Grandes manchas esbranquiçadas, acompanhadas de lixo, saíram do rio Ratones e se espalharam pelo mar de Sambaqui nesta quarta-feira (13.1), assustando moradores e gerando comentários de que o esgoto de Canasvieiras havia chegado. O buchicho não estava errado. O Daqui na Rede colheu uma amostra do material, que também se acumulou na areia da Ponta do Sambaqui, e levou até a Estação Ecológica (Esec) de Carijós. Analistas ambientais do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) facilmente identificaram que se tratavam de plantas macrófitas aquáticas, o primeiro sinal de excesso de matéria orgânica na água, ou seja, esgoto.
O biólogo José Olimpio da Silva Jr, coordenador de projetos da consultoria Socioambiental e morador do bairro, confirma que essas plantas aparecem quando há nutrientes como fósforo e nitrogênio em demasia. Como publicado em reportagem nesta terça (12.1), análises do ICMBio e da Fundação do Meio Ambiente do Estado de Santa Catarina (Fatma) já mostraram presença excessiva de fósforo e óleo, entre outros componentes, no esgoto tratado pela Companhia Catarinense de Águas e Saneamento (Casan) e jogado nos rios do Bráz e Papaquara.
Uma das medidas emergenciais que a Prefeitura de Florianópolis tomou para tentar conter o escândalo da poluição no Norte da Ilha foi a desobstrução de canais que ligam a Estação de Tratamento (ETE) de Canasvieiras ao rio Papaquara, conectado ao rio Ratones, que passa por dentro da Esec de Carijós e deságua entre a Ponta do Sambaqui e o Pontal da Daniela. De acordo com a legislação vigente, o Papaquara não poderia receber nenhum efluente, nem que esse fosse 100% limpo, pois é um rio de classe 1.
José Olimpio ressalta que o Papaquara já sofre com o surgimento ocasional de plantas macróficas, o que é agravado pelo aumento da quantidade de esgoto, de calor e de chuva. Analistas ambientais do ICMBio explicam que as macrófitas reduzem o nível de oxigênio da água, o que, em casos extremos, pode levar à morte de animais e do curso d’água, por eutrofização.
Comunidade está em alerta
O aparecimento das manchas nesta quarta, logo após o escândalo do rio do Bráz estourar, alarmou a comunidade. Frente à incerteza do que estava acontecendo, as atividades do Stand Up Paddle (SUP) Sambaqui foram paralisadas. A proprietária Débora Machado Dutra pegou uma prancha e foi até uma das manchas. “Quase chorei quando cheguei lá. Era muito grande e muito sujo”, conta.
Outros moradores fotografaram o fenômeno e postaram, nas redes sociais, imagens e mensagens como “Inacreditável o que está acontecendo com nossa cidade!”. Os pescadores da região trataram de acalmar as pessoas, dizendo que era “água do monte”, água doce que desce de rios e riachos para o mar depois de grandes chuvas, diminuindo a salinidade. Desta vez, misturada a essa “água do monte” estavam os nutrientes provenientes do esgoto que provocaram o crescimento desordenado das macrófitas.
( Daqui na rede, 13/01/2016)
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