a 600 veículos/hora. O órgão pondera que é fundamental monitorar os fluxos de pedestres, ciclistas e veículos motorizados na ponte e nas cabeceiras durante os primeiros 180 dias.
Na apresentação desta quarta-feira, Sztoltz diz que o entendimento do órgão é que as definições de uso iniciais devem se basear nas necessidades atuais e, alteradas as demandas prioritárias na região ao longo do tempo, certamente deverão ser revistas as prioridades, provavelmente com a proibição completa do tráfego de carros e motos.
Na visão do diretor técnico, a ponte precisa ser pensada principalmente para os moradores da Grande Florianópolis. Segundo estudos da Suderf, 57% das 300 mil viagens diárias de entrada e saída da Ilha são feitas basicamente por moradores de São José, Biguaçu e Palhoça.
Ponte deve ser para ônibus, pedestres e ciclistas, diz Ipuf
O projeto é diferente do Instituto de Planejamento Urbano de Florianópolis (Ipuf), setor da prefeitura, que defende o tráfego exclusivo de transporte coletivo, pedestres e ciclistas. Quem passar com bicicleta e a pé vai circular pelas laterais, com espaço específico. Depois de uma avaliação prévia por alguns meses, carros e motos poderiam entrar na ponte caso ficasse comprovada a necessidade e o baixo impacto.
O Ipuf voltou a defender o projeto desenvolvido desde o ano passado para que a Hercílio Luz integre uma proposta maior de mobilidade urbana. Para isso, Mittmann reforça a intenção da prefeitura de ter a estrutura somente para pedestres, ciclistas e transporte coletivo. Um exemplo citado pelo diretor foi a Tilikum Crossing, ponte da cidade de Portland, no Estados Unidos, onde o modelo aplicado é esse.
— A ponte pode ser vista como um símbolo de contemporaneidade. Precisamos revisar nosso modo de ocupação. Se colocarmos modais com mais eficiência, ocuparemos menos espaços — aponta Mittmann.
O estudo da prefeitura revela um dado preocupante: com carros sobre a ponte, a fila na entrada da Ilha pode chegar a 12 quilômetros. Nos primeiros três meses, diz o técnico, a sensação deve ser de alívio do trânsito, mas depois disso o tráfego na região ficará saturado.
Obra entra na reta final
Passadas as etapas consideradas mais críticas de reforma da ponte, a obra entra agora na reta final. Nos próximos dias os operários vão usar macacos hidráulicos para içar as quatro rótulas das duas torres. Elas foram reformadas, e agora as peças de apoio serão substituídas, conforme o engenheiro do Deinfra responsável pela fiscalização da execução da reforma, Wenceslau Diotallevy.
A previsão dos engenheiros é liberar o trânsito na ligação em dezembro. Os serviço estão a cargo dos portugueses da Teixeira Duarte. O atual contrato foi assinado em abril de 2016, com conclusão em outubro de 2018, mas o prazo foi prorrogado para dezembro.
Entidade empresarial defende uso para carros
Entre as entidades presentes no evento, a Federação das Associações Empresariais de Santa Catarina (Facisc) se posicionou contra a utilização exclusiva para o transporte coletivo. Vice-presidente de infraestrutura, André Gaidzinski, defende que a obra deve ser utilizada para atender os veículos automotores e ter as laterais para os pedestres e ciclistas.
— A ponte poderia ser usada apenas para fins turísticos e de lazer se tivéssemos outras opções, mas a capital atende demandas de todo o Estado e temos a necessidade urgente de desafogar o trânsito. Por isso não podemos ser irresponsáveis restringindo algo que é de todos e tornando a ponte um objeto turístico. Precisamos de soluções para melhorar a mobilidade e a obra foi um grande investimento, por isso deve atender o seu fim principal que é ligar o continente à Ilha.
Como seria o uso da ponte:
1) DIAS ÚTEIS:
Faixa exclusiva ônibus sentido Ilha das 6h às 21h
Faixa trânsito misto sentido Ilha das 6h às 16h
Faixa trânsito misto sentido Continente das 16h às 21h
Aberta para fluxo misto em dois sentidos das 21h às 06h
2) SÁBADOS:
Faixa exclusiva ônibus sentido Ilha das 6h às 14h
Faixa trânsito misto sentido Ilha das 6h às 14h
Ponte fechada para veículos automotores após as 14h
3) DOMINGOS:
Ponte fechada para veículos automotores
Abertura em etapas:
a) Primeiros 30-60 dias: fechada para tráfego de veículos motorizados
b) Entre 60 e 120 dias:
Abertura para as linhas de ônibus municipais de Florianópolis
Abertura para metade das linhas de ônibus intermunicipais
Abertura para carros e motos – limitado a 600 veículos/hora
c) Entre 120 e 180 dias:
Abertura para mais linhas de ônibus intermunicipais
Ampliação da abertura para carros e motos
d) Após 180 dias:
Avaliação dos fluxos e revisão da operação
(DC, 28/02/2018)
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