Avaliar em 320 km da costa as condições ambientais e do cultivo dos moluscos e mexilhões bivalves em Santa Catarina: este foi o impulso para a tese do pesquisador João Guzenski, doutor em Geografia pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), orientada pelo professor Jarbas Bonetti Filho. Um dos dados mais impactantes do estudo foi a ocorrência de algas nocivas em 97% das áreas de cultivo, durante o período de estudo.
A produção de peixes, crustáceos, mexilhões, moluscos e seres aquáticos em geral é o que engloba o setor da aquicultura. Em 2010, segundo levantamento da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), o Brasil foi o 14º produtor mundial desse setor, e, uma vez que 95% da produção do país é proveniente de Santa Catarina, Guzenski destaca a importância de identificar vulnerabilidades das áreas. A tese estuda as questões de temperatura, salinidade, índices de clorofila, concentrações de coliformes fecais e análise da presença de algas nocivas à saúde.
O pesquisador iniciou a coleta de dados em 2007, quando ainda não havia regulamentação oficial da maricultura no estado. Apenas a partir de 2012 há uma estrutura formada, que são as concessões de área para os produtores. “Antes era como se as pessoas tivessem área disponível e colocassem lá os moluscos sem praticamente ter autorização. Conhecidos os lugares da costa que tem mais aptidão, começou-se a demarcar os parques aquícolas e, dentro dos parques, as áreas”, explica. Uma parceria entre o governo estadual e federal demarcará 812 fazendas marinhas, beneficiando 700 famílias de produtores em 12 municípios, entre Palhoça e São Francisco do Sul. O anúncio foi feito pelo governador Raimundo Colombo e o secretário de Estado da Agricultura e da Pesca, Moacir Sopelsa, durante o Seminário Técnico da Fenaostra, no dia 16 de setembro.
Guzenski afirma que, a partir do momento em que os produtores forem transferidos para as áreas sinalizadas, será possível ter um controle maior da produção. Eles poderão solicitar crédito, estar regulamentados, e ter rastreabilidade para saber toda a trajetória dos moluscos e mexilhões até chegar à mesa do consumidor. A fiscalização também evita outro tipo de problemas, que acontece quando há transferência de organismos de uma área para outra descontroladamente. Alguns lugares já são apontados como ocorrência maior de floração de algas nocivas, e é um risco transportar moluscos de um local que tem essa floração para outro ambiente.
As algas nocivas (Dinophysis acuminata), mais conhecidas como maré vermelha, não causam problemas aos moluscos e mexilhões, mas provocam sintomas de vômito, náuseas e diarreia, para quem os consumir. Em 97% das áreas pesquisadas foi identificada, em algum momento do levantamento, em nível de alerta, a presença dessa alga. As contagens acima de 500 células por litro indicam grau de alerta. Segundo dados do Sistema de Informação de Agravos de Notificação Sinan/SC, em 2007 e 2008 houve seis surtos de contaminação pelo consumo de moluscos com a toxina Diarrheic Shellfish Poisoning (DSP) em Santa Catarina, atingindo 169 pessoas. Na maioria dos casos, o molusco era proveniente de costão, que não era corretamente monitorado, e o consumo tinha sido feito em casa.
A principal conclusão da tese é de que a melhor saída para as questões de temperatura, salinidade e pH é a inviabilização das áreas desfavoráveis ao cultivo. Além disso, segundo o pesquisador, é necessária a fiscalização da produção para ter crescimento planejado, sem gerar impactos negativos na cadeia produtiva. Já as algas possuem um ciclo de vida muito rápido: depois da floração elas morrem e se dissipam pela água, mas, enquanto o ambiente apresentar condições propícias ao desenvolvimento, elas continuam a se multiplicar. A coleta de amostras de água é feita quinzenalmente por laboratórios regulamentados, e a análise tem obtido bons resultados quanto à prevenção de casos de poluição.
Mais informações neste link.
( Portal da Ilha, 29/10/2015)
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